Soubemos sofrer!...
Pese embora a eventual adequação técnica do duplo amarelo a Gonçalo Inácio, [o árbitro] não teria a mesma atitude se a cor das camisolas fosse outra
NÃO tenho por hábito revelar, ou comentar, os comentários que pessoas adeptas ou não de futebol, afectas ou não ao meu clube, fazem aos meus artigos. Há quem goste e quem não goste, aceito todas as críticas e tenho por hábito agradecer o que tenho para agradecer. Com tudo se aprende!
No passado sábado apelei à capacidade de todos sportinguistas, incluindo equipa técnica e jogadores, no sentido de saber sofrer, não só com o jogo de Braga, no dia da Liberdade, igualmente sofrida, mas conseguida, há quarente e sete anos.
Nunca uma crónica minha, passe a imodéstia, terá tido tanta oportunidade como aquela, porquanto aquilo que se passou no dia seguinte, e que deu os tão desejados três pontos, foi uma clara demonstração da nossa capacidade de sofrer. Não há campeões sem sofrimento e por isso, quando terminou o jogo, não consegui deixar de pensar, e agora revelar, que podemos ser campeões e merecemos ser campeões. Não fiquei eufórico, mas fiquei convicto de que é possível, desde que mantenhamos a solidariedade, a unidade e a humildade que mostramos nas 29 jornadas já passadas!
Não tinha dúvidas que iríamos sofrer em Braga, e temia, como sempre temo, a arbitragem de Soares Dias que dizem ser o melhor árbitro português, mas que, para mim, não passa de o menos mau árbitro português. Só esta época já temos razões de queixa, e mais uma vez me pareceu que o Presidente da Assembleia Geral da APAF não gosta do Sporting e, em consequência, estou seguro, pese embora a eventual adequação técnica do duplo cartão amarelo às infracções de Gonçalo Inácio, não teria a mesma atitude se a cor das camisolas fosse outra. A entrada sobre Palhinha é a clara demonstração da dualidade de critérios. E a dualidade de critérios não pode ser nunca uma característica de um bom árbitro, muito menos ser o melhor! Veremos o que se vai passar no Europeu, onde o sentimento interior não conta!...
Contudo, a mais grave e ostensiva provocação ao Sporting e aos sportinguistas foi o cartão amarelo a Adán. Mostrou que, realmente, não é isento. Já me informei onde fica a sua pastelaria ou confeitaria, para não ter o azar de lá entrar um dia inconscientemente.
De qualquer forma é tempo de deixar de falar desse senhor, esperando que o CA não o ponha mais na nossa frente até ao fim do campeonato, porque sem ele tudo poderá ser, ainda que dificilmente, normal! Deixemos os protagonistas pela negativa e passemos àqueles que o foram pela positiva: os jogadores e o treinador, que esteve longe no espaço, mas perto no espírito de luta, na inteligência, no querer e no crer. Todos estiveram num patamar elevado, mas não posso deixar de destacar a elevada prestação do capitão Coates. Não me lembro de qualquer outro defesa central que tenha tido uma exibição com aquela na Pedreira!
Quando ficámos reduzidos a dez tão cedo, achei que não iria aguentar tanto tempo a ver o jogo. É evidente que para a equipa era absolutamente indiferente que eu assistisse ao jogo todo, só a parte, ou não visse jogo nenhum. Contudo, seria uma traição à minha consciência, depois de apelar ao saber sofrer, eu ser o primeiro, mais que a não saber sofrer, não querer sofrer!
Temos cinco finais pela frente. Cinco jogos para continuar a sofrer. Soubemos sofrer em Braga. Saibamos sofrer em Alvalade com o Nacional, que também tem razões para sofrer, e, portanto, temos de respeitar!
AQUI HÁ GATO!...
Éuma expressão que significa dúvidas ou suspeitas relativamente a alguma ou algumas coisas. O gato é um animal doméstico muito corrente e há quem não perceba porquê associá-lo a suspeitas ou dúvidas. Antes só o associávamos ao banco da cozinha ou ao do jardim, mas agora aparece associado aos bancos que guardam ou deviam guardar o nosso dinheiro, porque os mesmos se intrometem ao nível das administrações.
Antes de estalarem as broncas do BPN e do Banco Espírito Santo já muitos portugueses se interrogavam ou insinuavam que ali havia gato!... Não havia um, mas vários, e se, dos do BPN ainda hoje se fala, os agora do Novo Banco continuam a ser ponto de discussão pelos custos que causam ao País.
No futebol, já houve no banco do Sport Lisboa e Benfica, um guarda-redes que ficou conhecido pelo Zé Gato por actuar como um felino - ágil, ligeiro, tal como os gatos e certos banqueiros!
Anos mais tarde, do mesmo banco saíam para os árbitros umas caixas bonitas contendo uma camisola do falecido Eusébio. Como não se percebesse para que queriam os árbitros tantas camisolas iguais, houve alguém que um dia desconfiou: aqui há gato! Não eram gatos, mas vouchers para umas modestas refeições dos árbitros que apitavam os jogos do mencionado clube. O Conselho de Disciplina achou, no entanto, que atendendo ao valor, não era por aí que o gato ia às filhoses. Pois não!...
Mais tarde, houve um rato que se introduziu no correio electrónico e divulgou diversos mails cujo conteúdo levou a generalidade dos adeptos de futebol a clamar: aqui há gato! O rato caiu na ratoeira, mas do gato ou gatos já pouco ou nada se fala. Deixou de miar...
Depois deu-se o caso da intromissão num programa informático ligado à justiça conhecido por citius, e, de novo se gritou: aqui há gato! Contudo, entendeu-se que o gato não pertencia a qualquer estrutura, sendo o seu dono um simples e pouco importante funcionário da mesma, que actuava apenas por amizade e generosidade, tal como o engenheiro Santos Silva com José Sócrates!
Como que por encanto, o gato desapareceu. Mas, no princípio da época desportiva, ora quase a terminar, voltou-se a falar num felino para aquelas bandas: não um gato, mas um tigre que iria arrasar tudo e todos. Os seus adversários - do tigre - não passariam, como dizia Mao Tsé-Tung, de tigres de papel, isto é, podiam ameaçar, mas, perante o seu poderio, seriam ineficazes e incapazes de resistir aos desafios!
O tigre começou por se dar mal na Grécia e, depois, segundo dizem alguns, começou a embirrar com a águia vitória. E ao que parece desapareceu. Os comentadores afectos e os não afectos, e mesmo alguns cartilheiros, deixaram de perceber o que se passava, e perante a atitude e comportamento dos jogadores em alguns jogos, ou o contraste entre a primeira e a segunda parte, e vice-versa, noutros, observavam o balneário e diziam: aqui há gato! Outros, porém, afirmavam, e ainda, afirmam que o que havia era um rato dadas as constantes fugas de informação. Na quinta-feira passada, acabou o mistério: há mesmo um gato!
Na verdade, na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Tondela, Jorge Jesus afirmou: «Hoje levantam-se todos, roupeiro, médico e até o gato!» Na medida em que cada um fala e sabe do que se passa na sua casa, cheguei à conclusão de que no balneário do Benfica anda mesmo um gato, embora um gato diferente de todos os outros: senta-se no banco de suplentes e também ... se levanta!
Luís Filipe Vieira fez um primeiro contrato por seis anos com Jorge Jesus. Terminado este, seguiu-se um período de desentendimento, em que não se falou de gatos, mas de cobras e lagartos. Em vésperas de eleições, pediu bis a Jorge Jesus e este saiu da novela brasileira e veio bisar para o palco da Luz!
Há muitos anos, contaram-me uma história nonsense de que me lembrei agora, e com a qual vou terminar hoje a minha crónica. Havia um menino, chamado Hugo, que tocava piano e dava vários concertos, recebendo, no final, enormes aplausos do público, e, invariavelmente, pedidos para repetir: bis Hugo, bis Hugo, mas que soavam como besugo, besugo!
Um dia, veio o gato e comeu-o!...