Sou Renato Sanches, e depois?
ABORRECE-ME a superficialidade com que se olha para o jogo. Fala-se de novo de Renato Sanches por causa de João Félix, o tal puto que é um fracasso antes de o ser. Sai cedo de mais, há os 120 milhões e a pressão esmagadora de uma Espanha que, vade retro, não gosta de portugueses desde 1143.
Não são produtos acabados e apresentam ambos aquela arrogância positiva pouco comum para a idade. Só que as parecenças acabam aí. Estão bem separados na capacidade de interpretar o jogo e de definir.
Se excluirmos as estapafúrdias tiradas sobre novos Bolas de Ouro, que só servem para encantar seguidores de Flautista, Renato ainda olha para o futuro e sorri. Mais em bruto na técnica de passe, definição e no posicionamento, não recusou o Bayern, apesar de a lógica o aconselhar de maneira diferente: era treinador um Ancelotti mais gestor do que lapidador, e pouco interessado em mexer no ataque posicional plantado por Pep Guardiola, de triângulo em triângulo e de passe atrás de passe. Incrível é que, hoje, aos 21 anos, já o tenham como morto e enterrado, e o usem como exemplo de fracasso. André Silva e João Mário, embora com tempos de maturação diferentes, também não tiveram sucesso, e continuam a ser o futuro. Têm de ser.
Ao exercer a cláusula, é Félix quem escolhe e não o Benfica. Opta por um Atleti que contratou Lemar por 70 milhões há um ano e que ainda não o colocou de parte. Um 4x4x2 em que pode encaixar melhor. Um clube que sobrevive sem ser campeão e que até lhe oferece o lugar de referência, na vaga de Griezmann.
Obviamente, existirá pressão. Haverá compromisso. Exigência também. Na estreia, nos clássicos e na Europa, respondeu sempre. Claro que João Félix pode falhar! Mas falhará por ele e ainda irá sempre a tempo de começar de novo. Tal como Renato.