Somos todos Sporting!

OPINIÃO07.07.201802:19

Suspendo hoje um ciclo de comentador nos diversos órgãos da comunicação social, que vem já dos finais do século passado. Suspensão cuja duração, maior ou menor, fica dependente da vontade dos sportinguistas a manifestar no próximo dia 8 de Setembro.


No momento em que os meus estimados leitores passarem os olhos por estas linhas, alguns já saberão que anunciei o propósito de me candidatar a Presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal. Dirão alguns que será a tentativa de tornar realidade um sonho antigo. Respondo que não é verdade, porque em determinadas idades já não se tomam decisões emocionais sobre objetivos sonhados, mas sim fundamentadas numa forte convicção da utilidade de uma candidatura. Sempre fui um homem de convicções profundas, por vezes vividas com demasiada paixão; hoje a profundidade da convicção é a mesma, mas amadurecida pela experiência da vida. É o momento do encontro entre a convicção e a razão.


Depois de ter sido, pela primeira vez, e pela mão de João Rocha, vice-presidente, tive um longo interregno no que respeita a funções executivas no Sporting. Nesse período, algumas vezes se falou em possível candidatura, mas só isso. Nada mais foi preciso que uma breve reflexão para concluir que não tinha condições de qualquer espécie para o fazer. Em 2009 fui eleito Presidente da Assembleia Geral e poderia então, interrompido o mandato a meio, ter terminado o meu percurso enquanto dirigente do Sporting. Fazia-o, nos termos dos estatutos enquanto a figura mais representativa do clube. Que maior honra eu podia ter?


Contudo, interiormente, eu sentia-me indignado pelo que poderia e deveria ter sido a presidência de José Eduardo. Senti que ele não teve as condições, nem a sorte, nem o apoio que o seu grande amor ao Sporting e a sua capacidade intelectual e moral mereciam. A minha candidatura a Presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal foi um impulso e por reacção a determinadas situações que se arrastavam no tempo e com as quais eu não concordava. Deixei, no entanto, e para memória futura, determinados pensamentos e linhas de orientação, alguns dos quais hoje estão revistos e outros mais amadurecidos e sedimentados. Fiquei em terceiro lugar, com 17% dos votos, entre cinco candidatos. O vencedor teve um terço dos votos!


Sinceramente, não tencionava recuperar essa candidatura. Mas a final da Taça de Portugal - um dos momentos mais angustiantes que vivi no meu clube - deixou uma marca na minha alma e no meu coração: as lágrimas de sócios e adeptos, sobretudo dos mais jovens, que a mim se agarraram dizendo que eu tinha obrigação de salvar o Sporting. Esse apelo, seguido até hoje de pedidos para eu ter coragem e para assumir uma atitude racionalizaram a minha emoção e espicaçaram os meus sentimentos. Não porque eu pensasse que sou o salvador do Sporting. O Sporting não precisa de salvação, porque é sua a eternidade e não minha!


Não é fácil voltar a uma página do passado, quando o futuro é dos mais jovens e é deles o caminho a trilhar em direcção ao futuro. Mas se não nos não devemos fixar no passado, também é bom que a modernidade da gestão e dos recursos humanos seja temperada com alguns cabelos brancos. Não pode haver choque de gerações, mas antes passagens de testemunhos de princípios e valores de uma forma tranquila e serena, sem violências ideológicas ou verbais.


Por isso aqui estou, como desde os primeiros tempos da minha vida académica, em que habituei a caminhar desassombrada e intransigentemente, forte na pureza dos meus ideais e altivo na tranquilidade da minha consciência. Jamais implorei protecção, benevolência, tolerância. Entendi no passado e entendo no presente que todo o homem que se apresentar exercer um cargo desta responsabilidade, tem necessariamente a obrigação mental e moral de verificar se os seus ombros podem arcar com as responsabilidades correlativas. Se me candidato a esse cargo neste momento, é porque posso é porque quero, é porque não tremo ao assumir essa responsabilidade.


O momento é de viragem. De viragem de modelo e de  estilo, mas sobretudo de projecção para o futuro, que não permite a paragem num tempo que também é de reconstrução. Espero que tenhamos todos a noção que será vã uma campanha de apresentação de jogadores e treinadores, pois é tempo de uma mudança de dirigentes não ser motivo para virar tudo do avesso, numa total falta de respeito por aquilo que foi bem feito ou, pelo menos, com boa intenção.


É tempo de, na realidade, trabalhar em nome dos superiores interesses do Sporting. É tempo de servir o Sporting com paixão e competência, na diversidade das nossas opiniões, enriquecedoras de cada um de nós e do nosso clube. Com firmeza e sem ofensas desnecessárias.
Um dos temas será a união dos sportinguistas, o que aliás já está entre as proclamações dos candidatos. Mas tem de ser um tema, não apenas um chavão! Um clube fortemente desunido num passado recente uniu-se para dizer o que não queria. Não basta, porque é tempo de dizer o que quer e quem quer.


O país uniu-se no 25 de Abril porque sabia o que não queria. Depois passou a ter de se esclarecer sobre o que queria e quem o devia executar. Os políticos discutem política, e não há desunião, se acima dos interesses pessoais, corporativos ou partidários, as opiniões de cada um tiverem acima desses interesses o País. Somos todos portugueses!


Que a campanha eleitoral que vamos viver, seja um tempo de debate franco, aberto, sem subterfúgios, de ideias claras e comportamentos de respeito mútuo entre os candidatos e os seus apoiantes! Assim se constrói a união. Com três palavras apenas se escreve o lema da minha candidatura: SOMOS TODOS SPORTING!