Sobre formação e formação sub
1 - Há pouco mais de uma semana, Luís Filipe Vieira exprimiu o desejo e o objectivo de não só apostar sustentadamente na formação de jovens atletas, como de continuar a criar as condições técnicas, operacionais e logísticas para tal indispensáveis. De facto, a formação é, de uma maneira cada vez mais indiscutível, o melhor e mais sustentado meio para um clube de um pequeno país progredir e afirmar-se sem sobressaltos ou hiatos. O ‘Seixal’ tem sido um caminho exemplar de como tudo pode ser planeado, não de um modo onírico, mas de uma maneira estruturada, consistente e ambiciosa. Novos projectos e investimentos foram anunciados, assim ficando criadas todas as condições para mais sucesso. Sucesso não apenas desportivo, mas também de formação de jovens no seu desenvolvimento humano e social.
O presidente do SLB anunciou, também, uma maior estabilização nos quadros do Benfica quanto aos talentos das escolas jovens encarnadas. Espero que tal intenção possa ser passada à prática, ainda que reconheça quão difícil é resistir a transferências que continuam a ser um elemento fundamental para a estabilidade económica e financeira do clube.
Hoje mesmo, o Benfica vai defrontar o Ajax de Amesterdão, talvez o clube mundial que, ao longo de diferentes períodos da sua história, melhor personificou a ideia de escola de formação de jovens futebolisticamente brilhantes e profissionalmente retribuídos. É claro que com o advento da Lei Bosman, o clube holandês entrou em períodos de eclipse no escol do futebol europeu, o que, todavia, não o tem impedido de, ciclicamente, ressurgir com o seu futebol alegre, desenvolto, desinibido e simples praticado por quem foi formado para gostar da sua profissão e não apenas a pensar nos rios de dinheiro que cruzam o território do futebol global.
Voltando ao Benfica - e juntando os bons jogadores saídos da formação a um conjunto de contratações bem-sucedidas - imagino o que seria o plantel se houvesse condições para reter os melhores. Sem ser exaustivo, e por memória, cito, do lado da formação (total ou parcial), Bernardo Silva, Ederson, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, João Cancelo, Hélder Costa, Lindelöf, Nelson Semedo, Oblak, André Gomes, André Horta, etc. Do lado das contratações, Di María, Rodrigo, Gaitán, David Luiz, Enzo Pérez, Matic, Ramires, Javi Garcia, Witsel. A todos estes e outros não citados juntam-se agora João Félix, Gedson Fernandes, João Filipe (Jota), Rúben Dias, Heriberto, Alfa Semedo, Ferro, Pedro Amaral e muitos outros. Que notáveis plantéis se poderiam formar com estes jogadores, a que se juntariam craques do actual plantel desde Jonas a Salvio, Rafa a Pizzi, Fejsa a Jardel.
2 - Confesso aqui a minha dificuldade para acompanhar a quantidade de sub-competições que se têm espalhado por esta Europa. São os sub-21, os sub-20, os sub-19, os sub-17, os sub qualquer idade. Ora, se bem entendo, estas equipas não são etariamente estanques. Quer dizer, como a palavra sub indica, apenas fica limitada por cima a idade dos jogadores. Assim, um jogador de 17 anos pode fazer parte dos sub-17, como de sub-maiores que 17. Não que ache mal, mas preferiria que houvesse limites de idade, um inferior e outro superior. Percebo que tal limitação poderia atrasar as oportunidades daqueles que mais se distinguem como bons atletas. Mas também seria uma forma de não acelerar demasiado o percurso e o stress dos miúdos, de os manter com os pés bem assentes no chão, e de não queimar etapas que, não raro, acabam por ter consequências danosas para o seu futuro.
Quantas vezes, em A BOLA, olho para as notícias das competições internacionais de jovens e não consigo sequer fixar, por um minuto que seja, a evolução das nossas selecções. De repente, vejo-me a confundir uma competição com outra de um escalão inferior ou superior. Continuo a preferir a clássica seriação à portuguesa: juniores, juvenis, iniciados e infantis. Lembro-me, ainda menino, de Portugal ter vencido, pela primeira vez, o campeonato europeu de juniores numa final contra a Polónia (1961, vencendo por 4-0), com alguns jogadores de que bem me recordo em excelentes carreiras como seniores, como Serafim (autor dos 4 golos), Simões e Peres. Mas lá está, era a selecção de juniores, ponto final e não uma sub-x, de que hoje certamente já não adivinharia qual a idade x…
Talvez a despropósito, associo esta reflexão a uma situação que esta temporada começou no nosso País. Trata-se da coexistência de algumas equipas B a jogar no 2.º ou 3.º escalões com uma outra formação do mesmo clube a jogar na competição chamada Liga Revelação sub-23 (lá estão outra vez os sub…). Dos grandes, o Benfica é o único clube que está nestes dois campeonatos simultaneamente. Pergunto-me se vale a pena. Bem sei que a equipa B não tem limitações de idade, tanto podendo ter jogadores com mais idade, como ser reforçada com atletas que ainda estão no escalão júnior. O que tenho mais dificuldade em compreender é a lógica dos sub-23. Em bom rigor, um sub-23 também pode jogar na equipa B ou nos juniores, embora o contrário não seja tão frequente (será mesmo possível?). Será que a equipa sub-23 é uma espécie de equipa B2 (ou equipa C?)? Haverá assim tanta necessidade de investir nesta última equipa que, pelo que li, tem jogadores que não são portugueses (no último jogo creio que 4 no onze inicial), ao mesmo tempo que há jogadores portugueses contratados, mas emprestados a equipas onde às vezes até não jogam?
Talvez as minhas dúvidas resultem do meu limitado conhecimento desta nova competição. Mas o certo é que verdadeiramente nunca vi ninguém explicar cabal e directamente o seu interesse.
3 - Tivemos a Taça de Portugal este fim-de-semana. Nada fora do esperado. Quanto ao meu Benfica acho que foi sério no modo como encarou o jogo e respeitou o Sertanense. A Taça tem uma característica que a torna, futebolisticamente falando, mais democrática: a possibilidade de equipas menos fortes atingirem a final é muito maior do que no campeonato, no qual a vitória se resume aos do costume. Tratando-se de jogos a eliminar, um liliputiano clube pode sonhar derrubar um gigante porque tudo se concentra na sorte e inspiração de uma partida ou de penáltis.
Das até agora 78 Taças disputadas, houve já 24 finalistas diferentes (mas apenas 9 clubes vencedores para além do Benfica, Porto e Sporting), embora só por 5 vezes a final tivesse sido sem qualquer um dos grandes.
Neste século e apesar do aprofundamento da diferença entre clubes, duas equipas do 2.º escalão conseguiram ser finalistas embora vencidos: Leixões (em 2002) e Chaves (em 2010). O maior feito deste mesmo século aconteceu no último troféu, em que o Desportivo das Aves, que se salvou à tangente da despromoção, bateu o Sporting na final.
Quanto ao calendário da Taça de Portugal (lembro-me quando se jogava toda de seguida, após o campeonato…) bom seria que se reduzisse o itinerário errático que, ano após ano, faz apelo à memória para nos recordarmos de eliminatórias perdidas no tempo ou de semanas e semanas entre a primeira e a segunda meia-final.