Sobre as lutas com tubarões
Usamos a palavra tubarões para referir grandes clubes de futebol, esquecendo desportos que, efetivamente, implicam estes animais. Há dias, para a National Geographic, Mike Tyson mergulhou, em malha de aço, entre tubarões, e quando se esperava - eu esperava - ou uma luta de dentadas ou, no mínimo, um cruzado de esquerda num olho do bicho (na estupidez, almejo a plenitude), aconteceu que Tyson segurou um tubarão e deu-lhe só um apertão no focinho, deixando-o, explicaram depois, na chamada imobilidade tónica, sendo isto um estado no qual os tubarões caem quando lhes fazem aquilo, por ser zona sensível - e de certa forma caí eu também, ao ver, desencantado.
Há uns anos foi Phelps a nadar contra um tubarão, o que à partida me parecia luta mais justa, porque se um tubarão sabe nadar, tenho-o por fracote na trocas de golpes. Confirmou-se a inferioridade humana, não só porque o animal nadou 100 metros em menos dois segundos, mas porque essa mesma inferioridade levou a que a corrida fosse falsa. Ou seja: Phelps nadou contra um registo digital, não com um tubarão a sério. A possibilidade de o animal comer a concorrência era grande, o que teria reprimido os detalhes do cronómetro para segundo plano.
Tudo isto nos chega de longe, esta ânsia de caça, de vitória sobre monstros marinhos, da mitologia e da literatura. O mais emblemático é, para mim, Moby Dick. É daí, justamente, que nos chegam as melhores adaptações, como o Jaws, de Spielberg. A vingança contra besta, afinal. São comportamentos que fazem parte da afirmação humana, e logo também desportiva, como vamos revivendo pelas proezas de Phelps e Tyson.
Eu, nas lutas com tubarões, só pata-roxa na caldeirada.