Sobre as eleições e a alegada inflação de candidatos

OPINIÃO26.07.201802:02

É pública a minha opção. Aceitei o convite do Dr. Frederico Varandas para concorrer ao honroso cargo de Presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Sporting. Já estamos em ambiente de debate pré-eleitoral. No entretanto o clube é dirigido por uma comissão de gestão. Vivemos uma situação muito peculiar. Sabemos porquê. Convém não ter a memória curta. Queremos retomar o trilho da normalidade. Precisamos disso como de pão para a boca, As eleições serão um momento crucial nesse trajeto de retoma. Muita gente se mostra sensível, como é notório, ao número algo inusitado de candidatos anunciados e perfilados para a compita. Esta inflação tem merecido leituras diversas: umas são mais de ordem estratégica. Aí entra o calculismo eleitoral puro, feito da avaliação de quem ganhará ou perderá com a fragmentação anunciada; outras são de ordem mais sociológica, ou, se preferirem analítica: porquê, afinal, um tal - alegado - congestionamento na zona da partida? Eis a questão. Outras são mais secas e formais: quem tem legitimidade, pode, afinal, usá-la livremente e, por ser assim, nada poderá objetar ao anúncio regular de mais aspirantes aos órgãos sociais. A derradeira visão é também a mais simpática: tratar-se-á, afinal de um sinal resplandecente de vitalidade, gerado pela abundância de massa critica que nos caracteriza. E essa massa critica existe mesmo e em profissão. A história está no prefácio e a profissão nem chegou ao adro. Falta que as listas ganhem foros de cidade, assumindo, então, a necessária legitimidade para irem a votos. Por ora são apenas projetos anunciados. Dentro de alguns dias as listas passarão a estar formalizadas e serão admitidas se cumprirem com as condições devidas. Ficaremos, então, a saber, com rigor, quem, de facto, se apresentará a sufrágio. Por ora todas as análises, na sua imensa variedade, unem-se em torno de uma mesma característica, que é a sua precocidade. O objeto não está ainda definido. As apreciações são prematuras. Fixado o universo dos concorrentes, a discussão ganhará, então, os seus parâmetros. Já faltou mais. Vamos ter momentos vivos e aliciantes.

A luz ao fundo dos códigos: vem aí o futebol

Nos últimos meses o debate sobre o Sporting acolheu uma inusitada componente jurídica. Ainda há poucos meses, numa assembleia geral convocada para o efeito, se falava da importância excruciante da aprovação de normas disciplinares. Normas capazes de se unirem de facto com as dos estatutos, sucessivamente integrados de soluções a condizer com a almejada disciplina. Uma espécie de sal e pimenta mas mais com sabor de mata e esfola. O singular fenómeno foi apaixonante e quis-se mobilizador. Nunca a disciplina tinha sido tratada com a prioridade devida a um bem de primeira necessidade. Revista a forma como era louvaminhada, ter-se-ia por mais crucial para o nosso devir e a nossa longevidade, do que a contratação, numa assentada, de Messi e de Ronaldo, para integrarem a equipa principal. Hoje o entusiasmo perante o severíssimo regulamento parece ter esmorecido. As soluções draconianas, deixaram, felizmente, de estar na ordem do dia. E ainda bem. Mas a epopeia legal tem tantas vidas quanto os gatos - alegadamente -- pelo que continuamos, regularmente, a braços com imbróglios que clamam pelo direito quando a coisa, para quem chama, dá para o torto. Parece que a polémica está para ficar. Até porque DURA LEX SED LEX e, como advertiu um conhecido autor, «deve à lei, quem a fez, obediência».


A nossa equipa

A vida é uma corrida de estafetas. Nem sempre o testemunho é passado de forma pacífica. Nem sempre quem o passa ocupava a posição que desejaríamos que tivesse na corrida. Nada disto é pura retórica. A onda de rescisões que varreu a nossa equipa, em moldes insólitos e raríssimos (para não dizer inéditos) deixou inevitáveis marcas, feitas de apreensão e de muitos problemas. Não é fácil decidir o que fazer num contexto tão adverso. Optar entre escolher o conflito ou pugnar pelo acordo. A equação tem muitas incógnitas e os riscos são elevados. Não há soluções perfeitas à saída de tanta turbulência. Um dia virá para se fazer a história destes dias. Acredito que estará a ser feito o possível neste quadro de acentuada adversidade. Do cenário que é agora de rescaldo  temos recebido boas notícias. O regresso de Bas Dost foi a mais recente de todas elas. A pouco e pouco o plantel vai sendo refeito. E uma coisa é certa: neste lançamento da temporada todos deveremos apoiar o nosso treinador e os nossos jogadores. Nem o oportunismo, nem o taticismo, nem qualquer outro ismo, manuseado com doses de cínismo, deverá contribuir para enfraquecer o Sporting na concorrência com os nosso adversários. A nossa crise recente deu aos nossos rivais uma clareira de sossego. O foco mediático, sempre tão omnipresente e influente, deu-lhes uma inesperada trégua, enquanto assinava uma quase exclusividade com a análise de todas as nossas patologias recentes. Também neste plano é imperioso regressar à normalidade, recentrando-nos nos nossos rivais a partir de uma fortaleza unida. Este é um desafio que engloba as eleições e que tem de as inspirar e transcender. Andámos fora de órbita. É tempo de regressar.

João Sobrinho

Soubemos , há alguns dias, do falecimento de João Sobrinho. Não o conhecia pessoalmente. Nunca lhe pude agradecer as alegrias que me proporcionou. E foram muitas. Mas há aquela que é inolvidável: a primeira vitória de uma equipa portuguesa na então designada Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins. Logo nós, portugueses, cheios de pergaminhos na modalidade, nunca tínhamos ganho essa competição. Uma vez mais o Sporting brilhou. Perante aquele cinco demolidor, de que Sobrinho fazia parte, a vitória não poderia escapar mais. Os jogos com os dois adversários finais na competição, vindos da fortaleza espanhola, corresponderam a quatro páginas memoráveis de brilho e de glória. João Sobrinho fez parte do ‘dream team’ da modalidade. Confesso que não era então, nos idos de 1977, muito apaixonado por aquele desporto. Mas não resisti à gesta formidável, que empolgava pela sua classe e arrebatava em cada jogo que disputava. Recordo esses tempos com muita  saudade. Tenho o privilégio de, amiúde, trocar impressões com o meu amigo e companheiro Stromp Júlio Rendeiro, a quem deixo aqui um forte abraço. Envio à família do nosso inesquecível atleta os meus votos de pesar.