Só podiam, mesmo, ser escoceses
O milagre da Luz. Não é o título de uma história para contar às crianças, aliás, penso que nenhuma criança quer, hoje, ouvir histórias sem ter um qualquer écran na mão. Mas podia ser o título de uma crónica sobre o último jogo do Benfica, com o Glasgow Rangers. Se há prova evidente de que o resultado ajuda a limpar tudo, este jogo é o exemplo. Uma equipa que precisava de se reconciliar consigo própria, depois do que se passara no Bessa, e que andou perdida, passou desequilibrada à beira de precipícios, margens de rios revoltos e que, de repente, descobre um jovem uruguaio, com um nome de naturalista mundialmente famoso, que lhe reen-contra o caminho para a salvação.
O Benfica, depois da expulsão de Otamendi, foi uma equipa indigente, incapaz de se organizar para merecer o sucesso que, apesar de tudo, acabou por ter. Por culpa de Darwin, que se afirma, esse sim, um jogador com talento e com hipóteses de entusiasmante progressão, mas também muito por culpa do adversário. Só mesmo os escoceses e a sua ânsia de jogar futebol espetáculo, de querer ganhar pelo maior número de golos possível e de desrespeitar a importância crucial do resultado, para ajudar este Benfica a encontrar uma boia para se agarrar.
O maior quebra cabeças dos treinadores portugueses que orientam as nossas equipas europeias parece continuar a ser o de como conciliar os dois pequenos mundos: o nacional e o europeu. Demasiados jogos - queixam-se. Curioso, que Jorge Jesus resolveu bem esse problema no Brasil, tal como Carlos Carvalhal, em Inglaterra, onde se joga a época toda a meio e fim de semana. Quanto a Sérgio Conceição, conhece bem a experiência, mesmo como jogador. E, no entanto, as equipas portuguesas com o privilégio de representação na Europa sentem-se inseguras, divididas, inadaptadas ao duplo esforço semanal do jogo.
Explicam, os técnicos, que é preciso respeitar o descanso dos atletas. Sou sensível à argumentação das limitações humanas, mas o que importa assinalar é que, lá por fora, há quem resolva melhor este problema. Podem argumentar ainda que os plantéis são mais fortes, mais equilibrados e os treinadores podem recorrer, sem tanto dano, ao banco de suplentes. E eu posso e devo contrapor que, em muitos casos, principalmente na Luz e no Dragão, nem todas as escolhas de novos jogadores terão sido feitas a pensar, exclusivamente, nas necessidades competitivas da equipa e na regra do equilíbrio do plantel. A questão merece ser pensada e discutida. Sobretudo quando numa fase de início de época, quando não se esperaria constatar cansaços quase de exaustão, se percebe que a intensidade competitiva muda tanto de jogo para jogo, que a mesma equipa, com os mesmos jogadores, parece ser outra.
Admito a minha ignorância científica. Não admito que desmintam o que os meus olhos veem. Não sei se o problema está no treino, se está no treinador, se está nos (maus) hábitos de trabalho dos jogadores. Mas que há um problema por resolver, disso não tenham dúvida que há.
A UEFA pediu à FIFA para voltar atrás na redação da regra dos penáltis assinalados por mão na bola. Sempre aprendi que uma das principais razões de sucesso das poucas regras com que se joga o futebol é a do bom senso. Continua a dever ser. A bola na mão, seja dentro, ou fora da grande área, deve ter em conta a intenção. É algo que o VAR não pode medir? É verdade, mas deixemos alguma coisa ao mundo dos humanos e dos seus naturais erros. É um perigo, dizem os que duvidam da seriedade dos homens. Eis uma questão que também não se resolve com o VAR e que não acrescenta, nem retira nada, à lógica de