Sim, o Benfica está em crise
BRUNO LAGE não aceita a crise. E isso é preocupante, porque sendo a crise de exibições e de resultados do Benfica uma evidência, a sua negação só pode significar ausência de solução.
Lage estará a viver um momento singular na sua ainda curta carreira. Antes, tudo lhe tinha corrido bem, era a ascensão firme e regular, que só iria parar no céu. Mas, de repente, tudo se alterou. Tem de conviver com as mais diversas críticas, das mais disparatadas, às mais consistentes. Tem de enfrentar a cara feia que os maiores responsáveis do clube sempre fazem nestas situações. Tem de aceitar a pressão dos adeptos, que não estão satisfeitos. Tem, por fim, o que não é o menor dos problemas de saber lidar com as naturais movimentações internas de balneário, porque estes são os momentos em que os injustiçados sentem a nova e essencial oportunidade.
Lage está a aprender e a crescer, enquanto treinador, mas isso não o anima, porque quer encontrar uma solução para o imediato e não a está a encontrar. Tem natural receio de não ser capaz e de perder uma boa parte do prestígio e da notoriedade conseguida em tão pouco tempo.
O que o treinador do Benfica precisa é de acreditar que a estrutura, que inclui o presidente Luís Filipe Vieira, tem confiança nele, nas suas capacidades técnicas, nas suas qualidades humanas. De facto, não houve sinais de apoio expresso e publicado. Tem-se assistido, apenas, a um silêncio que pode ser traduzido por receio ou por dúvida. Às vezes, surgem aqueles comunicados assassinos a manifestar uma confiança de Judas, mas, desta vez, no Benfica, nem isso.
Lage saberá melhor do que ninguém com quem pode contar, mas não duvidará de que, no essencial, serão os jogadores aqueles que o poderão tirar do fundo buraco de uma crise que leva o Benfica a um futebol primário, desequilibrado, previsível, sem estrutura de equipa maior, individualmente limitado, globalmente ineficiente.
Lage olha para a primeira parte do jogo na Ucrânia, ou para momentos largos dos dois jogos com o Famalicão e é bem possível que nem saiba por onde começar.
O lateral direito, antes jovem promissor, parece ter voltado à instrução primária do futebol; Rúben, que antes salvava golos, agora oferece-os; Ferro anda enferrujado; até Grimaldo, grande entre os grandes laterais esquerdos, perdeu fulgor. Depois, Weigl, sem arriscar, de passe curtinho, sem marcar diferenças, nada acrescenta a Florentino; e Taarabt, com quem o treinador parece ter feito um contrato para a vida, tanto exibe uma qualidade fulgurante como decide driblar meio mundo à entrada da sua grande área. E Pizzi desmanchado de entusiasmos e de confiança; e Samaris que certamente deve ter cometido um pecado mortal para não ser escolhido no meio deste caos; Vinícius, forte, poderoso, importante, mas mau na jogo aéreo; Cervi sempre acelerado, útil, mas sem rigor na definição; Seferovic com a sua inexplicável e infinita tristeza a (nada) jogar em Kharkiv; Chiquinho, no meio ou à direita, sem se conseguir, alguma vez, encontrar.
Lage sabe que esta orquestra só pode desafinar. Precisa de tratar e recuperar cada músico, para que a plateia não entre em sonora pateada. Mas precisa de entender que o primeiro a ser recuperado deve ser ele próprio, o maestro, que no estado atual não consegue dirigir nem a banda dos bombeiros.
É evidente que há uma crise no Benfica e é necessário que Lage a assuma, a perceba e seja capaz de agir para a resolver. O pior de tudo será a imagem de passividade e de esperança que seja o tempo a resolver, por si, o que o homem não sabe nem tenta resolver.