Sexta com dérbi
HOJE há dérbi! O clima que deve rodear um jogo com mais de um século de história - o primeiro ocorreu em 1907 - deve ser de festa. Melhor dizendo, devia ser sempre de respeito mútuo e de lembrança da própria história dos seus intervenientes. Ambos cresceram com a rivalidade que se estabeleceu a partir desse primeiro confronto. Como com a disputa entre Nicolau e Trindade, no ciclismo, nos anos 30. A identidade dos maiores rivais, de uma mesma cidade portuguesa, foi-se alimentando destas disputas. Ambos beneficiaram com ela, crescendo ao longo de Portugal, e posteriormente nas antigas colónias, hoje países de língua oficial portuguesa.
O Sporting venceu esse primeiro jogo, o Benfica venceu o último realizado já esta época, mas a rivalidade tem evoluído para níveis de animosidade a rondar a inimizade. Os tempos actuais são bem diferentes dos anos finais da monarquia, o futebol ganhou uma importância social, económica, e até política, que não tinha. A reflexão que precisa de ser feita por todos os intervenientes neste fantástico jogo, é no sentido de se perceber o que está a acontecer, porque acontece, e que caminho queremos percorrer nas próximas décadas.
No início desta rivalidade não era previsível que o dérbi se jogasse a uma sexta-feira, como também ninguém tinha a noção da importância que esta modalidade passaria a ter na sociedade portuguesa e mundial. E como vão ser os próximos cem anos? Que evolução vai ter o jogo e qual a sua influência social? Que legado queremos deixar para as próximas gerações? Estas questões merecem atenção redobrada de todo o futebol, percebendo que para chegar ao nível actual, a rivalidade e equilíbrio entre os competidores foram fundamentais.
O sucesso do futebol tem que ser conseguido pelo equilíbrio na competição, com a rivalidade daí emergente, sem nunca esquecer que o modelo económico nunca será de monopólio. Quando os intervenientes não se entendem, o jogo fica a perder.