Seriedade, precisa-se
Era bom que o Benfica fizesse o exercício que ainda não fez - autocrítica - antes de retomar as práticas, a cultura e a ética que constam do seu ideário original
OBenfica vive um momento terrível. Esta última arremetida da Justiça visando atos e esquemas do presidente (alguns, segundo a acusação, atentando contra os interesses do próprio clube), deixa Vieira numa posição insustentável. Ele e o vieirismo, entendendo-se vieirismo como a cultura/conjunto de práticas (umas boas, outras lamentáveis) que caracterizam o longo mandato de Vieira à frente do Benfica. A Operação Cartão Vermelho aponta ao presidente e filho dele e ao acionista maioritário da SAD benfiquista, mas convém não esquecer - e há muita gente que parece esquecer-se disso !... - que antes desta operação já Vieira e outros elementos da cúpula dirigente encarnada tinham sido alvos de buscas, investigações e processos judiciais, sabendo-se que em pelo menos um deles há suspeitas de corrupção desportiva. Ou seja, o Cartão Vermelho não foi propriamente uma novidade na vida de Vieira, tantos são os episódios obscuros, em várias áreas, em que o nome dele e do Benfica surgem envolvido nos últimos anos (não vou enumerá-los, são do conhecimento público). É claro que a presunção de inocência mantém-se, tal como a presunção de competência das autoridades policiais e judiciais no exercício das suas funções - embora, a fazer fé no que tem vindo a público, me faça muita confusão que uma pessoa possa ser escutada durante três anos seguidos (?!).
O que não se discute, noutro plano, é o dano causado à imagem do Benfica pela face obscura do vieirismo, que degradou o nome e a credibilidade pública do clube a um nível insuportável. Do célebre e-mail do funcionário Pedro Guerra, em que este se gabava do poder benfiquista na arbitragem («padres» e «missas»), passando por acusações de jogadores do Rio Ave e do Marítimo de que tinham sido aliciados por Paulo Gonçalves e César Boaventura para facilitarem nos jogos com o Benfica; pela cunha de Vieira junto de um magistrado corrupto; pela suspeita de existência de um volumoso saco azul para fins desconhecidos; a este último chorrilho de suspeitas envolvendo desvios de dinheiro do próprio clube parece haver no vieirismo uma constante assustadora: tudo é permitido desde que favoreça os desígnios da casa.
Nunca escondi tanto nos textos de opinião aqui como nos comentários em A BOLA TV o que penso de Luís Filipe Vieira neste âmbito. Para mim ele representa a cultura da traficância, da esperteza saloia, do vale tudo. Imagino as voltas que Cosme Damião, Eusébio, Mário Coluna, Vieira de Brito e Borges Coutinho, entre tantos outros, devem estar a dar nas respetivas tumbas!
Rui Costa, vice-presidente e um dos rostos mais visíveis do vieirismo (embora pouco fale e ninguém conheça o seu pensamento), assumiu a presidência interina com uma curta declaração em que não fez uma única menção ao chefe suspenso nem àquilo que motivou a sua súbita promoção. Devia tê-lo feito. Essa branca soou a oportunismo e fuga para a frente. Sejamos sérios. O vieirismo está ferido de morte no todo e não só no vértice. Por muito lógica que seja, naquele momento, a tentação de Rui Costa de se demarcar de LFV, é de um ridículo atroz pensar que o vieirismo subsistiu estes anos todos sem a participação/cumplicidade dos colaboradores mais próximos do presidente. Onde se encontra precisamente Rui Costa. Como sugeriu o benfiquista Ricardo Araújo Pereira, os elementos da atual Direção, das três, uma: ou são cúmplices ou são coniventes (viram mas não disseram nada) ou são tótós (passou-lhes tudo ao lado).
Como é evidente para quase todos, a única solução razoável para resolver esta trapalhada é dar a palavra aos donos do clube: os sócios. O Benfica vai ter eleições, espera-se que com prejuízo mínimo da equipa de futebol, que tem já em agosto a missão de salvar as finanças do clube com o apuramento para a Champions. Quanto a Rui Costa, se acha que tem condições para se demarcar da gestão de Vieira, do apoio dele e da condição de sobrevivente designado, se acha que tem autoridade moral e capacidade para ser presidente do Benfica, só tem um caminho: concorrer às eleições e ganhar nas urnas a legitimidade que ora não tem. Porque nem o Benfica é uma monarquia nem as preferências de Vieira têm força de decreto papal (então agora, muito menos…).
Espero sinceramente que este grande clube que é o Benfica regresse rapidamente à normalidade e faça o exercício que ainda não fez - autocrítica, alguma mea culpa!... não pode ser tudo obra do Rui Pinto, não é? - antes de retomar as práticas, a cultura e a ética que constam do seu ideário original. Mas para isso, quer-me parecer, tem de fazer a varridela que se impõe. Secar o pântano. Fazer reset. Vida nova. Por razões óbvias, uma auditoria às contas, negócios e movimentos do Benfica nos últimos anos deve ser a primeira prioridade do próxima Direção eleita, seja ela qual for.
Se queremos parecer sérios, convém que o sejamos.
Luís Filipe Vieira suspendeu funções de presidente do Benfica e está em prisão domiciliária
MESSI, MANCINI, DJOKOVIC E RONALDO
MESSI ganhou a sua primeira Copa América no Maracanã, nas barbas do Redentor, com a seleção menos entusiasmante que me lembro desde que sigo a Argentina. Nada mais justo que ver Messi (4 golos, 5 assistências) com o título que lhe faltava, sem esquecer que foi novamente Di María a levar a alviceleste ao título - já tinha sido ele a marcar o golo do Ouro Olímpico de 2008. Bravo Messi, génio do futebol!
Mancini transformou a Itália numa seleção de futebol alegre, assertivo e ambicioso e foi nesses capítulos que se superiorizou a um timorato e hesitante Gareth Southgate na final de Wembley. A azzurra deve esta espetacular ressurreição a don Roberto, que está agora a um jogo de igualar o recorde mundial de invencibilidade (35 jogos) da Espanha e do Brasil. Bravo!
Djokovic ganhou Wimbledon pela sexta vez e igualou Federer e Nadal (20!) no panteão do Grand Slam. Um monstro sagrado do desporto a caminho de ficar sozinho no topo! Quanto a Ronaldo, em férias, tornou-se o jogador mais velho (36 anos!) a ganhar a Bota de Ouro de um Europeu. Com 46 golos em 59 jogos na época - 36 pela Juventus, 10 por Portugal - CR7 só foi suplantado nesse capítulo por Haaland (48 golos em 51 jogos) e Lewandowski (56 golos em 50 jogos). Não está mau para um velhote…