Sérgio precisa de uma liga maior
O treinador portista conseguiu verdadeiros milagres com plantéis limitados, mas será a altura de colocar um ponto final nesta relação
SÉRGIO CONCEIÇÃO é um treinador de convicções fortes, apaixonado pelo seu trabalho, corajoso guardião do emblema que serve e, principalmente, inabalável defensor de espírito de grupo à prova de bala. Homem de caráter, com personalidade indomável e que reage por impulsos, mais do que a prudência aconselharia. Para ele, e numa profissão em que a única fronteira que se conhece é a que separa o sucesso do fracasso, não existe o talvez; é sim ou não, por isso vive cada jogo, as suas incidências e os seus desfechos, como se fosse o mais importante da carreira. É assim que modestamente me atrevo a defini-lo.
Também não tem por hábito esperar pelo dia seguinte para exprimir o que lhe vai na alma, nem deixa nada por dizer. Faz hoje uma semana, precisamente, que caiu num poço sem fundo, empurrado por uma derrota que o envergonhou, não pela cruel expressão do resultado, mas pela reprovável atitude de alguns dos jogadores por si escolhidos para um jogo de enorme importância e visibilidade. No sábado seguinte, porém, construindo uma equipa que surpreendeu pela ousadia, voltou a sentir-se no paraíso devido ao que classificou de uma exibição quase perfeita, embora perante oponente incomensuravelmente mais fraco do que o anterior, é verdade, mas ganhou, com mérito, recorrendo a jovens praticantes que lhe permitiram formar um coletivo cumpridor e que deu quanto tinha para dar, a tal dedicação que Sérgio tanto aprecia.
Não foi por castigo, esclareceu, mas de uma assentada, além de Otávio, por impedimento físico, foram despromovidos Corona, Fábio Cardoso e Zaidu, na defesa, Sérgio Oliveira, no meio campo, e Toni Martínez, no ataque. Seis, no total, porque Fábio Vieira, que substituíra Otávio diante do Liverpool, voltou a ser suplente, agora a tempo inteiro.
Quem entrou, afinal? O indiscutível Pepe, mais os jovens João Mário, Wendell, Francisco Conceição, Vítor Ferreira (Vitinha) - diminutivo que pode desconsiderá-lo aos olhos do selecionador principal, com propensão para dar preferência a gente madura que já nada acrescenta - e Evanilson. Além de ter havido o cuidado de manter Diogo Costa na baliza, como reforço de afirmação de uma nova face do FC Porto.
COM esta revolução, parece-me, Sérgio Conceição pretendeu sublinhar, mais uma vez, que os interesses do clube se sobrepõem à soma dos interesses individuais e, nesse sentido, não há estatuto que seja capaz de inibir a sua autoridade, a qual pode ser questionada quanto ao estilo como é exercida, mas não no princípio que a suporta, que é inatacável, do meu ponto de vista, embora difícil de manter, razão pela qual, imediatamente a seguir ao jogo com os ingleses, não deve ter sido ingénua a forma como o treinador portista aproveitou para comunicar a intenção de recorrer ao seu porto de abrigo, o presidente, para uma conversa privada. Motivo: temer que a sua palavra já não seja convenientemente escutada pelos destinatários, que são os jogadores. «Se a mensagem não passa, não estou aqui a fazer nada», destacou.
A ligação ao dragão entrou na quinta época e admite poder ser tempo de mais, haver um estado de saturação em consequência de relacionamento intensamente vivido, embora bem sucedido, com dois Campeonatos conquistados e três participações relevantes na Liga dos Campeões (dois quartos de final, 2019 e 2021, e um oitavos de final, 2018) que geraram riqueza e muito ajudaram o clube a desembaraçar-se do controlo financeiro da UEFA.
Sérgio Conceição tem feito o que pode em condições manifestamente desfavoráveis. Conseguiu verdadeiros milagres com plantéis limitados, por força das circunstâncias. Foram tempos de enorme desgaste e, se calhar, no final da presente temporada, será a altura de colocar um ponto final nesta convivência profícua e prosseguir a sua carreira no estrangeiro, numa das principais ligas europeias e, seguramente, em clube de grande dimensão. É uma opção que só a ele diz respeito, mas penso que, no mínimo, deve ser merecedora de ponderada reflexão, até para salvaguarda da sua imagem.
Por mera curiosidade jornalística gostaria de ver. Acredito que estarão reunidos os ingredientes necessários para correr bem, mas, neste caso concreto, a minha opinião vale zero…
MAIS UM TÍTULO MUNDIAL
FERNANDO GOMES, presidente da FPF, quase pediu desculpa a Marcelo Rebelo de Sousa pelo trabalho que o futebol lhe dá e pelo tempo que lhe ocupa, devido às sucessivas receções no Palácio de Belém, sempre a propósito de grandes conquistas internacionais, que projetam e elevam o nome do País. No futebol de onze, no futebol de praia, no futsal e, não tardará muito, quero acreditar, no futebol feminino.
O Presidente da República percebe a importância destas cerimónias e o que elas representam para uma juventude que olha para os novos políticos e não enxerga perspetivas de futuro, apenas se lhe depara preconceito e pretensiosismo. O problema é que são eles que mandam nas nossas vidas e roem as unhas de inveja porque campeões da Europa e do Mundo só existem no desporto.