Sérgio (e o futuro)
NA maior parte das vezes, o futebol castiga aqueles que pensam que são melhores do que aquilo que são - e castiga ainda mais todos aqueles que, nos seus delírios, pensam que não há ninguém melhor do que aquilo que eles pensam que são. De uma coisa não tenho dúvidas: que Sérgio Conceição não tem, nunca teve, a ousadia delirante de se achar maior do que é ou de achar que a sua equipa é melhor do que é (e os seus adversários piores do que são) - e por ser assim é que foi capaz de fazer com que um FC Porto que se julgava condenado a um arrastado somenos se tenha transformado num escachado sorriso (foi o que aconteceu ao fazer dele campeão).
Na sua poesia, o Bielsa descobriu-o:
- Um homem com ideias novas é um louco até que as suas ideias triunfem. É assim na vida, é assim no futebol.
É, é verdade - mas é mais: um treinador com uma equipa nova (ou com a responsabilidade de criar equipa nova) é um desafio até que os seus novos jogadores (sobretudo esses) triunfem - e se falharam o fracasso é ele. E sim: neste momento, Sérgio Conceição é um desafio no desafio que tem: criar a equipa nova que tem de criar - e voltar a fazer o melhor que já fez como treinador do FC Porto. Se, pelos sinais que já deu nesta pré-época, o pode vir a fazer (evitando que o desafio que ele é venha a ser um fracasso)? Acho que sim, que pode fazê-lo porque se o Lippi descobriu que o melhor jogador é aquele que coloca o seu talento ao serviço dos outros - o Sérgio tem mais do que aquilo que tem a frase do Lippi, tem o melhor que um treinador pode ter: o engenho de fazer com que os seus jogadores (quase todos) se tornem melhores do que aquilo que eram quando lhe chegaram à equipa - por conseguir que eles (quase todos) coloquem o seu talento (o talento de cada um deles) ao serviço dos outros (ao serviço de todos os outros). E isso já deu para ver, claro, neste seu novo FC Porto.
PS: Sim: no Bruno Lage não deixo de ver também o que de melhor fui vendo (e vou vendo...) no Sérgio Conceição.