Sérgio Conceição e os adeptos

OPINIÃO18.05.201901:17

O treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, experienciou em pouco tempo contactos extremados com adeptos, primeiro com a subserviência a claques no final dos jogos com Rio Ave e Aves e, mais tarde, pegando-se num jogo de juniores com um torcedor que, noticiou-se, insultava e cuspia o filho, jogador do Benfica. Parece-me que Conceição esteve mal no primeiro caso e bem no segundo: antes, complacente de mais, pois não deveria admitir que uma equipa profissional que chefia se expusesse assim, servil, para com quaisquer adeptos; depois, intrépido, porque para lá de determinados limites só pode haver palavrinhas apaziguadoras para totós, o que me parece longe de ser o caso de Conceição...

É, porém, curioso como a proximidade destas ocorrências suporta a convicção de que em Portugal se toma irrefletidamente o adepto pelo todo e vice-versa. Os grandes clubes estão de tal forma antagonizados que qualquer adepto próprio é aceite como vassalo sob suserana proteção dê lá por onde der, faça o que fizer, seja quem for. Parece união, mas é generalização. É errado. Ainda agora o Tottenham baniu torcedor que arremessou banana a jogadores do Arsenal. O Tottenham é uma coisa, os adeptos do Tottenham  como ideia imutável, primeira e eterna - na noção filosófica  - são outra, e um qualquer adepto do Tottenham numa realidade concreta, individualizada, variável, outra coisa ainda.  

Conceição, com motivações diferentes, porque uma coisa é criticarem-lhe a equipa, outra será o que ele entende pessoal, intercetou-se com ambos os conceitos: a tal ideia abstrata, pura e sempre defensável, que os clubes promovem, tão idílica que lhes chega a parecer superior e assim os subjuga; e também existência palpável do portista com o qual se pegou, porque as pessoas não são ideias.