Ser grande!
É o nome de Iker Casillas, evidentemente, já muito maior do que o valor de Casillas como guarda-redes, porque o guarda-redes Casillas entrou para a história do futebol quando ganhou o que nenhum outro guarda-redes conseguiu ganhar (ultrapassando largamente o também icónico Gianluiggi Buffon) e se tornou mundialmente, e no geral, um dos futebolistas mais vencedores de sempre.
Ao serviço do Real Madrid e da seleção espanhola, os números e os títulos de Iker Casillas esmagaram todas as lendas espanholas e europeias da sua geração, e isso conferiu-lhe uma dimensão praticamente inigualável, muito acima, por exemplo, de Raúl Gonzalez, outra das míticas figuras do Real Madrid, que já não foi a tempo de ser campeão europeu e mundial com a seleção de Espanha, porque nessa altura já tinha sido empurrado para fora do Real, como veio, aliás, a suceder com o próprio Casillas.
É precisamente por isso que duas coisas permanecerão para sempre comuns a Casillas e Raúl: a simpatia do mundo do futebol e a decisão que a dada altura tomou o Real Madrid de lhes abrir a porta da saída, levando Casillas para surpresa de muitos, a escolher o FC Porto e o campeonato português para prosseguir a enorme carreira que as gerações atuais foram podendo testemunhar e, ao mesmo tempo, mostrar a mesma ambição de ganhar.
Mas há muito, em conclusão, que Casillas deixou de ser apenas esse guarda-redes de incomparável sucesso para se tornar, talvez acima disso, um desportista consensualmente admirado e respeitado em todo o mundo, e, também por isso, o que teve a infelicidade de viver esta semana causou internacionalmente o impacto que causou e não teria certamente causado se Casillas não fosse a enorme figura que é, pela carreira que construiu, pelo sucesso que teve e, the last but not least, pelo caráter e dimensão humana que sempre mostrou ter e que faz com que todos os adversários, rivais e adeptos gostem dele.
Como creio que acontece em Portugal, onde Casillas é, evidentemente, o nome maior da nossa Liga.
Agora, a caminho dos 38 anos, e tendo infelizmente passado pelo que passou esta semana, só Casillas saberá - e talvez seja ainda cedo - que decisão tomar quanto ao futuro, mesmo no cenário realmente menos provável, como referiu um distinto cardiologista espanhol, de a medicina o dar como apto para continuar a jogar futebol ao mais alto nível.
Mas ninguém poderá realmente admirar-se se Casillas vier a trocar o palco do futebol pelo palco da vida.
Estaremos, certamente, todos de acordo que muito mais importante do que saber se vai Casillas voltar ou não a jogar futebol e regressar ou não à baliza do FC Porto, mais importante do que tudo isso, sublinho, é, graças a todos os clínicos envolvidos na defesa da vida do atleta, a começar pelos responsáveis clínicos do FC Porto, podermos, todos, como expressava a feliz frase escrita pelo jornalista Carlos Vara na edição de ontem de A BOLA, continuar a ouvir bater o coração de Iker Casillas. Não há bola que pague isso!
MANDA a hipocrisia do futebol que continuem a praguejar contra os árbitros sobretudo aqueles que mais beneficiam com os erros de arbitragem - os responsáveis dos principais clubes, como sempre, e sobretudo os responsáveis dos clubes que mais vezes discutem os títulos.
A falta de fair play, a incoerência e a pouca vergonha dos que acusam quando se sentem prejudicados e se calam quando são beneficiados, faz, lamentavelmente, há muito, parte deste futebolzinho português tantas vezes tão grande dentro das quatro linhas e tão pequeno fora delas, como mais uma vez fica expresso numa época em que o FC Porto chega aos quartos de final da Liga dos Campeões e o Benfica aos quartos de final da Liga Europa, e uma surpreendente e talentosa equipa portista de sub-19, já com impressionante maturidade competitiva, chega a campeã da Europa da categoria, frente a poderosos adversários de países muito maiores do que o nosso e com capacidade desportiva e financeira incomparavelmente maior do que a nossa, e, por isso, muito mais capazes de formar grandes atletas e grandes jogadores de futebol em particular, poder esse desta vez insuficiente, porém, para travar o sucesso dos brilhantes jovens do FC Porto.
Como os sucessos das diferentes equipas portuguesas continuarão, infelizmente, a ser insuficientes para travar a hipocrisia dos que passam a vida a fazer tanto mal ao futebol!
TÃO enorme foi a vitória do Sporting na UEFA Futsal Cup como menor foram muitas das coisas ditas pelos leões na hora de celebrar, ao ponto de se tornar incompreensível como foi o próprio presidente leonino capaz de se referir ao título de campeão da Europa agora conquistado pelo Sporting como o primeiro título de campeão da Europa de futsal a vir para Portugal quando se sabe ter sido o Benfica, em 2010, a primeira equipa portuguesa a consegui-lo, numa final four então realizada em Lisboa, tendo a águia batido na final a equipa espanhola do Interviú, que veio, depois, a dar lugar ao atual Inter Movistar.
À inexplicável gaffe de Frederico Varandas juntaram-se, mais uma vez, alguns sempre lamentáveis mas infelizmente normais cânticos dos adeptos, neste caso, cânticos anti-Benfica, na festa leonina que decorreu no Pavilhão João Rocha, mas que desta vez contaram com o incompreensível apoio e voz dos próprios jogadores leoninos, num comportamento que não pode deixar de ser reprovável, porque aos atletas, que são, ainda por cima, profissionais, exige-se fair play, respeito pelo adversário e ética na hora da vitória, ao contrário do que pode esperar-se, infelizmente, dos adeptos, sejam de que clube for, em Portugal ou no estrangeiro, sobretudo de adeptos dos grandes clubes como são os casos, no nosso país, de alguns dos adeptos de Sporting, Benfica ou FC Porto.
O fantástico sucesso da equipa de futsal do Sporting, melhor equipa europeia do momento e, há muito, a melhor equipa portuguesa, conduzida há sete (!!!) anos por esse mago do futsal que é, sem qualquer dúvida, o treinador Nuno Dias (que designei, um dia, com todo o respeito, como o «Mourinho do futsal»), não merecia estes comportamentos menores, sempre intoleráveis, tenham a cor que tiverem, quando o protagonismo é, não de adeptos, mas de dirigentes ou atletas.
Já basta o descontrolado e furioso comportamento de alguns adeptos, como o comportamento da claque portista em Vila do Conde, a que o País pôde assistir, e a que treinadores e jogadores do FC Porto se sujeitaram em nome de uma estranha relação com quem, no FC Porto, parece ter força (ou poder?) muito acima do que, na maioria dos clubes, se atribui ou se espera das claques.
HÁ muito tempo que não se via uma equipa jogar em Barcelona como o fez o Liverpool esta quarta-feira. Azar da equipa britânica não ter podido contar a cem por cento com o brasileiro Firmino - que, vindo de lesão, Klopp só fez jogar por uma dezena de minutos -, porque nos pés de um Firmino em pleno é muito provável que aqueles lances em que a bola foi parar aos pés de Milner tivessem um destino bem diferente e bem mais agradável para os rapazes de Jurgen Klopp.
Em todo o caso, parecia estar escrito nas estrelas que mesmo jogando muito, como na verdade jogou, e mesmo criando tantas situações para marcar como na verdade criou - e desperdiçou - dificilmente o Liverpool conseguiria impedir que Lionel Messi fizesse o que costuma fazer na grande maioria das vezes, que é resolver o jogo quando o jogo pede mesmo que seja ele a resolvê-lo.
Por muita admiração e respeito que este Liverpool mereça dos adeptos do futebol, a verdade é que ninguém acreditará que os reds sejam agora capazes de dar a volta à desvantagem de três golos, ainda por cima sem contarem com qualquer golo marcado em Barcelona.
Com a exibição de se lhe tirar o chapéu, fica a extraordinária imagem de um futebol a lembrar os velhos tempos do saudoso Liverpool campeão e fica o orgulho de ter sido certamente este Liverpool uma das pouquíssimas equipas nos últimos dez anos a ter em Camp Nou mais posse de bola do que o Barcelona.
Tendo chegado às meias-finais da Champions e estando a discutir com o City o título de campeão inglês, é verdade, ainda assim, que o mais provável seja, no final, vermos o Liverpool voltar mais uma época a não ganhar nada.
Deixará a equipa de Klopp, insisto, a boa recordação de ter voltado a entusiasmar os adeptos e adversários e de ter recuperado a admiração da Europa do futebol, como é, também, o caso do agora vencedor Ajax, também a lembrar o Ajax de outros tempos. O que já não é nada pouco.
Pode a admiração não substituir as vitórias; mas sempre é uma recompensa, sobretudo para quem faz tão bem ao futebol!