Sempre Benfica!
1 - O Benfica perdeu, no seu reduto, contra o SC Braga para o campeonato nacional. Já não acontecia há 65 anos, era eu uma criança.
Sobre o jogo falarei adiante. Um desaire do meu Benfica perfura-me a alma, sem cuidar da anestesia. Uma vitória do meu Benfica alimenta-me mais do que o mais calórico dos alimentos e anima-me mais do que uma mão cheia de antidepressivos. Na vitória, o meu amor ao clube é partilhado, mas na derrota o mesmo afecto toma a forma de solidão. E, como acontece com a pessoa amada, o seu verdadeiro teste concretiza-se nos momentos difíceis.
É em horas mais tristes que vejo o meu clube como um privilégio de coração e uma cumplicidade que afasta todas as outras circunstâncias. Seja na vitória, seja no desaire, o Benfica aconchega-se dentro de mim e eu dentro dele, num sentimento de pertença mútua, sem personagens, sem fronteiras, sem outras referências. Apenas a imanência de o Benfica estar dentro de mim e eu dentro do Benfica.
Basta passar os olhos pelas redes sociais para perceber como estranhamente convergem as naturais hossanas de adeptos de clubes rivais com certas críticas a quente de pessoas que se dizem benfiquistas. Até posso perceber a decepção e a raiva nos momentos que se seguem a derrotas, como a de sábado, só não aceito que alinhem com o radical clube do anti-Benfica e contribuam para uma atmosfera de desalento e de derrotismo quiçá bastante exagerados.
No futebol, nada é definitivo. No futebol, e durante uma época, há momentos de intenso júbilo vitorioso e de depressivo tempo de insucesso. No futebol, há momentos de sorte (e o Benfica já os teve) e momentos de azar (que também já os sofreu). No futebol, há tendência para o exagero quando se vence e se está na dianteira e para o bota-baixismo diante de um desaire. No futebol é fácil congregar na vitória, mas é mais decisivo unir perante a derrota. Os benfiquistas estão, pois, confrontados com este desafio: continuando na rota do título ainda que, agora, sem margem de erro, devem apoiar a equipa e não se deixarem contaminar por algum desalento, tantas vezes induzido por vias travessas.
No futebol a opinião é movediça, demasiado conjuntural, ao sabor do momento, cheia de hipérboles abonatórias ou de amplificações destrutivas. Há pouco mais de uma semana, toda a gente falava de um Benfica hegemónico, de um Porto em crise prolongada, de um desnível entre a capacidade do SLB e tudo o resto, de uma estratégia segura e duradoura, de uma competição não competitiva, de Bruno Lage sólido. Agora, tudo se inverteu. Afinal, no campeonato já há abundante competitividade no nosso cantinho futebolístico, o Benfica deixou de ser o clube de vanguarda, o Porto é um prodígio de sabedoria e capacidade, Sérgio Conceição é, abrasivamente, o rei da união portista. Isto tudo dito pelos mesmos intérpretes sem pestanejar. E quem sabe se daqui a algum tempo não voltarão ao ponto de partida.
Em suma: é fácil ser adepto fervoroso de um clube quando tudo corre bem; no entanto, o mais significativo desse fervor é estar ao lado do clube num momento mais difícil e doloroso. Como, aliás, tem sido bem audível no apoio nos campos de futebol.
2 - Sobre o jogo da Luz, começo por referir que foi um dos melhores jogos deste campeonato, sobretudo na primeira parte. O Braga foi feliz, mas lutou por sê-lo. É, inegavelmente, uma equipa magnífica que em menos de um mês, venceu os cinco jogos com os ainda chamados grandes, sendo que ganhou na Luz e no Dragão. Claro que teve alguma felicidade em momentos decisivos destes encontros, mas trata-se de um plantel (sim, também, com um excelente banco) valioso que, financeiramente, custa muito menos do que o dos três clubes referidos. Além disso, descobriu Rúben Amorim, um jovem, sagaz e educado técnico, com consciência da transitoriedade inerente ao futebol, e que, de facto, revolucionou o espírito, a estratégia e a coesão do futebol do Braga.
O Benfica poderia ter resolvido o jogo a seu favor nos primeiros trinta minutos, onde se superiorizou ao adversário. Desta feita, faltou-lhe a eficácia letal que tem caracterizado a sua acção em jogos anteriores. Percebe-se que a equipa está algo cansada (ou melhor, alguns atletas) e - ao contrário do que parecia há tempos - existem posições sem uma alternativa adequada. É o caso da posição de lateral-esquerdo, onde Grimaldo precisaria de descansar em algumas partidas, de um outro defesa-central, sendo que Ferro está manifestamente em baixa de forma, e de alternativas fortes no meio-campo. Este são os pontos que me parece terem sido menos bem tratados no mercado de Janeiro. Faltou contratar um defesa-central à altura das exigências e um lateral-esquerdo (digo isto, no pressuposto de haver razões para a não utilização de Nuno Tavares, que desapareceu do radar após o início da temporada, ainda que jogando à direita). Foi um azar - obviamente não previsível - emprestar Gedson, quando, dias depois, Gabriel se viu impossibilitado de jogar durante um longo período. Bom seria ter agora a opção de Zivkovic que, pelos vistos, se sente bem em receber um farto salário sem grande trabalho. Já Samaris talvez merecesse ser mais bem aproveitado, tendo em atenção a importância que teve na reconquista no ano passado, precisamente por causa de uma lesão prolongada do mesmo Gabriel. Por fim, repito o que já aqui escrevi: deixar sair Salvio, um jogador que, embora irregular, era capaz de resolver jogos complicados e contratar Caio Lucas, um brinca-na-areia que logo se viu que não passava disso, foi incompreensível.
3 - Gabriel. Mais do que a sua falta (muito grande, mesmo) no plantel do Benfica, importa atender à pessoa, agora que está confrontado com uma situação clínica delicada. Nesta coluna, quero expressar os meus votos de total recuperação, sabendo, de antemão, dos cuidados clínicos, pessoais e familiares que o clube lhe está a prestar. Enquanto sócio e adepto do clube, e no plano desportivo, estou-lhe grato pelo seu impecável profissionalismo, pela sua competência e pela sua entrega e disponibilidade em campo. Gabriel tem sido um jogador azarado. Esta é sua terceira incapacitação prolongada nas três épocas que leva de águia ao peito. Quis o destino que a última acção desta temporada tenha sido o terceiro golo marcado ao Famalicão no último minuto, o qual verdadeiramente permitiu ao Sport Lisboa e Benfica estar na final da Taça de Portugal.
4 - O Manchester City foi duramente castigado pela UEFA, não só em termos pecuniários, como e sobretudo pela sua exclusão das provas europeias (neste caso, leia-se da Champions) por batotas financeiras e contratuais que lhe permitiu fugir ao espartilho do fair play financeiro. Tenho pena desta situação, sobretudo pelo Bernardo Silva, brilhante jogador, e por Pep Guardiola, grande treinador. Mas, ao mesmo tempo, fiquei satisfeito pelo facto de esta decisão provar que não há clubes acima das regras. Quanto aos factos em que se baseou a sentença, nada que seja surpreendente neste mundo global do futebol, onde a ganância e a aldrabice andam de mãos dadas. Coincidência ou não (vide também o PSG e outros clubes), trata-se de um clube adquirido por um magnata de petrodólares e de outros rendimentos fáceis, o que talvez nos deva fazer pensar sobre este tipo de aquisições feitas mais em nome do endeusado dinheiro do que do futebol. O futuro o dirá…
5 - Tratando-se embora de uma classificação não oficial, A BOLA faz o escalonamento dos árbitros nos seus jogos da temporada. Como já estamos para lá do meio da época, este ranking tende a esbater a subjectividade de cada apreciação e dá uma boa ideia do desempenho arbitral. E o que constatamos ao ver a classificação? Os piores árbitros (de uma lista de 16) são os gurus oficiais e sempre designados para os jogos mais decisivos, Jorge Sousa e Artur Soares Dias, a uma grande distância do melhor (João Pinheiro). Por coincidência, estes dois árbitros treinam no centro de estágios da Maia, alvo de pressões e sevícias a que, porém, ninguém com responsabilidades liga. Para bom entendedor…
Nesta lista dos primeiros 16 árbitros, é também sintomático não aparecerem dois juízes que, na minha opinião, são a expressão da pior arbitragem que temos de suportar através de um incompetente Conselho de Arbitragem: o inefável Fábio Veríssimo e o enviesado Tiago Martins agora remetido mais ao esconderijo do VAR, onde continua inspirado.
P.S. Abominável, a todos os títulos, o que aconteceu com o jogador Marega, numa vergonha perpetrada por indivíduos que jamais deveriam estar num estádio de futebol. Aplaudo a reacção imediata das entidades que supervisionam o futebol, esperando que, desta feita, saibam tomar as medidas punitivas e, sobretudo, preventivas que se impõem. Mas não bastam comunicados. E, neste momento, recordo também os insultos racistas a Nélson Semedo, também em Guimarães, em 2017, sem qualquer reacção mediática e sem a devida punição.