Semana 8 - Dia da Mãe

OPINIÃO03.05.202004:00

1 - Foi a semana do fim do estado de emergência e, hoje, arranca a quinzena da situação de calamidade. Com regras jurídicas específicas e vinculantes - as que constam de competentes diplomas legislativos - e outras estimulantes de deveres cívicos e que estão vertidas numa Resolução do Conselho de Ministros. A sagacidade e a precaução jurídicas do Governo distinguem, e bem, o que pode impor do que pode sugerir. E, assim, numa semana em que, de verdade, o confinamento se aplicou a quase todos - o que nos faz sempre distinguir a legitimidade da legalidade - começamos a ter algumas luzes ao fundo dos túneis nesta sociedade da distância - e da solidão - a que, por ora, estamos vinculados a respeitar. Mas em que não pode haver a real perceção que há uns mais iguais eu outros!  Temos, em crescendo, a nostalgia da liberdade. E temos, de verdade, fome da bola. Temos, a sério, saudades da emoção dos jogos, das competições. A nossa paixão pelo desporto está adormecida e só é atenuada pelos jogos e pelas provas que revemos, pelas leituras que fazemos, pelas fotografias que redescobrimos. Mas também pressentimos que poderá haver um medicamento eficaz contra este vírus que, em coroa, nos angustia e paralisa. E, aqui, com um possível envolvimento de uma empresa portuguesa, o que a ser real , é uma entusiasmante e motivante notícia.

2 - Foi a semana em que o Governo, pela voz firme do primeiro-ministro, mostrou ao futebol que não impedirá, em certas e rigorosas circunstâncias, que a primeira liga profissional termine, nos relvados - mas em estádios extraordinariamente avaliados - a presente época desportiva. Os tempos são singulares e levam, num ápice, à destruição de conceitos que muitos julgavam inquestionáveis ou, mesmo, impossíveis. Muitos, quase todos, diziam que o poder político não podia intervir no movimento associativo desportivo e nas suas e próprias regras de governação, e por, excelência, das suas competições. Sob pena da UEFA e FIFA - sempre considerados os papões! - «punirem duramente» a ingerência dos Governos, ou, até, dos Parlamentos. Num instante legislativo em França, como mero exemplo, o Governo determina o «fim da época desportiva». E na Holanda e na Bélgica o futebol só regressa, por sugestão politico-sanitária, em setembro. E, por cá, terminam, numa comunicação conjunta, os campeonatos de andebol, basquetebol, voleibol e hóquei em patins. E os campeonatos distritais de futebol e, agora, até, a segunda liga. O poder político, em direta articulação com as autoridades sanitárias, decide o que pode continuar e o que deve terminar. Como define, na economia concreta, o que pode, e quando, abrir e o que tem de continuar encerrado. Nunca o Estado teve tanto poder, tanta autoridade e, digo-o, tanta influência. Nunca o poder político teve tantas adversidades pela frente e tantas responsabilidades de múltiplas atuações. E nunca, como hoje, percebemos que decisões partilhadas são necessárias para salvaguardar, nestes momentos de fragilidades e inseguranças, o futuro próximo de setores de atividades, de específicas indústrias, de realidades em profundo sofrimento. Como o caso da cultura e da comunicação social. Como o caso da indústria do futebol. E, aqui, ou há solidariedade ou há total fracasso. Ou há um mínimo denominador comum ou há autónomas fatalidades. Ou há prudência em comportamentos - em localismos desesperantes - ou há múltiplas privações. E a pandemia, e os seus efeitos, exigem maturidade e não mediocridades! A não ser que alguns desejem que os tribunais, e em particular o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), tenham um verão bem quente. O vírus, em coroa, mata e mói! Mesmo!

3 - Na passada sexta-feira participei na Quinta da Bola. Foi uma quinta à sexta. Eu, o Vítor Serpa e o José Manuel Delgado - numa proximidade não distante - escutámos, a partir de Kiev, o Professor Luís Castro. Foram quase cem minutos de aprendizagem. Um homem do futebol que não esquece as origens, desde logo Águeda e o seu Recreio. Um treinador hoje em dia a tempo inteiro mas que nos recorda que só o foi quando chegou ao Penafiel. Um estudioso do futebol que nos chama atenção, nestes tempos, para a fragilidade dos humanos e para a insegurança que nos rodeia e nos atinge. E nos adverte, ele que jogou há poucas semanas com o seu atual clube na Alemanha à porta fechada, para esse novo futebol. Sem público e sem sons. Sem o impulso acrescido para quem joga em casa - mesmo que, em certos casos, e como o Benfica mostra, o fora seja equivalente a casa - e sem que haja uma específica pressão acerca da arbitragem. O que sabemos é que os jogos à porta fechada, por decisão própria e não em resultado de sanções aplicadas, implicam diferentes criatividades. Desde logo para os operadores televisivos e, até, para os comentadores dos jogos. Não para os pós-jogos. Mas estes tempos também nos ajudarão a perceber a força do tecido associativo dos clubes. Sem portas abertas a relação de pertença não pode diminuir. Em tempos extraordinários e únicos a pertença tem de ser de uma crença permanente e implica uma profunda fé no regresso à nossa cadeira, ao nosso estádio, ao fraterno convívio com os nossos amigos. E que isso vai acontecer, graças à ciência partilhada, daqui a alguns meses. Até lá vamos atenuar a fome da bola com o gosto, sempre distante, de a ver saltar e tocar nas redes. E acreditar que as comemorações dos golos serão diferentes nos gestos partilhados mas serão equivalentes na alegria e no prazer suscitados. No final, e afinal, estes tempos são históricos, por serem únicos. São tempos em que, mesmo nos momentos exaltantes, o gesto solitário é um gesto partilhado. E, desta forma, percebemos, tal como no nosso quotidiano, quando as diferentes instituições são postas à prova, que o futebol não pode alienar as suas responsabilidades e a salvaguarda da sua essência, que são os seus múltiplos e diferenciados clubes e, logo, os seus adeptos. E fazer acreditar a todos(as) que vão regressar à sua catedral, aos seus estádios, ao seu relvado, ao seu lugar . E nestes instantes de sombras lembrar Johann Goethe: «A claridade é uma justa repartição de sombra e de luz!» Mesmo de luz. E para mim na Luz!

4 - Hoje comemora-se o Dia da Mãe. Sabemos que o dia da comemoração varia de país para país e que, por exemplo, no Brasil apenas tem lugar no segundo domingo de maio. O que sabemos também é que o primeiro momento de comemoração ocorreu em maio de 1914 nos EUA e após um conjunto de eventos que, desde 1858, celebravam as Mães e as suas acrescidas responsabilidades em tempos de importantes mudanças e emergências sociais, como os efeitos dramáticos da americana Guerra da Secessão. Também sei que durante muitos anos celebrei o Dia da Mãe no dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição. E aprendi, e nunca esqueci, que desde D. João IV (1646), e em reconhecimento pela Restauração da Independência, os nossos Reis deixaram de usar a coroa na cabeça e declararam a Nossa Senhora da Conceição padroeira e Rainha de Portugal. Neste dia em que recordo, com muita saudade, a saudosa senhora Minha Mãe, tenho bem presente, nesta solidão que me invade e nesta nostalgia que me toca, que «uma Boa Mãe é um mistério com três dons: a simplicidade, a presença e o silêncio». E a saudosa Senhora Minha Mãe, que hoje recordo e em cada 8 de dezembro homenageio, conciliava aqueles dons sabendo bem que «uma Mãe vê-nos a alma só de nos admirar o olhar»! Alma e olhar neste Dia da Mãe!