Seis pontos que só valem cinco

OPINIÃO13.04.202106:05

O diálogo fluente entre Paulinho e Pedro Gonçalves sugere que a solução será aproximá-los e não afastá-los

R ÚBEN Amorim resolveu fazer obras em casa.  A equipa continuava a responder bem, apesar de algumas oscilações exibicionais,  nada comprometedoras e perfeitamente compreensíveis. Mas a rápida integração de  Paulinho, cuja contratação se deveu a um pedido do treinador leonino, implicou mudanças: necessárias, na perspetiva de quem as concebeu,  talvez precipitadas, na visão do observador externo.
Para quê mudar se tudo corria de feição? A questão é pertinente e tem a ver em concreto com  as várias alterações em pontos nevrálgicos da organização leonina, introduzidas sem a devida ponderação, como se percebeu.
Empatar  com o Moreirense e, logo a seguir, com o Famalicão, nenhum drama esconde. Reflete uma situação normal, por que todos os candidatos ao título já passaram. Além de que, com apenas oito jornadas por realizar, seis pontos representam uma vantagem difícil de anular. Seis pontos que, no entanto, só valem cinco na discussão direta com o FC Porto. Em caso de igualdade pontual final, o dragão tem vantagem, como reza o regulamento de competições, pelo «maior número de golos marcados no estádio do adversário, nos jogos que realizaram entre si»: 2-2 em Alvalade e 0-0 no Dragão.
 Em Moreira de Cónegos, o leão deu alguns sinais de instabilidade,  embora disfarçados pelo prometedor entendimento entre Paulinho e Pedro Gonçalves. Uma semana depois, a mesma equipa, que tem vivido de João Palhinha a trabalhar de sol  a sol, de João Mário a pensar e organizar e de Pedro Gonçalves  a desequilibrar e finalizar, de repente, sentiu-se espoliada da identidade adquirida, vendo Palhinha sem o amparo do seu guia, João Mário desviado para outra posição/função  e Pedro Gonçalves, que gosta mais de ter bola do que correr por ela, retirado do espaço onde era feliz, próximo da baliza adversária.  
Por outro lado,  o diálogo fluente entre Paulinho e Pedro Gonçalves, em que  o primeiro marcou ao Moreirense e o segundo ao Famalicão, sugere que a solução mais adequada será  aproximá-los e não afastá-los. 


JORGE JESUS 

HÁ treinadores que não sabem o que dizem, como Jorge Jesus, e outros que não sabem o que fazem, como Miguel Cardoso,  ambos protagonistas, na mesma jornada, por motivos nada abonatórios..
O primeiro, considerando-se o sábio mor no futebol da lusa paróquia, condenou  o jogador Stephen Eustáquio pela intencionalidade deste no lance perigoso com Julian Weigl.
Jorge Jesus fala de mais, como afirmou Manuel José, na entrevista publicada em A BOLA, na edição da última sexta-feira, 9 de abril, dia em que o vencedor de quatro Ligas do Campeões Africanos, entre outros títulos relevantes, comemorou o  seu 75.º aniversário.  
Disse ele, com imensa graça, sobre o treinador do Benfica: «O Jesus é um excelente treinador. Digam o que disserem. Infelizmente, e é um dos males dele, tem uma patologia: nunca erra e tem muita gabarolice (…). Já entrou no anedotário nacional e nem assim é capaz de ficar calado. Diz coisas que não deve.»
Pois não, como dizer o que disse sobre Eustáquio, acusando-o de ter tido  «nítida intenção» de magoar  Weigl e que se fosse ele, treinador ou presidente do Paços, aplicar-lhe-ia uma multa. Depois, na conferência de Imprensa, travou a fundo, e, afinal, concluiu que  não foi por querer. Ou seja, mais uma oportunidade perdida para ficar calado,  ficando-lhe  mal dizer coisas que não deve, por ser treinador do Benfica e  por respeito à grandeza e à história do clube que serve.
Em contraposição, Pedro Pepa, um treinador de risonho futuro se a sorte o ajudar, revelou a sensatez que faltou  a Jesus: «O Benfica foi melhor, ganhou bem, mas tem de ser ter cuidado com o que se diz.» Pois tem…
A propósito do mesmo caso, deve assinalar-se a resposta do presidente do Paços de Ferreira, Paulo Meneses: «(…) É só mais uma pérola de um grande treinador, que não tem outras dimensões, infelizmente. Mas, atenção ao seguinte, eu não confundo a instituição Benfica com a pessoa.»
Luís Filipe Vieira, o autor do projeto, quando puder,  deve agradecer ao presidente pacense  a  sua cortesia por não confundir a árvore com a floresta.


MIGUEL CARDOSO

O gesto ordinário de Miguel Cardoso é grave, e mais grave se torna pelo facto de o treinador  do Rio Ave  não ter reconhecido a gravidade do que fez.
 Errou e repetiu o erro porque quis, ninguém o obrigou. O ambiente especial que caracteriza a zona dos bancos de suplentes no Estádio do Bessa não é de hoje, tem anos de histórias, o que em nada desculpa a atitude de Miguel Cardoso, apesar de ele próprio se ter ilibado de algum reparo ou punição. O gesto não foi bonito, assumiu, mas considerou-o «mais do que justificável».  
Não foi bonito nem, sequer, justificável. Foi lamentável e deve ser penalizado por isso. Além de não ter feito o que se lhe exigia: em primeiro lugar, penitenciar-se pelo seu desvario ao clube que representa e aos seus associados e adeptos.
O excelente trabalho do presidente António Silva Campos, que deu estabilidade  e futuro ao emblema vila-condense, não deve ficar manchado por este gesto.  Miguel Cardoso pecou. Peça desculpa, de viva voz. Louve o nome Rio Ave e será mais respeitado por isso. Se quiser…