Sei que não vou por aí!...

OPINIÃO17.08.201900:39

E não me falha a memória, em 10 de Julho de 2018, foi enviado o seguinte comunicado à CMVM: «A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL - FUTEBOL, SAD (adiante SPORTING SAD ou Sociedade) vem, nos termos e para efeitos do cumprimento da obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 248º- A, nº 1 al. a) do Código dos Valores Mobiliários, informar o mercado que a Sociedade e o jogador Bruno Miguel Borges Fernandes acordaram em celebrar, na presente data, um novo contrato de trabalho desportivo, válido por cinco épocas desportivas, nos termos do qual foi fixada uma cláusula de rescisão no valor de € 100.000.000,00.»


Durante a apresentação do jogador, Sousa Cintra elogiou o comportamento «exemplar» de Bruno Fernandes pela forma como decidiu voltar a Alvalade: «Grande satisfação e orgulho por estar aqui com o melhor jogador de Portugal. Bruno Fernandes é um caso à parte. Como jogador e como pessoa. É o jogador que o Sporting queria. Teve um comportamento exemplar, pela forma como quis regressar ao Sporting e ajudar o Sporting a lutar para ser campeão. Tínhamos de resolver este assunto. O jogador não quis que o ordenado fosse aumentado. Já lhe disse que tem aqui um amigo para a vida. E os sportinguistas estão-lhe muito gratos».


Se bem percebi o que tenho ouvido, o jogador não terá recebido nada pelo regresso, mas o seu empresário terá recebido uma modesta comissão  de um milhão e seiscentos mil euros, contra a qual aliás nada tive, nem tenho!
Se não me falha a memória, de resto reavivada pelas noticias de então, a 21 de Julho de 1918, era anunciado o regresso de Bas Dost, que havia rescindido na sequência dos acontecimentos de Alcochete. A imagem de Bas Dost com um enorme lanho na cabeça é a imagem que perdura na memória de todos como um símbolo do que aconteceu em Alcochete! Na ocasião, segundo as notícias, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o clube informou que celebrou com o jogador «um novo contrato de trabalho desportivo, válido por três épocas desportivas, tendo sido fixada uma cláusula de rescisão no valor de € 60.000.000,00». Também, segundo as mesmas notícias, Sousa Cintra, durante a apresentação, desmentiu as notícias recentes de que a contratação estava dependente da garantia de serviços pessoais de segurança, e afirmou: «O Bas faz a diferença, como homem, pessoa e jogador. O que importa é que ele não fez exigências nenhumas, vem com o mesmo contrato, está aqui de alma e coração para ajudar o Sporting a ser campeão. Ele pertence à família sportinguista.»
Se bem tenho ouvido e percebido não foi bem isto o que aconteceu, antes teria sido celebrado um novo contrato, e bastante mais elevado. Ou será que percebi mal? Acuña não chegou a rescindir; Battaglia também rescindiu mas regressou, ao contrário de Rafael Leão, Rúben Ribeiro, Gelson Martins, William Carvalho, Rui Patrício e Daniel Podence.


Não vou aqui lembrar o que se disse em campanha, sobre estas rescisões definitivas, porque tornar-se-ia caricata a proclamação do «até às últimas consequências». Só teria aliás interesse recordar o único que teve a possibilidade de cumprir ou não cumprir o prometido. Um ano depois, recebemos alguma coisa por Rui Patrício, William Carvalho e Gelson Martins, sendo certo que não cobriu o revés desportivo e financeiro, mas também, provavelmente, não seria possível fazer melhor! A verdadeira

extensão do prejuízo de Rafael Leão está ainda por apurar. Salvaram-se três dos melhores activos, nenhum deles aliás da formação. Curiosamente, um ano depois, são estes os três nomes na berlinda como possíveis e neces

sárias vendas - Bruno Fernandes, Bas Dost e Acuña.
Salvo melhor opinião, desportivamente, o Sporting não se devia desfazer de nenhum destes três activos. Mas, segundo se diz, o Sporting precisa urgentemente de satisfazer necessidades de tesouraria e reduzir a massa salarial global.
E, então, tenho de voltar outra vez um ano atrás e reler o que então candidato, e agora presidente, prometeu a nível financeiro: «Garantir que o Sporting Clube de Portugal mantém a maioria do capital social da Sporting SAD, assegurando a recompra das VMOC dentro de um quadro negocial que assegure um efetivo controlo dessa maioria; renegociar a dívida bancária consolidada, mantendo a receita de quotização fora do pacote de garantias do passivo fi nanceiro; negociação do naming do estádio e da Academia, associando o Sporting Clube de Portugal a parceiros de referência mas mantendo a identidade!»


Pareceu-me muito pouco, e depois de se ter posto de lado um projecto de reestruturação financeira com cabeça, tronco e membros, pode mesmo dizer-se que não é nada e a consequência está à vista, ou seja, em vez de investimento para encurtar distâncias, desinvestimento para suprir dificuldades de tesouraria, com a consequente perda de competitividade desportiva. Perante um rival que respira saúde financeira e desportiva, que vai dois anos seguidos à liga dos milhões e pelo meio vende a joia, mas fica com os dedos cheios de anéis, para até poder fazer disparates, sem perda de força desportiva, estamos nós a contar os tostões, sem qualquer preocupação presente ou futura. Não consigo perceber qual a ideia, qual o projecto, qual o rumo?


Há uma semana falei nos fossos abertos e a abrir no Estádio José de Alvalade. Para o lado de dentro, o fosso entre a bancada e a relva tapa-se com cimento! É uma obra simples de engenharia civil. O fosso, em sentido figurado, para o lado de fora, nacional e internacional, não se tapa com areia, seja para a vala, seja para os olhos das pessoas. Não pode ser também simples engenharia financeira, porque também não passará de tapar o sol com a peneira. É necessário investimento, em termos financeiros e de recursos humanos, visando um modelo de crescimento, um projecto concreto e definido.


Por mais que olhe a minha realidade e a dos outros não consigo perceber por onde vamos e para onde vamos! E citando mais uma vez o poeta - já em tempos o fiz -, «não sei por onde vou, não sei para onde vou, só sei que não vou por aí»!