Schmidt sabe o que tem pela frente
Dragão e leão têm edifícios futebolísticos a precisarem apenas de melhoramentos pontuais, o da águia vai ser sujeito a obras profundas
OFC Porto é campeão nacional com absoluto mérito. Os números são avassaladores e não deixam espaço para qualquer dúvida. Novo máximo de pontos (91), em 34 jornadas apenas uma derrota sofrida e quatro empates consentidos, o que é notável, mais golos marcados (86) e menos golos sofridos (22).
O segundo lugar, e correspondente acesso direto à próxima edição da Liga dos Campeões, é propriedade do Sporting e a diferença de seis pontos relação ao líder e os onze de vantagem para o terceiro classificado revelam que também, sobre este assunto, nenhuma discussão subsiste. Foi menos competente que o dragão, mas muito superior à águia. A realidade pode ser difícil de encarar para a família benfiquista, mas é o que há. Aceitá-la e seguir em frente é o melhor remédio.
Quem, no conjunto de seis jogos que teve de realizar com os rivais na presente temporada, perdeu cinco, três com FC Porto (0-3, 1-3, 0-1) e dois com o Sporting (1-3, 1-2), fica muito limitado para tentar justificar o que para o adepto comum não tem justificação possível, razão pela qual me parece despropositada a política comunicacional adotada pelo emblema da águia, característica de uma herança cultural que tem passado por várias gerações e por detrás da qual se refugiam dirigentes e treinadores, transferindo para os árbitros todas as culpas de cada vez que o fracasso desportivo lhes bate à porta.
Há exceções, felizmente, cada vez em maior número, que se aplaudem, mas a regra continua a ser mesma, o que não quer dizer que o Benfica insista em fazer mal o que até há poucos anos fazia bem. Pode ser, até, um interessante desafio neste ano 1 da presidência de Rui Costa: acabar com este inócuo ramerrão de queixinhas e impor um modelo de mensagens elevado e forte que espelhe a verdadeira imagem do maior clube português.
HÁ uma semana escrevi neste espaço que Rui Costa tinha de meter mãos à obra, porque o trabalho vai ser árduo e demorado, na medida em que, depois de dois anos perdidos, não vai ser fácil suplantar os rivais.
Dragão e leão têm os seus edifícios futebolísticos estabilizados, a precisarem apenas de melhoramentos pontuais, enquanto o da águia, como é mais ou menos público, vai ser sujeito a obras profundas. A começar pelo anúncio do treinador o que, só por si, suscita um caudal de interrogações/preocupações, compreensível em qualquer processo de mudança.
Concretamente, não há certezas sobre o que aí vem, e o desconhecido provoca sempre nas pessoas uma sensação não direi de medo, não é caso para tanto, mas de compreensível desconforto, por se tratar de uma aposta num estrangeiro, embora acertada do meu ponto de vista, por ser alheio às nossas gritarias bairristas e poder concentrar-se no seu trabalho. De aí a importância de uma estrutura comunicacional mais competente, o que não quer dizer mais barulhenta, de modo a facilitar a sua adaptação a uma realidade social e futebolística que lhe é estranha.
A opção por um treinador alemão é ousada, sim, mas sensata, pelos motivos aduzidos. Sobre este, em concreto, coloco as habituais e normais dúvidas sempre que se nos depara uma figura que conhecemos mal, como é o caso, mas acredito que quem o escolheu sabe o que fez e acredito também que Roger Schmidt sabe o que tem pela frente.
Roger Schmidt aguarda oficialização
TERMINOU o campeonato da Holanda, o Ajax foi o campeão e o seu treinador, Erik ten Hag, há muito anunciado e confirmado no Manchester United, despediu-se dos adeptos neste domingo e informou que não acompanhava a equipa na viagem de fim de época. Porquê? Vai começar a trabalhar intensamente no clubes inglês para «finalizar o staff e planear o plantel», tendo-se referido, em particular, a Cristiano Ronaldo: «É gigante por tudo o que já mostrou e pela ambição que continua a ter. É claro que quero trabalhar com ele.»
Roger Schmidt, por seu lado, treinador do PSV, que ficou em segundo lugar, foi muito mais discreto no que disse. Porquê? Primeiro, queria passar a noite, algum tempo, seja o que for, com os seus jogadores, e só depois pensar no futuro. Questionado acerca do Benfica, a resposta não podia ser mais desanimadora: «Não vou falar de outro clube neste dia», ou seja , anteontem, depois do último jogo do PSV (vitória 2-1 com o Zowlle, na última jornada).
Em conclusão, Ten Hag começou a preparar o futuro, como treinador do United, e depois, naturalmente, irá reservar dias para férias. Ao contrário, Roger Schmidt pretende gozar férias agora, com a certeza de se manter em contacto com a administração do Benfica, e só viajará para Lisboa «mais perto do início dos trabalhos», marcado para 24 de junho.
Situações idênticas, contadas em versões diferentes. Boa a de Ten Hag, enigmática a de Roger Schmidt. É aqui que a comunicação devia entrar em campo, para limar arestas, eliminar ruídos e serenar os adeptos. Fica a notícia dada por A BOLA de que a ligação entre as partes será oficializada nos próximos dias.