Saudade, aquela palavra só portuguesa

OPINIÃO02.01.202305:30

2022 foi um ano de grandes ‘reforços’ para a ‘Liga do Céu’. Alguns, como Fernando Gomes ou Fernando Chalana, partiram cedo demais...

Oano de 2022 levou-nos muitas pessoas que nos habituámos a considerar como parte do nosso quotidiano. O que escreveu Camilo José Cela, «a morte é uma amarga pirueta de que os vivos, e não os mortos, guardam recordação», vai na linha do que postulou Jean Paul Sartre, «estar morto é estar entregue aos vivos» e um e outro destes pensamentos colocam-nos perante a obrigação de não esquecer, nem deixar que sejam esquecidos, os que partiram, também porque, citando José Luís Peixoto, «contemplarmos o desaparecimento de alguém acaba sempre por ser uma forma de anteciparmos e refletirmos sobre o nosso próprio desaparecimento.» Gostaria de trazer a esta página, quando ainda estamos a estrear 2023, dois amigos que partiram cedo demais no ano que findou, Fernando Chalana e Fernando Gomes, vultos incontornáveis do nosso futebol, é certo, embora não sendo nessa condição que aqui evoco a sua memória. Mas a verdade é que 2022 foi particularmente duro com futebolistas de elite, e é possível fazer uma equipa que jogaria sempre para o título na Liga do Paraíso:

Na baliza estaria Joaquim Carvalho, ex-guarda-redes do Sporting e de Portugal; a defesa ficaria entregue a Grabowski (Alemanha), Mihajlovic (Sérvia), Lima Pereira, campeão europeu pelo FC Porto, e Wim Jansen (Países Baixos); no meio-campo teríamos Oliveira Duarte, ex-Sporting, Uwe Seeler (Alemanha) e Paco Gento (Espanha); na frente, um ataque de luxo, com Fernando Gomes, Pelé (Brasil) e Fernando Chalana.
     
Como, repetindo Sartre, «estar morto é estar entregue aos vivos», celebremos no desaparecimento destes vultos o que fizeram em vida e, acima de tudo, saibamos respeitar o seu legado.

Fora do desporto, também sentimos uma certa orfandade perante a morte de personalidades como a rainha Isabel II, o Papa Bento XVI, Mikail Gorbachov, Adriano Moreira, António Mega-Ferreira e  José Eduardo dos Santos,  ou gente que nos entrou em casa durante muitos anos através da televisão, de que Jô Soares, William Hurt, Angela Lansbury, James Caan, Sidney Poitier ou Mónica Vitti são bons exemplos. Dizia Florbela Espanca que «um morto é um temível rival, um competidor que tem as mil vantagens que a ausência e a saudade lhe emprestam.» E essa é a palavra-chave: Saudade.  
 

ÁS – ARTUR JORGE

Uma grande exibição contra o Benfica, na derradeira aparição em 2022, quando na jornada caseira anterior o Casa Pia tinha vencido na Pedreira, revelam o médico e o monstro que coabitam no SC Braga. Se forem capazes de manter uma regularidade nivelada por cima, os arsenalistas podem sonhar com a Champions.
 

ÁS – ENZO FERNÁNDEZ

O impacto do jovem jogador argentino no futebol internacional, desde que foi colocado na montra da Champions pelo Benfica, o que lhe permitiu disparar para o estrelato no Mundial do Catar, tem tido tradução nas propostas estratosféricas que chovem na Luz. Enzo tem sabido gerir bem a carreira. E agora? 
 

ÁS – SEBA COATES

O internacional uruguaio, que em cinco anos na Premier League tinha feito apenas 56 jogos, tornou-se no patrão do Sporting, onde atingiu as 300 presenças. Aos 32 anos, e com um treinador que sabe tirar dele o que de melhor tem para dar, Coates vai continuar a escrever história de leão ao peito. Já referência incontornável.