Saint-Denis II

OPINIÃO07.10.202004:00

Uma coisa é certa: domingo que vem não haverá novo golão de Éder - «à Eusébio»! - para deprimir 66,99 milhões de franceses (recenseamento de 2019) em Saint-Denis, nos arredores de Paris. Isto porque o herói da final de 2016 não faz parte da convocatória de Fernando Santos. Mas não faz mal. Há o monstro Cristiano Ronaldo (desta vez, esperemos que durante 90 minutos) à frente de uma equipa desejosa de arredar os campeões do mundo da final four da Liga das Nações, que terá lugar dentro de um ano num destes três países: Itália, Holanda ou Polónia. Portugal, lembre-se, é o campeão da Europa e da Liga das Nações em título. Acontece que a França ganhou o último Mundial. Ou seja: estamos perante um braço de ferro entre a melhor seleção do Mundo e a melhor seleção da Europa. Que jogão em perspetiva! E que vontade devem ter os franceses de vingar a gigantesca azia de 2016…


Por falar em desforras, continuamos a ter muitas contas para acertar com a França: a memorável vitória no Euro-2016, sendo ótima, está muito longe de saldar os três valentes desgostos que sofremos com os bleus nas meias-finais dos Europeus de 1984 (2-3 em Marselha), 2000 (1-2 em Bruxelas) e no Mundial de 2006 (0-1 em Munique). Por três vezes os franceses tiraram-nos da final, ganhando por uma nesga duelos equilibradíssimos - o primeiro arrumado por Platini nos instantes finais do prolongamento de um jogo absolutamente louco (que eles até podiam ter ganho de goleada, não fosse a inspiração de Manuel Bento…), os dois últimos decididos pelo elegante Zidane, ambos de penálti. Já lhes respondemos ganhando-lhes em casa, contra todas as previsões, um Europeu que eles julgavam no papo (sendo obrigados a digerirem, além da batata do Éder, a festa de milhões de emigrados um pouco por toda a Gália). Agora chegou o momento Saint-Denis II, ou seja, de impedirmos a poderosa França de juntar a Liga das Nações ao sumptuoso currículo onde constam dois Mundiais (1998 e 2018), dois Europeus (1984 e 2000) e duas Taças das Confederações (2001 e 2003). Nova vitória no Stade de France seria meio caminho andado para isso, já que Croácia e Suécia (zero pontos) não parecem em condições de se intrometerem na luta. Em teoria, a Seleção de Fernando Santos joga a primeira mão de uma final que terá provável epílogo no Estádio da Luz, a 14 novembro (não esquecendo que fechamos na Croácia, três dias depois).


Difícil tentar adivinhar o onze francês sendo certo que Didier Deschamps tem um banco fabuloso em todos os setores. No eixo da defesa a três, Dayot Upamecano parece certo, restando a dúvida entre Varane, Lenglet, Kimpembe e Lucas Hernández. O mesmo se diga nas laterais (Dubois ou Sissoko? Lucas Digne ou Mendy?). No trio do meio-campo, vejo Griezmann intocável à frente de N’Golo Kanté e Adrien Rabiot (ou Nzonzi?). Na frente, a lógica aponta para o terrível Kylian Mbappé ao lado de Giroud (ou Martial?... ou Ben Yedder?....ou Kingsley Coman?). Benditas dores de cabeça para Deschamps, mas creio que nada disto tire o sono a um senhor chamado Rui Pedro dos Santos Patrício, lá no fundo, o homem que realmente decidiu a final de 2016 antes de o senhor Éderzito António Macedo Lopes fazer aquilo que a gente sabe. Saint-Denis II, s’il vous plâit, monsieur Fernando Santos. Há que os voltar a irritar. Há que insistir. Queremos mais do mesmo. 

O particular de logo em Alvalade não pode em circunstância alguma ser considerado amigável, dada a velha e intensa rivalidade com o vizinho-inimigo espanhol. Mesmo sendo provável que Fernando Santos e Luis Enrique aproveitem a ocasião para fazerem algumas experiências, é um facto que no duelo ibérico estão sempre coisas importantes em jogo. Lembre-se o fabuloso espetáculo (3-3) que constituiu o último dérbi, disputado no Estádio Olímpico de Sochi a 15 junho de 2018. Uma Espanha enorme contra um Ronaldo imperial (hat trick), naquele que terá sido, com o França-Argentina (4-3), o jogo mais emocionante do Mundial da Rússia. O Mundo deve olhar com atenção o duelo de hoje porque opõe as duas seleções que ganharam os três últimos títulos europeus (Espanha em 2008 e 2012, Portugal em 2016) e que, em conjunto, somam cinco títulos e sete finais (!) nas grandes competições internacionais disputadas desde a viragem do milénio. Um bloco ibérico fortíssimo (acima de franceses, alemães e italianos e muitíssimo acima de ingleses e holandeses) como se comprova no quadro abaixo. Em que se repara também no detalhe altamente significativo de a seleção portuguesa ser a única em toda a Europa que não falhou qualquer fase final no séc. XXI…