Rui Patrício e o râguebi
Não vale a pena perder muito tempo a falar sobre a razão, ou falta dela, para a rescisão por justa causa apresentada por Rui Patrício. Não percebo o suficiente de legislação laboral e limito-me, portanto, a acreditar na análise dos muitos especialistas entretanto ouvidos e que deixam entender estar negras as coisas para o Sporting e a esperar pela decisão que há de chegar dos tribunais.
Também não vale a pena perder muito tempo a falar de Bruno de Carvalho ou da forma como não parece minimamente preocupado por estar a contribuir para a destruição daquele que é o mais valioso ativo - não confundir com o mais importante, esses são os adeptos, uma confusão em que o presidente leonino caiu há muito... - de qualquer SAD que tenha uma equipa de futebol, arrastando o Sporting (por mais títulos que ganhe nas modalidades) para um local muito perigoso.
Hoje quero apenas dizer que Rui Patrício não merecia deixar o Sporting assim. Um jogador que sempre foi um exemplo de profissionalismo, entrega e dedicação estava destinado a sair pela porta grande, de preferência com uma homenagem digna daqueles que sempre (pelo menos quase todos...) o aplaudiram, rendidos às qualidades daquele que é, sem dúvida, um dos melhores do mundo na sua posição. Um jogador que sempre fez questão de destacar o seu sportinguismo. Um símbolo do Sporting.
A decisão do capitão leonino foi mais um motivo de divisão entre os sportinguistas, já de si profundamente divididos. Os que criticam Bruno de Carvalho percebem a posição do guarda-redes, os que o continuam a defender como se não houvesse para o Sporting futuro para lá do atual presidente não demoraram a mostrar a despejar toda a sua fúria - em Alvalade não parece haver já lugar para o meio-termo - sobre o guarda-redes.
À distância, limito-me a tentar adivinhar o ponto a que chegou o Sporting, sobretudo o seu futebol profissional, para um jogador como Rui Patrício, decerto ciente das consequências, assumir posição tão radical. É, parece-me evidente, porque não dava para mais. Deu para jogar a final da Taça, deu para tentar uma saída limpa, através de uma transferência que disfarçasse o desconforto há muito evidente entre as partes. Esgotadas todas as hipóteses, foi como tinha de ser. É triste. Em especial para Patrício.
A Federação Portuguesa de Râguebi não esteve com meias medidas e decidiu despromover GD Direito e Agronomia na sequência dos incidentes que interromperam o encontro entre as duas equipas e lançaram um manto de vergonha sobre a modalidade. De pronto se levantaram vozes contra a (in)justiça de uma decisão que consideram demasiado dura, ainda mais tratando-se de dois dos principais clubes do râguebi português. A punição é exagerada? Talvez. Mas numa altura em que a luta contra a violência no desporto deve estar no topo das prioridades há que assumir (a sério, sem dar uma no cravo e outra na ferradura) que é hora de mais ação e menos conversa. E sim, por serem dois dos principais clubes do râguebi português, GD Direito e Agronomia devem dar o exemplo - e, se for caso disso, servir de exemplo. Porque serem grandes não é, por si só, argumento para não poderem ser despromovidos. Deve ser assim no râguebi, no futebol, no andebol, no hóquei em patins... e por aí fora. Estamos de acordo, certo?
Mesmo que porventura exagerada (os recursos que por certo os dois clubes apresentarão determinarão se sim ou não), a decisão da Federação de Râguebi deve até servir de exemplo às de outras modalidades: não pode haver medo de clubes que, pela sua grandeza, se julgam acima da lei. Os regulamentos são para cumprir. Doa a quem doer. Claro que fica mais fácil punir a sério quando não são os próprios clubes a determinarem as regras do jogo. Mas essa já é outra conversa...