Rui Costa, um ano depois

OPINIÃO11.10.202206:30

A manter-se esta vaga antibenfiquista, no dia em que o Benfica perder no campeonato alguém irá requerer que seja decretado feriado nacional

PASSOU um ano desde que, precisamente a 9 de outubro de 2021, Rui Costa foi eleito presidente do Benfica, por esmagadora maioria de votos (84,48 por cento), na assembleia mais participada de sempre (acima de 40 mil sócios), o que foi interpretado na altura, além de inequívoca expressão da grandeza do clube, como uma vontade inabalável de mudança.
Apesar dos maus agouros dos  mensageiros da desgraça, a verdade não mente e mostra-nos que muito se andou  em tão pouco tempo, no sentido de devolver a paz e a confiança a um gigante inquieto, que, por razões diversas, se perdeu no caminho, permitiu que os adversários se aproximassem e, aos poucos, foi colidindo com a sua própria história.
Rui Costa sabe que é preciso combater a resignação e recolocar o clube no lugar que a sua dimensão justifica, dentro e fora de portas.  Sabe também  o que é preciso alterar ao nível das mentalidades, das ambições e dos objetivos desportivos, de modo a transportar para o presente o passado grandioso da águia, dá-lo a conhecer às novas gerações de adeptos  e devolver a esperança às mais antigas de poderem voltar a sentir o imenso prazer das vitórias que décadas de sucessos lhes proporcionaram no outro século, principalmente entre os anos sessenta e noventa.

É urgente mudar, e o primeiro sinal pode ter sido dado na noite europeia da última quarta-feira, diante do PSG, em que, além da  importância do resultado, ressaltou a atitude dos jogadores e a força de acreditar da massa humana que lotou o Estádio da Luz. Foram mais de 60 mil, mas poderiam ter sido mais de cem mil, como tantas vez se registou enquanto o terceiro anel existiu.
Percebe-se que sócios acantonados em movimentos (alguns de duvidosas intenções, que pretendem tão só controlar as assembleias e manterem um ambiente de pressão permanente sobre quem legitimamente exerce o poder) estejam mais agitados com a revisão de estatutos que nunca mais se discute, com as auditorias que tardam em ser concluídas e com outras questões relevantes apesar de já ter sido dito, por mais de uma vez, que promessa feita é promessa para cumprir, no momento adequado, sem prejuízo, naturalmente,  das medidas que foram consideradas prioritárias pelo presidente eleito e essas, como não poderia deixar de ser, deram  especial atenção à vertente desportiva, nomeadamente ao futebol profissional, em respeito pelo equilíbrio financeiro que continua a ser reconhecido como fator de estabilidade que diferencia a águia dos adversários.

OBenfica bicampeão europeu, nos últimos doze anos na Champions, só em quatro edições passou da fase de grupos, o que é francamente de menos, situação agravada por ter ficado pelas pré-eliminatórias em 2020/2021 e ter rubricado uma participação que envergonhou  em 2017/2018, com seis derrotas em seis jogos e um golo marcado contra catorze sofridos.
Comportamento mais humilhante não se imagina. Foi precisamente contra esta inaceitável e continuada desresponsabilização de treinadores e jogadores que Rui Costa avançou,  passando por cima dos seus detratores que o criticaram por, estando lá, nada ter feito para  mudar o rumo das coisas.
Se fez ou não, ignoro. O que sei é que ele, enquanto presidente, não podendo descer ao nível dos que usam a maledicência, a insinuação ou a gritaria como meio de sobrevivência, já mudou a vida do Benfica. Contratou um treinador imune aos enredos da lusa paróquia,  investiu no reforço e na qualidade da equipa de futebol, aliviou o plantel  da multidão de jogadores vulgares,  devolveu o orgulho à sua massa adepta e salvou do ostracismo o estatuto europeu do clube.

ESTÁ a ganhar, e bem,  mas o processo de mudança pode ser demorado. Um dia vai ser derrotado, uma, duas, três, mais vezes.  Até pode suceder hoje, normalíssimo,  frente ao poderoso PSG, mas o que mais urticária está a provocar no nosso país tuga, em que a primeira regra manda nunca valorizar o vizinho, é a mania de ganhar que Roger Schmidt incutiu aos encarnados, agora a jogarem muito melhor do que nos anos anteriores: por isso, são líderes e, também por isso, são invejados.  
O Benfica empatou  em Guimarães, em jogo rijamente disputado.  O treinador alemão considerou que foi um ponto  ganho, em vez de dois perdidos. Um meio elogio ao opositor. Mesmo assim,  sentindo-se lesada pela arbitragem, neste e em outros jogos, a administração vitoriana solicitou «uma audiência com caráter de urgência» junto da FPF e da FIFA! Um claro exagero,  e,  a manter-se esta canhestra vaga antibenfiquista, no dia em que o Benfica perder no campeonato alguém  irá requerer que seja decretado feriado nacional.  
É neste ambiente que Rui Costa se move, sabendo de antemão que aliados não tem. No entanto, depois de um ano cumprido no seu primeiro mandato, continua a declarar que «é um grande orgulho» ser presidente do Benfica. É o que os adeptos querem ouvir.

SC BRAGA. É oficial. O PSG, através da aquisição das ações da Olivedesportos, vai entrar na sociedade desportiva do SC Braga. António Salvador há muito perseguia uma operação desta envergadura para poder afirmar-se como a quarta frente do futebol português.