Rúben e Romário

OPINIÃO27.09.202001:11

Acada semana que vai passando, vendo Rúben Dias jogar, mais me vou eu lembrando da história de um jornalista a perguntar ao Romário:
- Qual é a sua maior qualidade em campo?
e do Romário a responder-lhe, num inspirado toque filosófico:
- É eu fazer com que os defesas não me consigam ver!


Defesas que não são assim, há poucos (e cada vez menos). Rúben Dias é um desses poucos jogando (e cada vez mais) a não deixar que dos seus olhos escapem os Romários que lhe aparecem pelo caminho, furtivos e sorrateiros, enleantes e perigosos - travando-os através de um futebol firme no seu caráter e apaixonado na sua vontade, de um futebol que não cede ao desleixo, não perde o chão nem teme que o céu desabe sobre si (e sobre a equipa ainda menos).


 Ou seja: vendo a bola a voar em direção ao Rúben Dias raro é não se ver nele um deus invisível a esticar o pé ou a cabeça e a aliviar a bola de lá, a afastá-la de lá - sem que ele dê sinal de vertigens nos pés (ou na cabeça), sem que dê indício de cair do trapézio ou de se esfriar em si a entrega intimidante, o querer ser valente, o querer ser heroico. Além disso, corre ao outro lado do campo, marca golos, muda destinos (como ainda ontem se viu.)  Não, não é só: o génio e o carisma tornaram-no o líder emocional da equipa (seu capitão mesmo sem braçadeira) - o líder capaz de levar os companheiros (ou a equipa) do sítio onde onde ela está (sobretudo se está em molenguice ou angústia) para um sítio melhor (resgatando-lhe a fé, reinventando-lhe a esperança). Por isso é que acho que, mesmo que Vieira consiga dele 55 milhões de euros (e Otamendi) - o Benfica  perde mais do que isso, perdendo-o já (e assim). Porque não perde apenas um craque capaz de ver e travar os Romários da metáfora do Romário (sendo um dos melhores centrais da Europa) - perde parte larga e quente do seu coração (e isso é coisa que, no futebol, não se contabilizando, não tem preço - mas tem risco...)