Resposta de campeão
O Estoril tentou tudo para ter sucesso, mas do outro lado houve mais treinador, mais equipa e, principalmente, mais classe e superior dimensão competitiva
BRUNO PINHEIRO afirmou, no final do jogo com o FC Porto, que a irregularidade assinalada pelo árbitro na sequência de um pontapé de canto, e que não validou o que seria o terceiro golo da sua equipa, «não pode ser considerado falta (…), digam os entendidos em arbitragem o que quiserem». Mas foi mais longe, ficou com a sensação de que na segunda parte o campo «inclinou um bocado» e que houve decisões que «empurraram e, até, desmotivaram» a equipa, expressões que mereceram uma reação enérgica do antigo árbitro Pedro Henriques, em A BOLA TV, um dos comentadores de arbitragem que mais aprecio, o qual contrapôs que os treinadores podem dizer que determinado árbitro tem falta de jeito ou é incompetente, mas jamais devem colocar em causa a sua seriedade e ao falar em «campo inclinado» o técnico estorilista insinuou que houve uma segunda intenção no desempenho de António Nobre, o elemento visado.
A intervenção de Bruno Pinheiro é lamentável, mas está gasta de tanto uso porque, ao longo dos anos, os treinadores se habituaram a intolerável impunidade, como ainda hoje se observa, ao permitirem-se atribuir aos árbitros as culpas pelas suas próprias deficiências na preparação dos jogos. Eles erram, alguns em demasia, mas com o advento do VAR o panorama melhorou como da noite para o dia, isso parece-me claro e óbvio, o que obriga a mais prudência no momento de emitir uma opinião, ainda que no calor da competição, e foi essa prudência que César Peixoto teve ao declarar, no rescaldo do Benfica-Paços de Ferreira: «A única coisa que tenho a dizer é que não gostei da arbitragem.» Em Inglaterra, porém, nem isto é permitido e Nuno Espírito Santos viveu essa experiência, mas, enfim, temos de aceitar as peculiaridades futebolísticas da lusa paróquia.
O que se passou no Estoril-FC Porto nada teve a ver nem com inclinações nem com outras habilidades do género. Foi um grande jogo de futebol, ao nível do que melhor se vê nas principais ligas europeias, com uma vitória de campeão, porque só uma equipa com essa atitude conquistadora seria capaz de impor-se a um oponente que mostrou em campo todos ao atributos que lhe têm sido endereçados e que fazem dele a mais agradável revelação do campeonato. Pena foi que Bruno Pinheiro tivesse desaproveitado a feliz oportunidade, apesar da derrota, para destacar a excelência do seu trabalho, enaltecer a política de valorização do clube e promover os méritos dos seus jogadores. Vulgarizou o discurso, simplesmente.
Ele tentou tudo para ter sucesso, mas do outro lado houve mais treinador (que lição deu Sérgio Conceição na arte de fazer, desfazer e refazer), houve mais equipa e, principalmente, mais classe e superior dimensão competitiva.
AREJAR BALNEÁRIO É PRECISO NA LUZ
NÉLSON VERÍSSIMO vive a sua segunda experiência como treinador provisório da equipa principal do Benfica no espaço de dois anos e sabe que ou segura o lugar e se afirma ou terá de ir à sua vida, pois considero que dificilmente voltará ao comando técnico da formação secundária. Admirei a sua lealdade em relação a Bruno Lage, quando foi chamado para o substituir, e vejo nele quanto é preciso para merecer a confiança da Administração presidida por Rui Costa. No entanto, o que eu penso vale zero, é irrelevante, mas Veríssimo já foi suficientemente ousado ao proclamar que é preciso reduzir o plantel de forma a aumentar a competitividade entre os jogadores. É uma evidência, embora arriscada quando assumida por alguém que acabou de chegar e tem a sua autoridade ainda periclitante por não saber se merece a bênção dos patrões do balneário.
É público o que aconteceu a Bruno Lage, o que conduziu à sua substituição por Jorge Jesus e mais recentemente ao despedimento deste. Veríssimo deve ter a noção perfeita daquilo que o espera e do que é preciso fazer no sentido de recuperar o estabilidade no grupo, como primeira medida, e de, no curto prazo, aliviar o plantel de contratações avulsas que nenhuma riqueza trouxeram e promover inadiável revolução de mentalidades, trocando gente acomodada e bem paga por jovens prometedores, ainda sem vícios e que querem construir carreira.
EESTA última jornada da primeira volta deu uma pequena ajuda à águia ao permitir-lhe encurtar a diferença pontual para o segundo lugar. É alguma coisa, ainda que a história do jogo com o Paços não tenha entusiasmado a família benfiquista. É certo que se criaram muitas oportunidades de finalização, mas foi preocupante o desperdício verificado, prova que de que será preferível atacar com poucos e bem do que com muitos e mal, que foi o que o Benfica fez, anteontem, na Luz.
Nélson Veríssimo tem ideias, quer mudar, precisa de o fazer e precisa de apoio para o fazer, mas os adeptos devem entender que vai levar tempo a arrumar a casa. Quando o clube cumpre e se esforça para que nada falte, os jogadores respondem em regime de serviços mínimos e os resultados desejados tardam é porque está na hora de arejar o balneário e expurgá-lo de todos os focos contaminadores: a primeira grande empreitada de Rui Costa no sentido de dar saúde, alegria e títulos ao futebol do Benfica.