Respirar fundo e ganhar a final de amanhã
Não mudei de opinião sobre a Taça da Liga: é a menos importante das competições nacionais. No entanto, sempre que o brasão abençoado entra numa competição é para ganhar.
Na meia-final, frente a uma equipa que dá a essa competição uma enormíssima importância, ganhámos de uma forma indiscutível, pecando o resultado por escasso.
É verdade que nem tudo correu bem. Aliás, o primeiro a reconhecê-lo foi o nosso treinador. Perdemos demasiadas bolas de forma infantil quando saíamos para o ataque e consentimos vários contra-ataques com a nossa defesa em inferioridade numérica quando já estávamos a ganhar. Um dos pecados da equipa, e não é de agora, é a pouca capacidade para congelar o jogo quando necessário. Mas o sobressalto que vivemos nessas situações é muito provavelmente o preço que temos de pagar por o futebol vertiginoso e de risco que praticamos. Preço muito baixo por tanto.
Não será justo destacar ninguém nesta boa vitória, mas há três elementos que se destacaram.
O primeiro, Sérgio Conceição. Não é que dar um banho tático a um homem que está agora a começar a carreira como técnico principal de uma equipa de primeira divisão seja uma coisa por aí além, mas a entrada de Bruno Costa selou a nossa vitória, bem como o posicionamento do Militão, a dado momento da segunda parte, a cobrir o rapaz do nosso futebol de formação Félix foi na mouche. Lage teve uma aula prática, devia estar agradecido ao mister Conceição.
Depois, Óliver e Marega tiveram um desempenho verdadeiramente notável.
Seja como for, a supremacia do FC Porto em todos os aspetos do jogo foi tão flagrante que a reação falada dos nossos adversários foi de um ridículo sem fim. Mas não só, valorizar em títulos, artigos, e comentários televisivos (não consegui tirar os olhos de uma espécie de velório que foi passando nas televisões, sobretudo na TVI, em que nem se disfarçava o amor pelo adversário do FC Porto) os supostos erros de arbitragem sobre a qualidade daquilo que foi um excelente jogo de futebol não é prestar um grande serviço à causa futebolística. É que isto de estar a apelar para que nos concentremos no jogo jogado e depois fazer da arbitragem o centro da análise não será a coisa mais coerente do mundo.
Espantaram-me as reações da maioria esmagadora dos super independentes comentadores e jornalistas que por aí ouvi ? Claro que não. Era preciso só ter aterrado por estas bandas há meia dúzia de dias para se ignorar uma lei de ferro do futebol português: quando o Benfica não ganha é porque há manigâncias, quando os da Luz vencem é porque são melhores do que os outros.
O primeiro instinto seria não ligar a estes fanáticos disfarçados, mas, infelizmente não se pode fazer isso. É que este tipo de comentários tem um objetivo evidente: contribuir para o tipo de clima que estava instalado no futebol português até há muito pouco tempo e que contribuiu para as poucas vergonhas que agora todos sabemos que aconteceram. Quem gosta verdadeiramente de futebol preferia não ter de perder tempo com este tipo de coisas, mas infelizmente não é possível. Sabemos onde tudo chegou por não termos estado atentos, a teia que foi tecida, as missas que foram celebradas.
Em frente.
Agora há um troféu para vencer. O jogo de amanhã vai ser muito difícil. O adversário é valoroso e temos vários jogadores nos limites físicos, mas, como dizia o poeta, quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor.
A cortina de fumo
Aquela espécie de discurso que Luís Filipe Vieira veio fazer depois do jogo da meia-final da Taça da Liga é de uma falta de vergonha sem par. Um presidente do Benfica queixar-se de uma arbitragem e logo num jogo da Taça da Liga é de ir às lágrimas. Não chegasse o facto de os da Luz terem chegado a esta meia-final fruto de erros de arbitragem, bastava escrever uma só palavra: Lucílio Batista.
Não vale a pena estar a desmontar as queixas de Vieira sobre o desempenho do árbitro e do VAR. Já foi feito. É tão absurdo que nem vale a pena perder tempo com isso.
Vieira veio falar de condicionamento sobre os árbitros. E falou disso ao mesmo tempo que dizia que Fábio Veríssimo não podia arbitrar mais. Foi revelador, ao menos ficamos a saber quem faz esse condicionamento. É que se um presidente de um clube diz que um árbitro não pode apitar mais por supostamente ter errado contra o seu clube está, obviamente, a tentar condicionar toda a arbitragem.
Já sabíamos que este tipo de condicionamentos acontecia em confessionários e em celebrações religiosas, agora é feito à descarada.
Feito e com resultados imediatos. Fábio Veríssimo, que Vieira tanto queria a apitar jogos do seu clube durante o ano de 2017, suspendeu a sua atividade - aproximadamente na mesma altura em que dizia que só os burros falam de arbitragem.
Os árbitros ficam assim a saber que se não agradarem ao Benfica e a Vieira serão de tal forma pressionados, insultados, posta a sua seriedade e competência em causa em tudo o que é fórum televisivo, que não terão alternativa se não suspender a carreira.
E já que estamos a falar de descaramento e pouca vergonha, lembro que nestes dias soubemos que Paulo Gonçalves continua a ter relações próximas com a SAD benfiquista. Tão íntimas que foi o arguido Gonçalves a tratar da contratação de três jogadores ao Leixões para o Benfica. Ou seja, o sistema judicial acusou o ex-braço direito de cometer crimes graves enquanto era funcionário da SAD do Benfica, no mínimo traindo a confiança que nele depositava Vieira, mas isso não impede o presidente benfiquista de continuar a utilizar os seus serviços. Como aqui escrevia o André Pipa, Gonçalves é intocável, indispensável e inamovível. Porque será ? É o chamado óbvio ululante.
Vieira será tudo menos burro, mas o que fez é demasiado óbvio. Ele quer criar uma cortina de fumo sobre os seus gigantescos erros na construção do plantel, na enorme incompetência que demonstrou na gestão do dossier Rui Vitória e nos inúmeros escândalos em que envolveu o seu clube. O que ele fez naquele dia não foi tentar defender o Benfica, foi defender-se a ele próprio.
A impunidade da BTV
NA BTV, a equipa do FC Porto foi apelidada de «corja» no início do relato do jogo de passada terça-feira.
Até quando as autoridades vão fingir que não sabem o que sistematicamente se passa nesse canal de televisão? E o elemento que insultou o FC Porto, vai continuar a trabalhar nessa estação ou será até promovido?