Respeito institucional!
Será o tribunal a concluir quem honrou e defendeu o prestígio e a dignidade do Benfica ou quem lhe causou prejuízos materiais e morais
A QUELES que me conhecem mal ficarão um pouco surpreendidos por escrever sobre a crise do Benfica, uma vez que pensam que é para o lado que durmo melhor. Mas os que melhor me conhecem e sabem das minhas convicções, princípios e valores, não se admiram que eu me pronuncie sobre a crise daquela instituição, porque o que está mesmo em causa é a falta de respeito pelas instituições e a sua história, pelas convicções, pelos princípios e valores que atravessam de uma forma transversal todos os sectores da sociedade desde a política até ao futebol - os sectores mais atingidos por esta peste do vale tudo, muito mais perigosa que a pandemia do Covid-19, porque além de corromper materialmente o país e as suas instituições, corrói os princípios e valores em que se fundam as sociedades.
Existe hoje uma cambada de chicos-espertos e novos ricos, à boleia uns dos outros, que está a destruir material e moralmente as sociedades, designadamente a portuguesa, e que, salvo raras excepções, se pavoneia pelas ruas e salões com um ar de irresponsabilidade e impunidade. E nós é que pagamos tudo isto!
Hoje não existe já quem suba na vida a pulso ou a pé! Hoje existe o elevador da política e do futebol para queimar etapas que antes levavam algum tempo a percorrer, e os resultados estão à vista! Hoje, cada vez que comemoramos o 25 de Abril de 1974, recordamos com saudade os primeiros deputados da liberdade - homens com passado profissional de sucesso e um histórico de luta pela democracia; mas hoje, quando olhamos para a Assembleia da República, não sabemos o que fizeram profissionalmente e, mesmo politicamente, apenas sabemos que correram com alguma pressa o caminho que vai da secção local à distrital e do poder local ao nacional. Por este caminho, veremos se comemoramos o 25 de Abril de 1974 como ele deveria ser comemorado! Tenho sérias dúvidas!
No 25 de Abril, ou melhor, no 11 de Março, corremos injustamente com alguns empresários e banqueiros e não tivemos capacidade para criar outros, em nome de um complexo de esquerda absolutamente cego e idiota. Entre outros, como foi o caso de António Champalimaud, regressou e vingou-se na hora da sua morte com a criação da Fundação com o seu nome que desenvolve um trabalho notável em beneficio do país e da humanidade. Outros regressaram para se vingar do país e, sem respeito pala sua própria família, tornaram-se os donos disto tudo e, com auxilio dos políticos, saquearam Portugal e levaram o dinheiro lá para fora, desgraçando a vida de muita gente que levou uma vida inteira a trabalhar no exterior para trazer o dinheiro cá para dentro.
O futebol também foi inundado por indivíduos que, sem qualquer respeito pela paixão e amor dos associados que construíram a história dos clubes, muitas vezes à custa do seu património e da sua família, neles se introduziram, não para os servir, mas para deles se servir, quer materialmente, quer para salvaguardar a liberdade que não merecem.
Eu quero que o Sport Lisboa e Benfica perca sempre que joga com o Sporting Clube de Portugal, nem que seja ao berlinde. Mas não gosto que a instituição Sport Lisboa e Benfica não seja respeitada por quem quer que seja, como não gosto de ver desrespeitada a instituição Sporting Clube de Portugal. Uma coisa é a rivalidade desportiva, outra coisa é o abandalhamento dos princípios e valores que presidiram à fundação dessas duas grandes instituições portuguesas, cujos associados e adeptos vibram e sofrem com as vitórias e as derrotas nos quatro cantos do mundo! É preciso não ter vergonha nenhuma para se não respeitar o órgão que os integra e a personalidade que o dirige.
Seja no Sporting, no Benfica ou em qualquer outro clube, o poder supremo deste reside na Assembleia Geral; e o presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica é a entidade mais representativa dos sócios e tem por atribuição principal garantir a legalidade no seio do Sport Lisboa e Benfica, cumprindo e fazendo cumprir os preceitos estatutários. É o principal defensor da democracia interna, e para ele tanto direito a falar tem o presidente da Direcção como o simples sócio a quem aquele apertou o pescoço.
Parece que foi o actual Presidente da Direcção que promoveu a exigência de vinte e cinco anos de filiação para se ser candidato a presidente. Tanto respeito pela antiguidade e tão pouco respeito pelos princípios e valores do clube e da democracia. É assim que os ditadores se perpetuam!
O actual presidente da Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica, Professor Rui Pereira, na sequência do anterior presidente deste órgão (e do PAG da SAD benfiquista), pediu a demissão por verificar que não contava com o apoio dos órgãos sociais e em particular do presidente da Direcção para a convocação da assembleia extraordinária requerida nos termos estatutários e ver assim afectada a defesa dos interesses superiores do Benfica. Não se esperaria outra atitude da parte de alguém com a estatura moral e intelectual do Professor Rui Pereira.
Assim não entenderam Luís Filipe Vieira e seus compagnons de route que em uníssono desmentiram o presidente da Assembleia Geral: «A Direção do Sport Lisboa e Benfica e, em particular, o seu presidente desmentem veementemente qualquer oposição à realização da Assembleia Geral Extraordinária solicitada por um grupo de sócios.» Na minha leitura de homem frontal e sem rodeios, a Direcção do Benfica, com veemência, chamou mentiroso ao presidente da Assembleia Geral! Há menos de um ano deixavam-se fotografar com o presidente da Assembleia Geral, tirando o benefício da sua elevada credibilidade; agora tratam-na como coisa descartável! Mas já não admira porque, nos tempos que correm, credibilidade, estatura intelectual e moral e carácter são coisas que já não se usam, estão fora de moda!
É neste contexto que, independentemente dos disparates que já ouvi, pergunto onde está a autoridade moral para a Direção do Sport Lisboa e Benfica se sentir profundamente indignada com mais um atentado à dignidade da instituição, só porque um sócio moveu uma acção cível ao presidente?
Segundo os estatutos do SLB, o primeiro dever dos associados, sejam eles dirigentes ou não, é «honrar a sua qualidade de sócios, defendendo intransigentemente o prestígio e a dignidade do Sport Lisboa e Benfica com a adopção de comportamentos cívicos e desportivos que contribuam para o engrandecimento do clube».
Será que é a Direcção, presidida por LFV, que define como se honra e defende o prestígio e a dignidade do Sport Lisboa e Benfica? Parece-me que não pode julgar em causa própria e será o tribunal a declarar quais os factos que considera provados para depois se concluir, independentemente do juízo jurídico, quem honrou e defendeu o prestígio e a dignidade do Sport Lisboa e Benfica - que aliás me não parece estar em causa - ou quem efetivamente lhe causou prejuízos materiais e morais!
E não vale a pena os arautos da dignidade e do amor clubístico pedirem provas, porque será o tribunal a julgar da validade das provas já apresentadas e a apresentar, e não os comentadores, sejam eles cartilhados ou não! E a prova não é só documental, nem tem de ser apresentada nos momentos convenientes à comunicação social! As audiências de julgamento dos tribunais nada têm a ver com as audiências dos programas televisivos!
A honra e a dignidade de instituições como Sporting e Benfica nunca estão em causa. Espera-se daqueles que as representam que não as manchem, misturando o que não deve ser misturado!
AUGUSTO RAMOS LOPES
E NQUANTO jovem e estudante/trabalhador, trabalhou em frente da minha casa. Casou com uma das melhores e maiores amigas da minha irmã mais velha (ambas já falecidas). Foi juiz e advogado, com escritório perto do meu. Durante anos almoçámos no Chagão de saudosa memória! Foi vice-presidente do Belenenses com Mário Rosa Freire, também recentemente falecido e por mim relembrado como um dirigente de um tempo de que me orgulho. Foi depois presidente, e um bom presidente do Clube de Futebol Os Belenenses!
Ao actual presidente, Dr. Patrick Morais de Carvalho, dirijo um abraço de sentidos pêsames, mas também de votos que estes exemplos de serviço, com amor e dedicação à causa azul, lhe deem ainda mais força para a restauração da grande instituição a que preside. Eles merecem e o futebol português também!