Repensar o destino numa bola
O mundo é um lugar estranho sem uma bola de futebol. Já dei por mim a rever jogos antigos e a recorrer à internet para ver os minutos dos golos, mesmo que me lembre do resultado, só para reviver a emoção. Daqui a um mês, mais coisa menos coisa, estará de volta cá no burgo a Liga. A Liga 2 acaba, o Campeonato de Portugal já tinha acabado, tal como o futebol distrital e de todos os escalões de formação.
O povo vai voltar a alegrar-se, as discussões de café e ignomínia televisiva voltarão e tudo parecerá como antes. E este é o drama. Da primeira divisão para baixo, quase ninguém liga ao futebol e basta ver as audiências da Liga 2 e, salvo raras exceções, a nudez das bancadas dos estádios para se chegar a essa conclusão.
O futebol vai entrar em crise, como muitos setores da atividade económica e precisará, em termos nacionais, dum plano de reabilitação que passará, em primeira instância, pela reformulação dos quadros competitivos da Liga 2 para baixo, ficando aqui lavrado que defendo a partição em dois deste escalão, com séries separadas geograficamente para diminuir os custos dos clubes em deslocações, criar condições para uma maior competitividade mesmo que suportada em rivalidades regionais.
Daí para baixo, também tudo deverá ser reformulado, começando pelo princípio, até agora aplicado no Campeonato de Portugal, de não fazer ponta de sentido estarem 72 clubes em competição para apenas subirem dois - ou se diminuem o número de clubes ou são mais promovidos.
Mas quando, no pico do verão, a divisão principal tiver terminado, vamos avaliar o que sentimos depois de só termos tido bola de luxo sem a de trapos ou a de plástico que fomentaram a paixão durante décadas. Se a sensação for a mesma, talvez seja tempo de repensar o destino do futebol.