Reconquista
1 Hoje é Dia de Reis. Tal como a origem dos Reis Magos escrevo do Oriente. Deslumbrante e vibrante. Exótico e caótico. Vendo de longe e ao longe a mudança de ano, a substituição de treinador no Benfica, as novas disputas nas televisões, decisões judiciais que ilibam e, logo, absolvem e o arranque deste período de Inverno para a contratação de jogadores. Já que a de treinadores é permanente! Ao longe e de longe tudo se relativiza. Não há a pressão do imediato. Não se salta de canal para canal como se este tempo de televisão fosse, como ontem, de canal único e não de múltiplos canais e diferentes plataformas de comunicação e de informação. De longe e ao longe, mesmo com apenas três horas de diferença horária, não estamos sujeitos à pressão da notícia ou do comentário, da última da hora ou do alerta proclamado. O que sabemos de longe e ao longe é que este Benfica em mutação, diria que em transição tranquila, joga hoje na Luz frente ao Rio Ave e não pode perder pontos. Mais, este Benfica sabe que tem de terminar em grande a primeira volta da Liga e tem de fazer uma segunda volta extraordinária. E nas próximas jornadas quer o Benfica quer o Sporting de Braga - que também joga hoje e com o Boavista - jogam sempre antes de Futebol Clube do Porto e Sporting. Com a lembrança que no próximo fim-de-semana teremos a visita a Alvalade da equipa liderada, e bem, por Sérgio Conceição. Daí ser imperioso que o Benfica não perca pontos quer frente ao Rio Ave quer face ao Santa Clara. É que, apesar de tudo, e mesmo ao longe e de longe, a reconquista é uma palavra que tem de fazer todo o sentido nestes primeiros dias do mês primeiro deste novo Ano. E importa que a reconquista esteja presente nos balneários e nos relvados, nos corredores e nas bancadas do Seixal e da Luz. A estrela que acompanhou e guiou os Reis Magos, mais os seus emblemáticos presentes, todos os anos faz a mesma viagem. E nós benfiquistas, nesta unidade na diversidade que nos caracteriza e diferencia, temos de ter presente que a reconquista é o nosso objetivo. Que é possível. E que importa lutar! Suar! Agarrar!
2 Rui Vitória saiu do Benfica pela porta pequena. Entregou-se ao Benfica, com a sua equipa técnica, de alma e coração. Conquistou títulos, fez crescer jogadores e foi um permanente aliado da administração da SAD. Acreditou em finais do ano passado que teria uma nova oportunidade. No meu prisma cometeu um erro. Deveria ter assumido a rutura. Quando não se é desejado deveremos ter a força interior para nos afastarmos. E essa força era, para mim, uma das essências da personalidade de Rui Vitória. Sabemos bem que não há uma segunda oportunidade para causar uma boa impressão. E também sabemos que no futebol o treinador, qualquer que ele seja, é o elo mais fraco. O relevante, aqui, é agradecer, reconhecido, a Rui Vitória pelas alegrias que nos proporcionou, os sorrisos que nos motivou, os abraços que nos impulsionou e as dores que a outros suscitou. Este agradecimento, extensivo a toda a equipa técnica, é reconhecimento pelo que foi feito, e muito foi feito.
3 Neste tempo de transição, e vendo de longe e ao longe, assumo a ousadia de sugerir que, com a contratação de nova equipa técnica, o Benfica, este concreto Benfica, tenha uma única estrutura de comunicação. O futebol é a essência do clube. E sendo-o, e perante os múltiplos desafios e as diferentes ameaças, o Benfica, este concreto Benfica, deve ter uma comunicação única. Forte e dura, ignorando certas disputas e ampliando determinados atos e factos. O Benfica, este concreto Benfica, tem de ter uma voz permanente. E a voz é som e presença. Diria que porta voz que amplifica e determina, motiva e suscita, provoca e informa. Este sinal também é relevante para a ambicionada reconquista. Não ter medo de mudar para além da mudança da equipa técnica é um acrescido sinal de uma revolução tranquila. E esta tranquilidade tem de se sentir. E não apenas pressentir. É um desafio. Dito e escrito de longe e ao longe. Com a consciência plena que só os homens - e as mulheres - calados é que não erram! E como benfiquista assumido - e hoje em dia sofrido - aqui deixo a minha modesta, mas sincera, opinião.
4 De longe e ao longe renovo, mesmo com menos carateres, os meus votos sinceros de um Feliz 2019. E estendo a todos e a todas que sabem que, no desporto e na vida, a conjugação do eu com o tu proporciona o nós. E só este nós é que suscita um verdadeiro e salutar desportivismo. Em que há amigos e adversários, inimigos necessários tão só para a competição. Para além dela temos de celebrar a vida. A VIDA já que cada um de nós, nas nossas cores e nas nossas circunstâncias, é um ser que não se repete. Eu ou o Joaquim, o Alberto ou a Ana, o Álvaro ou a Isabel, o Tomás ou a Antonieta, o Rui ou o Arnaldo, o Hermínio ou o Paulo. Já como nos legou José Saramago «a nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida»! E nós de longe e ao longe abraçamos a vida neste sugestivo Dia de Reis!
5 Permitam-me uma nota. Para enviar sentidas condolências a toda a Família de Joaquim Bastinhas. Partiu injustamente cedo. Muito cedo! E estou certo que, no Céu, Deus com a sua infinita bondade o acolheu. Ele que foi, como cada um de nós o é, um ser que não se repete. Na dimensão de marido e Pai, de profissional e de Amigo dos seus Amigos!