Reconhecimento!

OPINIÃO24.01.202003:00

A informação de que Jardel não deixará o Benfica, ao contrário da possibilidade posta esta semana a circular, é, num certo sentido, uma boa notícia para os benfiquistas. Não do ponto de vista desportivo, obviamente, porque Jardel já não será hoje a mais-valia defensiva que já foi, apesar de poder continuar a impor, de alguma maneira, a muita experiência que tem. O que a continuidade de Jardel pode significar para os benfiquistas é que o clube reconhece e é grato e não fará nada que leve Jardel a deixar a Luz. Pelos vistos, muito pelo contrário. Os adeptos gostarão de saber que o clube também olhará para quem merece.

Claro que poderia (ou poderá ainda) o próprio Jardel querer abandonar o Benfica, para jogar mais ou, eventualmente, ganhar mais dinheiro. Nesse sentido, não acredito, também, que o Benfica impedisse Jardel de o conseguir. O que o Benfica sabe é que perder Jardel será perder uma das últimas grandes referências do plantel, um jogador com muito peso no balneário e um profissional de mão-cheia, mesmo que já não tenha em campo o rendimento que o levou, nalgumas épocas, a ser titular indiscutível. Na impossibilidade de continuar a ter Jonas, e depois de parecer ter virado as costas a Salvio, manter Jardel é manter uma espécie de último dos moicanos.

Se o que me é garantido por gente com alta responsabilidade no Benfica é que Jardel não deixará a Luz, então sou levado a crer que é também o próprio Jardel a não querer sair. A dois meses de chegar aos 34 anos, e com nove anos de Benfica (chegou à Luz em janeiro de 2011), Jardel pode muito bem seguir a via de Luisão.

Tem Jardel a vida toda adaptada a Lisboa, ganhará certamente bem, parece ser reconhecido na Luz, sublinho, como um profissional de grande nível, e sobretudo, alguém com personalidade e caráter, defensor dos valores da equipa e do clube, alguém, em resumo, que o Benfica facilmente escolherá para se manter nos quadros do clube após terminar a carreira.

Creio, por tudo isso, que não deixarão os benfiquistas de ver com bons olhos a continuidade deste casamento de Jardel com o Benfica. Nove anos num clube cria enorme e profunda raiz. E nos tempos que correm, já tem um valor que ultrapassa muito o rendimento desportivo.

Numa equipa, todos os jogadores são evidentemente importantes, mas todos sabem como há sempre jogadores mais importantes do que outros, ou por terem mais talento, ou por serem mais criativos, mais inteligentes, mais rápidos, mais capazes de desequilibrar o adversário, ou, sobretudo, por serem mais vezes mais decisivos.

No caso da equipa do FC Porto, de novo finalista da Taça da Liga, é curioso como um dos jogadores mais importantes pareça sempre, ao mesmo tempo, um dos mais dispensáveis. Quantas vezes foi Tiquinho Soares visto como a primeira opção clara, aquele titular indiscutível, o jogador referência no ataque do FC Porto? E, ao contrário, quantas vezes esteve na segunda linha, foi forçado a atravessar o deserto ou a parecer que teria sempre de trabalhar mais do que os outros e fazer mais do que os outros para merecer uma oportunidade?

Espécie de mal-amado entre algumas estrelas realmente mais prodigiosas, a verdade é que Tiquinho Soares é bem capaz de ser o melhor avançado que Sérgio Conceição tem no plantel do FC Porto.

Parece desengonçado? Às vezes trapalhão? Outras descoordenado? Sim, parece. Não terá os atributos técnicos de outros mas tem uma fibra inigualável, um espírito combativo de excelência, uma determinação e ambição invejáveis, faz golos fáceis e difíceis, marca com os pés e com a cabeça, é um lutador incansável, pode não ter a técnica mas tem a sabedoria dos movimentos, e faz golos. E faz golos decisivos.

Assim de repente, foi um golo de Soares que manteve o FC Porto na Liga Europa, foi um golo de Soares que valeu ao FC Porto a vitória em Alvalade, e foi um golo de Soares que colocou agora o FC Porto na final da Taça da Liga.

Tiquinho Soares está no FC Porto há praticamente três anos. Quando chegou, com Nuno Espírito Santo, dois golos ao Sporting de Jorge Jesus levaram-no ao céu. Já foi campeão, já ganhou, já perdeu, já sorriu e sofreu, já viveu lesões e períodos sombrios, no banco.

Já muita coisa, entretanto, mudou, nos adversários e até no plantel do próprio FC Porto. Mas Tiquinho Soares, esse permanece fiel a ele próprio. A mesma raça, o mesmo impulso, o mesmo olhar feroz para os adversários em campo e os olhos postos sempre do mesmo modo na baliza. Às vezes desengonçado, outras vezes trapalhão. Mas sempre, sempre obstinado por dar à equipa o que a equipa precisa dele.

Com todo o respeito por quem sabe, comigo Tiquinho Soares jogava sempre!

Curioso como outro dos jogadores mais importantes do FC Porto, talvez mesmo o melhor jogador do FC Porto atual, pareça, ao mesmo tempo, aquele a quem mais depressa se pede que deite os foguetes mas vá também… apanhar as canas. Jesus Corona, como estamos fartos de ver, é tão bom, tão bom, tão bom, que às vezes mete dó vê-lo trabalhar atrás quando podia estar a brilhar (e a fazer brilhar a equipa) na frente. Com Corona perto da grande área adversária - e não da sua - o FC Porto está sempre mais próximo de chegar ao golo.

É isso - todos os jogadores são importantes, mas realmente há uns que são (muito) mais importantes que outros.

No essencial, o VAR é um bem para a verdade desportiva de qualquer jogo. Outra coisa é a questão cultural e o modo como nos relacionamos com esse instrumento tecnológico, percebendo, ou não, que mesmo a existência do VAR não elimina totalmente o erro de avaliação de quem, por fim, tem de decidir. Se for mal usado, como por vezes também parece que é, então o VAR deixa de ter um efeito tranquilizante para passar a ter um efeito perturbador.

No essencial, portanto, o VAR é um bem. Mas é preciso compreender que o VAR nunca será cem por cento perfeito (porque é tecnologia usada por humanos) e é preciso que o VAR procure permanentemente a perfeição, mesmo sabendo que nunca a conseguirá.

O que também não podemos é querer o VAR para umas coisas e não o querer para outras. Não podemos exigir que esclareça um fora de jogo e não querer esperar que a tecnologia faça o seu trabalho; nem podemos querer que mesmo os olhos dos árbitros vejam tudo o que a televisão parece mostrar. Há sempre a hipótese de qualquer coisa falhar.

No caso do Vitória de Guimarães-FC Porto desta semana, os adeptos do futebol só podem estar gratos ao VAR quando é o VAR que permite corrigir o erro inicial de validar o segundo golo do Vitória, tornando assim o resultado do jogo verdadeiro e, sendo verdadeiro, permitir ao FC Porto ser um justo finalista da Taça da Liga.

Foi para isto que o VAR foi criado. E é nisto que todos se devem esforçar ao máximo por tornar, definitivamente, o VAR.

Compreendendo todos que, num jogo como o futebol, com tantos tipos de contacto, tanto movimento e tanto raio de ação, nem sempre é o que parece na televisão, e compreendendo todos como, nalguns casos, mesmo o que mostra a televisão poderá parecer sempre a uns uma coisa e a outros outra bem diferente.

Bem sei que já passaram oito dias - e entretanto, tanta coisa já aconteceu - e muito digerida (e vivida certamente com euforia) foi a vitória do Benfica no dérbi. Mas atrevo-me a voltar ao que sucedeu em Alvalade para dizer que o Benfica venceu não por ter sido melhor equipa que o Sporting mas porque tem melhores jogadores que o Sporting e tem Bruno Lage, sobretudo, mais e melhores soluções do que Silas. Tem sido aliás a sina do Benfica esta época, a ganhar mais vezes por ter melhores jogadores do que por ser melhor equipa.

Já o Sporting, parece com a sina dos mais fracos, porque mesmo quando é melhor acaba por perder. Foi assim com o FC Porto, voltou a ser assim com o Benfica. No dérbi, as primeiras (e melhores) oportunidades de golo foram dos leões. Não atirou ao poste o jovem Rafael Camacho - um talento que na próxima época dará muito, mas mesmo muito que falar? E de quem foi a defesa da noite? Não foi do guarda-redes do Benfica?!

Não tem o Benfica jogado um grande futebol, como, aliás, nenhuma das principais equipas da Liga portuguesa tem jogado grande futebol, à exceção, talvez, do Braga, com Sá Pinto ou, agora, com o estreante Rúben Amorim, a equipa portuguesa que esta época mais vezes mostrou bom jogo, não esquecendo o que de bom já fez, também, o Vitória de Guimarães, ou o surpreendente e sensacional Famalicão.

Mas o Benfica tem outras obrigações. É verdade que ganha muito e, por este andar, dificilmente deixará de renovar o título de campeão. Mas joga menos do que devia. E não vejo, com toda a franqueza, como alguém possa dizer o contrário!