Questão de quase
O que o FC Porto tem a ver com a aldeia espanhola do quase (do Nelson Rodrigues)
VENDO o FC Porto jogar contra o Atlético de Madrid, lembrei-me de Alex Ferguson a falar de Véron, o Véron que era fantástico, mas imprevisível, que se o colocassem a médio-centro, acabava a extremo, se o colocassem à direita, acabava à esquerda - razão por que Fergusson afirmou:
– Não é possível construir-se uma equipa com almas irrequietas...
Não, não me lembrei disso por ter visto no FC Porto indício desse síndroma Véron porque, com Sérgio Conceição a treiná-lo, nenhum jogador sofre disso (e Wendell fazer o que fez, não o fez por alma irrequieta, fê-lo por cabeça tonta...)
Vendo o FC Porto jogar contra o Atlético de Madrid, lembrei-me de Jorge Valdano a falar dum princípio que se solta dum dos seus poéticos olhares para o futebol (e, amiúde, se vai perdendo...)
– O treinador propõe, o jogador dispõe e os limites que a tática impõe não podem ser a prisão para o talento…
Não, não me lembrei disso por ter visto no FC Porto talento aprisionado - porque se há talento que Conceição tem é fazer com que os seus jogadores usem o talento sem extravagâncias inúteis - e sobretudo ao serviço da equipa.
Vendo o FC Porto jogar contra o Atlético de Madrid, lembrei-me de Nelson Rodrigues, esse genial cronista que, sendo vesgo, me ensinou que, no futebol, o pior cego é o que só vê a bola. E não, não me lembrei dele por ter visto o FC Porto (ou o Sérgio Conceição) atormentado como se fosse a aldeia espanhola do Nélson em que as mulheres são quase bonitas, os homens quase honestos, as esposas quase fieis, os ladrões quase ladrões, tudo é quase alguma coisa. Lembrei-me dele por ter visto, outra vez, o FC Porto em quase golo, nesse quase que o poderia deixar quase perfeito se tivesse ponta de lança letal (ao jeito do Falcão ou Jackson) - ou se não tivesse deixado fugir o Hulk para o Atlético Mineiro. E como não me parece que o Hulk seja uma (má) alma irrequieta ou ande (já) de talento preso dentro de si (no seu frenesim) - é que não percebo (sem quase...)