Quem são os padrinhos dos ‘hooligans’?

OPINIÃO15.07.201901:52

O Académica-Benfica do último sábado ficou ensombrado por incidentes na bancada, que levaram à interrupção do jogo durante sete minutos e tiveram, como consequência, um ferido grave. Perante este cenário, ninguém tem o direito de dizer que «foi chato» e que «estas coisas acontecem», para isso «é que serve a polícia». Há muitos anos que uso o argumento a que a seguir vou voltar, que tem como ponto de partida uma conversa, no auge do hooliganismo, entre a senhora Thatcher e o presidente da Football Association. Disse o dirigente à primeira ministra de Inglaterra: «Tire o seus hooligans dos meus estádios.» E foi o que Margaret Thatcher fez, ainda antes de a Inglaterra ter minorado o problema social que estava na base do hooliganismo. Entre 1985, ano da tragédia do Heysel, e 1996, quando os ingleses organizaram o Euro-96, os estádios ingleses foram limpos de extremistas, que não queriam saber do futebol, visto por eles  apenas como meio para os atos violentos que pretendiam praticar. Com muita coragem, o governo de Sua Majestade e os clubes, como parte muito interessada, já que o projeto da Premier League que arrancou em 1992 nunca seria viável sem estádios seguros, promoveram uma revolução e transformaram um círculo vicioso num círculo virtuoso.
Portugal, nesta matéria, tem em mãos um problema infinitamente mais fácil de resolver do que aquele com que se confrontaram os ingleses na década de oitenta do século passado. Mas nunca houve coragem (que sobrou a Thatcher) para pegar o touro pelos cornos e a permissividade perante os bandidos que provocam desacatos, ofendendo física e verbalmente quem vai aos estádios, tem sido confrangedora.


Está à espera de votação, no Parlamento, legislação que pode ajudar muito na luta contra a violência no desporto. Não sei quanto tempo mais demorará a aprovação, nem compreendo as reservas colocadas por alguns clubes, que deveriam ser os principais interessados na resolução deste problema. Porque a solução é simples: quem prevarica, como aconteceu em Coimbra, no sábado, deverá, acrescendo às outras sanções, ser impedido de entrar nos estádios. Se este princípio for aplicado para além do faz de conta em que vivemos, não tardará e a minoria de adeptos violentos que polui os nossos estádios e torna o futebol português pior, será erradicada.