Quem muito espera…

OPINIÃO29.04.202003:00

Ontem passaram exatamente 18 anos sobre o último campeonato ganho pelo Sporting. Na noite de 28 abril de 2002 a bela Praça do Município encheu-se de adeptos verde e brancos que cantaram a plenos pulmões «só eu sei porque não fico em casa». O Benfica deu uma ajudinha ao vencer na Luz o Boavista, que era o campeão em título e o maior adversário dos leões, mas essa equipa do Sporting, montada em torno da dupla João Vieira Pinto-Jardel, era tão forte que ganharia o campeonato de qualquer maneira. Lembremos o plantel à disposição do treinador romeno Lazlo Boloni: na baliza havia Nélson, Tiago e Beto; como laterais: César Prates e Luís Filipe (direitos), Rui Jorge, Dimas e Rodrigo Tello (esquerdos); médios centrais: Paulo Bento, Rui Bento, Custódio, Vidigal, Diogo e Pavel Horvath; interiores: Pedro Barbosa, Hugo Viana e Afonso Martins; avançados e extremos: Jardel, João V. Pinto, Ricardo Sá Pinto, Ricardo Quaresma, Marius Niculae, Lourenço e Mbo Mpenza. O miúdo madeirense Cristiano Ronaldo (17 anos) já encantava mas só seria chamado por Boloni à equipa principal no ano seguinte. O presidente era Dias da Cunha e o homem forte do futebol Luís Duque, que deu um golpe de mestre com a contratação do supergoleador Jardel. O ex-portista faria 42 golos só no campeonato, muitos deles servidos de bandeja pelo ex-benfiquista JVP. Os dois formaram uma das melhores duplas que há memória em Alvalade e no campeonato português. A equipa do Sporting tinha qualidade a rodos, mas também um astral muito positivo (digamos assim) com os árbitros, que assinalaram 17 penáltis a favor dos leões (15 deles convertidos por Jardel), uma safra que igualou o velho recorde do FC Porto de Tomislav Ivic no campeonato de 1987/1988.


Uma coisa é garantida: como o Sporting não vai ganhar o campeonato deste ano, o clube já sabe que vai firmar um novo jejum recorde: serão 19 anos sem ser campeão, o que iguala a pior série do FC Porto (1959-1978). Esse jejum só poderá ser quebrado em maio do próximo ano. Embora sem grandes responsabilidades no assunto (só está em funções há pouco mais de um ano), Frederico Varandas já sabe que fica na história como o presidente (à data) do maior jejum sportinguista. Não será o único com marcas desagradáveis no mandato: Bruno de Carvalho também fica na história, entre outras coisas, como o presidente do único tetra benfiquista (2014-15-16-17); sem esquecer que o visionário José Roquette foi o presidente que consentiu a ultrapassagem do recorde futebolístico mais valioso do clube (o tetra dos cinco violinos) pela equipa do penta portista (1994-1999), feito ainda por cima comemorado em pleno estádio de Alvalade. Quem muito espera desespera, diz o ditado que parece ter sido feito propositadamente para os adeptos leoninos. Mas é difícil, atentando na conjuntura atual, imaginar que o Sporting consiga reunir meios que lhe permitam a breve prazo suplantar na mesma época Benfica e FC Porto.  


 Não sabemos quem - e quando - ganhará o campeonato deste ano, sabemos só que o FC Porto vai na frente depois de anular expressiva desvantagem e que tem vantagem no confronto direto com o Benfica. Também sabemos que o campeão sairá da parelha que monopoliza a competição desde 2002 - portanto, há quase vinte anos consecutivos. Se for o FCP campeão, parece-me que a leitura que se fará é óbvia: ganhar um segundo campeonato em três anos numa conjuntura económica altamente desfavorável (por culpa própria, atenção), sobretudo quando comparada com a do Benfica, é proeza assinalável … e uma derrota que Vieira terá muitas dificuldades de explicar aos adeptos.  Sérgio Conceição passará a desfrutar do estatuto de herói num clube onde há demasiada gente em lugares importantes a falhar… há demasiado tempo. Em termos absolutos, seria o quinto campeonato portista contra cinco do Benfica na década que fecha agora (2010/2011-2019/2020): equilíbrio absoluto. Se for o Benfica a ganhar, será o sexto campeonato na década e nos últimos sete anos (!), confirmando-se a mudança da primazia doméstica do Dragão para a Luz (já em termos internacionais, o Benfica terá de fazer muito melhor para se aproximar do registo portista). É claro que ganhando um campeonato que a certa altura parecia ganho e depois estava a caminho de ser perdido (na altura da interrupção), Luís Filipe Vieira avança para as eleições de outubro numa posição muito mais confortável. Notem: seis campeonatos em sete anos é coisa que o Benfica não consegue desde a década de setenta do século passado (1971-1977), no tempo de Jimmy Hagan, Milorad Pavic, Mário Wilson e John Mortimore.


No conjunto das cinco principais ligas europeias, nos últimos dez anos, só há mais um exemplo de duopólio tão persistente como o nosso: a Bundesliga alemã, onde Bayern Munique (8 títulos) e Borussia Dortmund (2) não permitem terceiras vias. Se considerarmos os últimos vinte anos, veremos que o Bayern é de longe a potência mais hegemónica da Europa, com 14 campeonatos ganhos contra apenas dez do FC Porto, Barcelona e Juventus. Atentando na classificação da Bundesliga à 25.ª jornada (faltam 9), percebemos que o Bayern (líder com 55 pontos, mais quatro que Dortmund) é sério candidato a empochar um oitavo campeonato seguido, igualando o recorde da Juventus que, por sua vez (mais um ponto que a Lazio a 12 jornadas do final), tem na mira um impensável nono scudetto consecutivo. De resto, teremos (ou melhor, teríamos, face à decisão do governo gaulês em cancelar a Ligue 1) campeões previsíveis em França (PSG), uma liga que, a despeito da atual superioridade parisiense, apresenta oito campeões diferentes (!) nos últimos vinte anos; em Espanha (Barcelona ou Real, separados por dois pontos a 11 jornadas do fim)… e de certa maneira em Inglaterra, onde o Liverpool, com 25 pontos de avanço sobre o City e senhor da melhor campanha de sempre numa liga big five (27 vitórias em 29 jogos), precisa de ganhar mais dois jogos para ser campeão pela primeira vez em trinta anos.