Queiroz não sofre golos
Bela campanha da Colômbia de Carlos Queiroz na Copa América: três vitórias a zero, três demonstrações de solidez e consistência defensiva dos cafeteros. Na sexta, os colombianos defrontam o aguerrido Chile de Reinaldo Rueda na Arena Corinthians de São Paulo. Os chilenos são bicampeões sul-americanos em título mas, se calhar, também serão neste momento um adversário mais acessível do que o Uruguai, que está a jogar muito bem e tem muito provavelmente a melhor dupla de pontas de lança do mundo em Luis Suárez e Edinson Cavani (como nós bem sabemos). Contra o Chile, nada que saber: Queiroz tentará mais uma vez ganhar sem sofrer golos, afinal a marca registada do treinador que revolucionou o futebol português em finais dos anos oitenta com a aposta decisiva na formação. Que as equipas de Queiroz sempre defenderam bem não é novidade: com ele no banco, por exemplo, Portugal saiu do Mundial de 2010 com apenas um golo sofrido em quatro jogos (do espanhol David Villa em fora de jogo milimétrico; com VAR não teria sido validado). Aliás, se atentarmos nos escassos 139 golos sofridos por Queiroz no total dos 197 jogos que cumpriu ao serviço de cinco seleções - Portugal (50), Emirados Árabes Unidos (16), África do Sul (24), Irão (100) e Colômbia (7) - chegaremos à conclusão que ele detém uma registo defensivo absolutamente de exceção (0,70 golos sofridos por jogo): para encontrar uma média assim deve ser preciso recuar ao ferrolho do mago Helenio Herrera nos anos sessenta.
Este ano começou com Queiroz ainda selecionador do Irão a disputar a Taça da Ásia cuja fase final decorreu nos Emirados Árabes Unidos em janeiro. Como se recordarão, o Irão chegou às meias-finais sem sofrer qualquer golo (4 vitórias e um empate, 12-0) antes de cair aos pés do Japão (0-3). Cinco meses decorridos, a história repete-se mas na Copa América: três vitórias limpas e uma delas particularmente convincente: 2-0 à Argentina de Messi. A solidez defensiva da Colômbia (dois golos sofridos nos sete jogos que leva com Queiroz) percebeu-se bem neste último jogo com o Paraguai, em que o treinador português, já apurado, fez dez alterações no onze inicial. A equipa manteve a coesão defensiva à europeia, como escreveu a imprensa colombiana, que tem aceite sem grande consternação o pragmatismo resultadista do treinador português (lembre-se que a Colômbia é uma seleção tradicionalmente associada ao futebol bonito).
Sem nunca ter conseguido afirmar-se como profeta na própria terra, apesar de ter contribuído decisivamente para o grande salto em frente do futebol nacional - não conseguiu impor-se num Sporting com um plantel extraordinário (Figo, Balakov, Peixe, Juskowiak, Iordanov, etc) nem na Seleção Nacional, que orientou por duas vezes (1991-93 e 2008-10) sem grande sucesso - Carlos Queiroz continua a provar por esse mundo fora que é um treinador competente, competitivo e atualizado. A melhor sorte para a final de sexta feira.
PS - Absolutamene notável a entrevista que Vítor Baía deu ao Porto Canal numa viagem, na primeira pessoa e sem filtros, ao universo competitivo portista dos últimos trinta anos. Quem quiser perceber por que razão o FCP foi a única equipa portuguesa a ganhar taças europeias (foram várias) no tempo do futebol indústria, veja-a. Quem quiser perceber por que razão o FCP continua a ser, neste tempo de futebol para bilionários, a única equipa portuguesa com cara de poder voltar a viver um sucesso europeu, veja-a.
La Liga tenta ripostar à Premier
Despeitada por ter perdido a primazia, a Liga espanhola parece decidida a combater o crescente poderio da Premier inglesa, que quebrou de uma forma brutal e inédita - 4 clubes nas duas finais europeias! - a longa hegemonia espanhola nas competições continentais. O jornal AS fez cálculos a todo o dinheiro aplicado em reforços até ao momento e concluiu que La Liga lidera folgadamente o mercado com gastos na ordem dos 800 milhões (sendo que 240 dizem respeito às putativas transferências de Griezmann e Félix), muito à frente da Bundesliga alemã (434 milhões), Serie A italiana (352), Premier inglesa (197), e Liga francesa (36). Os dois colossos espanhóis são, obviamente, os mais preocupados com a ameaça encabeçada por Livepool e Abu Dhabi City. Real e Barça dominaram a Champions na última década e não estão dispostos a perder a primazia na elite das elites. O maior de todos os clubes europeus, Real Madrid, já gastou 300 milhões (em Hazard, Jovic, Militão, Mendy e Rodrygo) e o Barcelona para lá caminha, a concretizar-se a ida de Griezmann e o regresso de Neymar a juntar à contratação de Frenkie De Jong. No restrito seio dos colossos mesmo a sério (passe a expressão) a Juventus poderá gastar entre 150 e 220 milhões em contratações, o mesmo que o Man. United e o Bayern ambos em fase de renovação (os alemães gastaram 115 milhões em Lucas Hernández e Pavard e são candidatos a Leroy Sané ou Gareth Bale). Aguarda-se a resposta da pérfida e riquíssima Albion, ou seja, quantos milhões vão gastar Abu Dhabi City, Liverpool, Tottenham, Arsenal e Chelsea. Para já, a Espanha ganha de goleada nos gastos.
Federer (como CR7) sem idade
O grande Roger ganhou na relva de Halle pela décima vez e disse no final ter ficado muito satisfeito por ter aguentado sem problema «cinco jogos em cinco dias». Acontece que em Halle o suíço tornou-se o tenista mais velho de sempre a vencer um torneio ATP: 37 anos e dez meses. Curiosamente, na mesma tarde o matusalém espanhol Feliciano López também venceu na relva, mas em Londres (Queens) com 37 anos e 9 meses. Ambos bateram o recorde do croata Ivo Karlovic, que venceu o Open de Los Cabos em 2016 com 37 anos e 6 meses. No caso de Roger, podemos dizer que a sua longevidade no topo é um fenómeno quase tão excecional como a qualidade do seu ténis. Exatamente como o nosso Cristiano Ronaldo que, a caminho dos 35 anos, continua a fazer coisas magistrais com uma constância impensável para a idade que tem. Na verdade, se virmos bem as coisas, a idade de Roger e Cristiano já não importa. São eternos.