Quase pareceu um milagre

OPINIÃO21.08.201804:31

O foco, como é moda dizer, de dirigentes, agentes de propaganda e meios de comunicação social incide sobre os desempenhos dos árbitros, esmiuçados até à insignificância, inclusive por especialistas na matéria, o que mais intrigante é, ou não… Para o bem e para o mal, os árbitros sempre se sentiram respaldados nessa poderosa confraria do apito e, curiosamente, os treinadores sempre se sentiram escudados nessa organização influente, espécie de vazadouro de conveniências onde se habituaram a despejar as culpas pelos insucessos e através desse estratagema esconderem as suas próprias limitações.

Os treinadores muito raramente admitem que se enganam. Duvido, por isso, que a máquina da verdade chamada VAR lhes agrade.

A necessidade de camuflarem as suas inépcias com os lapsos dos árbitros é uma forma de sobrevivência profissional, diria tratar-se de uma desgraça cultural que atravessou gerações e da qual monstros do dirigismo e do treino se serviram à fartazana durante anos a fio, muito embora alguns guardiões da verdade jurem o contrário.

Tem sido notável o esforço da arbitragem no sentido de batalhar pela credibilidade que lhe recusam. Luta contra o mundo. Sempre foi assim, e assim continuará a ser, desejando-se que por pouco tempo. É esse o desafio que a todos deve envolver em nome da valorização do jogo, do enriquecimento do espetáculo e da saúde do negócio.

A classe dirigente é o problema, incapaz de libertar-se do emaranhado de rivalidades tribalistas por ela criado. Não tem uma visão global e lúcida do fenómeno, nem estratégias, nem planos. Esgota-se nas intrigas e ciumeiras de paróquia. E, no entanto, o futebol avança. Uma FPF de referência internacional, títulos mundiais e europeus nas seleções, jovens talentosos a destacarem-se e mais coisas boas que nos fazem acreditar que existe futuro.

Há um ano alguém se convenceria de que fosse possível num jogo com cinco golos, dois de penáltis em lances duvidosos, o vencedor ter sido decidido ao sexto minuto da compensação e os dois treinadores, nas conferências, se pronunciarem unicamente acerca desse mesmo jogo, cada qual promovendo as leituras que dele fizeram? Ninguém, seguramente. Pareceu um milagre, mas aconteceu mesmo, foi real. É este o caminho e, anteontem, no Jamor, deu-se um passo de gigante. Sérgio Conceição e Silas fizeram história e Carlos Xistra (árbitro) e João Capela (VAR) ficaram nela retratados com a nitidez que só as sociedades modernas e civilizadas exibem.

Nota - Escreve o jornalista Pascoal Sousa, em A BOLA, acerca de Manuel Mota, árbitro do Boavista-Benfica : «Muito boa arbitragem do juiz de Braga» (nota 8). Escreve o especialista Duarte Gomes sobre o mesmo tema: «Jogo com muito erros disciplinares, que Mota seguramente irá rever, perceber e corrigir» (nota 4).

Segui o jogo em tempo real (via TV), sem reduções nem ampliações, e concordo com Pascoal Sousa.

Salvador traído na sua cruzada

Desde o jogo da primeira mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa, que acabou empatado (1-1), fiquei convencido que a passagem do SC Braga estaria assegurada, dada a sua superioridade face aos ucranianos do Zorya.

Declaro o meu equívoco, mas custa-me admiti-lo por entender que se há eliminatórias mal perdidas esta foi uma delas, para frustração de António Salvador, uma vez mais traído nesta sua cruzada de levar o Braga para cima, a qual não abdica da candidatura ao título campeão nacional até ao ano do centenário, em 2021, depois de ter sido vice em 2010.

Assisti ao jogo da 2.ª mão através da transmissão da Sport TV e não pude deixar de interrogar-me: como foi possível? Argumentou Abel Ferreira que foram melhores nos dois jogos, mas a infelicidade estragou tudo, um perfeito regresso ao tempo das vitórias morais, essa espúria desculpa que se pensava guardada no baú das inutilidades.

O primeiro objetivo desportivo da época diluiu-se. Para o treinador é como se nada se tivesse passado. Fez a choradeira do costume e agarrou-se à má sorte. Sem razão, porém. Foi mais incúria de quem está a construir carreira de sucesso, como eu acredito que esteja, e às vezes se julga ser o que ainda não é. Não sei se foi o caso, mas bastaria que um dos seus colaboradores lhe tivesse transmitido os repetidos avisos de Luís Freitas Lobo, no comentário televisivo, sobre o que deveria ser feito para salvar a eliminatória. Pareceram-me sábios e atinentes. Pena foi que não tivessem chegado ao destinatário certo, ou se chegaram e este não lhes deu atenção.

Anteontem, nos Açores, o mesmo SC Braga permitiu que o Santa Clara recuperasse de uma desvantagem de três golos em menos de 20 minutos . Faltou aos seus jogadores «maturidade competitiva», desculpou-se Abel. Reconheço que treinar uma equipa azarada, que também é imatura e masoquista, deve ser complicado…