Quanto pior melhor
Há situações nas vidas dos clubes em que é dever das primeiras figuras assumirem a liderança. Foi o que Rogério Alves fez. É o que Pires de Andrade está a fazer
A O contrário do que fez o seu antecessor, que abandonou o barco antes que a tempestade chegasse, António Pires de Andrade, atual presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, reconhece a importância do cargo, principalmente em períodos de agitação e turbulência, e mais do que nunca, como primeira figura institucional do clube, sabe que deve contribuir para manter a família unida, protegendo-a de tentativas desagregadoras vindas de setores com duvidosas intenções.
O que já se viu deu para perceber que a saúde da águia está a ser enfraquecida por algumas minorias que exploram a estratégia do quanto pior melhor, dizendo mal de tudo e de nada e alimentando a discórdia para se tornarem tema de notícia por tempo prolongado.
De entre os movimentos que emergem como cogumelos, prova de que o terreno é fértil e apetecível, há um, identificado como Servir o Benfica, particularmente ativo desde que nasceu como base de eventual alternativa eleitoral. Que não passou disso mesmo, porém, de uma artística ideia sem pernas para andar como ficou demonstrado quando resolveu alinhar no esboço de uma frente comum para derrotar Vieira e a principal figura desse movimento se transferiu para a lista de Noronha Lopes como presidente da MAG.
Luís Filipe Vieira ganhou nas última eleições com mais de 60 por cento de votos e os seus opositores regressaram a penates, aparentemente resignados.
João Noronha Lopes aceitou o resultado, cumprimentou o vencedor e retirou-se, melhor, tem-se mantido à distância, ora aparece, ora desaparece, o que me intriga, mas que um amigo meu de longa data e seu apoiante, não gostando da expressão que utilizei, contrapôs com o argumento de que o candidato derrotado revela um comportamento que é raro ver e que dá pelo nome de «sentido de Estado». Será, atrevendo-me a sugerir, contudo, que se for seu propósito voltar a submeter-se ao escrutínio do universo benquista em próximo ato eleitoral, no mínimo, deverá rever a lista de convidados…
O último comunicado do presidente da MAG, divulgado este fim de semana, é esclarecedor, dissipa dúvidas, retira espaço à intriga e retrata uma firmeza absolutamente necessária no período sensível que o Benfica atravessa, recusando que as regras se adulterem ou que se governe de fora para dentro, com desrespeito pelos estatutos do clube e pelas Leis do País.
Ficou a saber-se, por exemplo, que foram dirigidos convites aos mandatários «de cada uma das listas concorrentes ao ato eleitoral de outubro passado para se fazerem representar na abertura das urnas e contagem de votos» e, estranhamente, ou não, «nenhuma das listas respondeu positivamente ao convite endereçado».
António Pires de Andrade remata na sua oportuna e tranquilizadora mensagem que não se intimida perante os pedidos públicos para a sua «renúncia imediata», tão pouco se deixa abater por esses artifícios «sem qualquer fundamento legal». A sua energia vai concentrar-se, sublinha, na organização do próximo ato eleitoral antecipado, «para concretizar até ao final do corrente ano», conforme foi anunciado.
Depreende-se que está tudo a ser tratado no sentido de o mais depressa possível se criarem as condições que permitam o regresso à normalidade do maior clube português.
Mais depressa do que se supunha, o que não deve agradar àqueles com especiais qualidades de insinuação, os mesmos que, seja na política ou no futebol, agem em função de conveniências e não de convicções: os chamados oportunistas, vendedores de promessas, especialistas no flic flac para a frente e… para trás.
H OJE, o Sporting respira estabilidade e futuro, como se tivesse renascido, mas foi muito problemática a transição Bruno de Carvalho-Frederico Varandas, traduzida em meses conflituosos e em assembleias de acaloradas discussões. A nação leonina, mais do que dividida, sentia-se perturbada, perdida, à espera de uma luz que lhe indicasse o caminho e esse sinal pacificador e orientador veio de Rogério Alves, o presidente da Mesa da Assembleia Geral, o qual, em todos os momentos, alguns bem difíceis, jamais se inibiu face a movimentos ou pressões. O poder nunca caiu na rua, porque ele não autorizou, contribuindo decisivamente não só para a desejada mudança mas também para o Sporting ser o que é hoje. Provavelmente, já poucos se lembrarão. É assim…
Cada caso é um caso, mas há situações de tal maneira graves nas vidas dos clubes em que é dever das primeiras figuras das instituições assumirem a liderança, imporem o respeito estatutário e oferecerem aos associados a estabilidade para poderem expressar-se livremente, pela palavra e pelo voto. Foi o que Rogério Alves fez. É o que Pires de Andrade está a fazer.
Parece coincidência, mas quem sabe se não estaremos no dealbar de um novo ciclo no futebol português. Quem sabe…