Quanto pesa uma medalha olímpica
Qualquer dividendo político que se pretenda retirar dos bons resultados da nossa delegação olímpica são obviamente excessivos
UM facto incontestável: Portugal conseguiu, em Tóquio, a sua melhor representação olímpica de sempre. Uma medalha de ouro, uma de prata e duas de bronze e, ainda, treze diplomas olímpicos no total (à hora em que escrevemos este texto). E este é um resultado cuja dimensão deve ser assinalada, porque num tempo de grandes dificuldades, durante o qual o desporto foi, por opção política, o patinho esquecido do governo, apesar disso, foi possível concretizar um programa de preparação olímpica, que envolveu, em especial, atletas, treinadores e dirigentes desportivos. Daí que se devam a estes, e não a outros, as felicitações que o país inteiro, pelo menos o país desportivamente racional e consciente, reconhecerá.
Qualquer dividendo político que alguém pretenda retirar dos bons resultados gerais da delegação portuguesa são, mais do que excessivos, despropositados. Tanto do lado do governo, como do lado da grande maioria dos partidos da oposição, a devastação do desporto no país, em especial, na sua área de formação e crescimento, foi sempre vista com uma indiferença angustiante e até cruel.
Portanto, é preciso cuidado com a análise dos resultados e com a sua natureza meramente estatística. Sobretudo, é preciso ter cuidado com os eventuais aproveitamentos de quem procura juntar-se a um sucesso para o qual, verdadeiramente, não contribuiu.
Terminados os Jogos, o país regressará, previsivelmente, a um desinteresse geral do qual despertará dentro de três anos, por altura da organização dos Jogos de Paris. Ou seja: Portugal e os portugueses não estão, objetivamente, entre os que merecem os seus maiores campeões, aqueles que lutam, nos melhores anos das suas vidas, por um sonho que tem tanto de belo como de pouco reconhecido. E como também acontece com a falta de reconhecimento geral para com os nossos maiores nomes da literatura e do teatro, da música e da ciência, da filosofia e da arquitetura, do pensamento ou das artes plásticas, a culpa da ignorância não é de quem ignora, mas de quem não informa, não ensina, numa palavra, não educa.
Num país assim, o peso de uma medalha olímpica vale bem mais do que as gramas de ouro, prata ou bronze que podem ser registadas numa balança. O peso de cada medalha está no incentivo do sonho de outros jovens; na ideia de que cada ser humano consegue superar e superar-se além do imaginável; na convicção de que o sonho do Homem continua a ter o poder de comandar o mundo.
AINDA não é o momento de se fazerem as contas finais e de se analisarem as grandes novidades destes Jogos. No entanto, alguns pontos parecem, desde já, merecer uma especial atenção. O primeiro e muito especial ponto é o que nos dá como garantia a boa decisão de se terem realizado os Jogos Olímpicos de Tóquio. Muitas hesitações, algumas significativas oposições, mas tornou-se evidente que os Jogos representaram uma luz forte nas trevas em que tem vivido o mundo, na luta contra uma pandemia devastadora. Os Jogos foram uma janela de esperança aberta para o mundo.
O segundo ponto dá-nos conta do assinalável crescimento da China como primeira potência desportiva, o que significa bem mais do que uma questão desportiva.
O terceiro aponta-nos para um preocupante declínio dos Estados Unidos e da sua posição liderante.
O quarto dá-nos conta de que é sempre possível realizar uns Jogos Olímpicos sem público, mas não é possível transformar tais Jogos numa festa de dimensão mundial. E isso faz toda a diferença.
Pichardo trouxe ouro para Portugal
QUAL A VERDADE SOBRE MESSI?
Vinte e um anos e seis Bolas de Ouro depois de ter vestido pela primeira vez a inspiradora camisola do Barcelona, Leo Messi sai do único clube que representou profissionalmente. Sai pela porta pequena, com base numa justificação administrativa e regulamentar. Não faz sentido. Pode não se saber, exatamente, qual a verdade, mas sabe-se que haverá uma verdade que ainda não foi explicada. Agora, a expectativa é a de se conhecer o destino de duas marcas: a marca Barcelona sem Messi e a marca Messi sem Barcelona.
O PORTUGUÊS NO MUNDO
Há factos políticos que falam por si. Um deles, aliás eloquente, foi a presença e participação ativa do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa na reinauguração do museu de Língua Portuguesa, em São Paulo, apesar da provocadora ausência do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e da incentivadora presença do presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca. A língua portuguesa, como tão bem disse Pessoa, é a nossa Pátria e por ela somos mais de duzentos milhões em todo o mundo. Para nós, sermos europeus é muito importante, mas não é tudo.