Quando o Homem atrapalha o génio

OPINIÃO10.08.201901:52

Neymar, Balotelli, Pogba. Um brasileiro, um italiano, um francês. Têm em comum serem extraordinários jogadores de futebol e têm também em comum o facto de serem, hoje, uma aposta de risco para qualquer clube que decida investir no jogador, na esperança de conseguir resolver o Homem.


Neymar será, de todos eles, o caso mais complexo, mas também a proposta mais tentadora. O brasileiro esteve a caminho de ser o melhor do mundo e de suceder a Cristiano Ronaldo e a Messi. Porém, a sua última e decisiva fase de evolução, sobretudo a partir do momento em que o Paris Saint-Germain (ou o Catar) cometeu a loucura de o contratar por um valor obsceno, transformou-o num cisne negro do futebol mundial.
Agora, o Real Madrid propõe-se recuperá-lo, numa negociação que tem mais de estratégica (ataca duramente o ego do seu eterno rival de Barcelona) do que de convicção desportiva.


Quanto a Balotelli, a hipótese de chegar ao mercado brasileiro e ao Flamengo é, já em si, uma desvalorização para quem chegou a ser um dos jogadores top na Europa, onde fez coisas maravilhosas, mas que logo se eclipsaram perante a montanha de problemas que foi causando a dirigentes, treinadores e colegas de equipa.


A Itália viu, nele, a sua oportunidade para relançar a fama de qualidade do jogador italiano. Saiu-se mal com a escolha. Balotelli é um daqueles jogadores que não se dá bem com a pressão e a vida teatral do jogador de futebol moderno. E teve, contra si, o facto de não ser suficientemente bom para ser como foi Maradona: um génio rebelde que impunha a sua genialidade à sua excentricidade.


E há, ainda, o caso não menos curioso de Pogba. Desde jovem que a França via nele o seu melhor candidato ao título de melhor futebolista do mundo. A França é ótima a criar uma sedutora montra mediática, capaz de convencer o mundo de que o que expõe é luxo. Quando a seleção jogava, nomeadamente no Europeu em que Portugal foi feliz, todos os olhos e comentários se detinham em Pogba. Apesar de ter grandes jogadores, para os franceses, a sua seleção era Pogba e mais dez. Foi isso que fez decidir o Manchester United numa das transferências milionárias do século. Porém, o jogador não cresceu o que seria suposto crescer e todas as esperanças depositadas no francês foram, lenta e paulatinamente, definhando.


Há, em todos estes casos, um outro ponto comum. É preciso saber resolver o Homem e ninguém, ainda, chegou à solução, porque dificilmente ela se resolve atirando dinheiro para cima do problema, ou criando mais luxo e patamares de aberração humana. Cada caso é um caso, porque cada Homem é um Homem. E é este pequeno pormenor que atrapalha a lógica essencial do espetáculo.


Hoje em dia, se o Real Madrid quer Neymar, se o Flamengo quer Balotelli, se há procura por Pogba, não é pela lógica desportiva, mas pela lógica de marketing que estes nomes podem ajudar a desenvolver, numa indústria que também precisa de casos, de polémicas, de amarguras, de cenas de intensidade dramática.


Entretanto, desenvolvem-se, com a necessária fanfarra mediática, as cenas de suspense sobre o futuro de cada um deles. E não deixa de ser importante acompanhar com atenção o que se vai passar. A serem resolvidas, em breve, qualquer uma dessas negociações, pode provocar, na Europa, nova onda de negócios associados. Entre esses poderá estar o de Bruno Fernandes, que está num género de lista de espera dourada e que pode depender do desfecho das negociações maiores.