Quando o azar não é azar
HÁ equipas que parecem atrair o azar. Equipas a que quando as coisas parecem estar a melhorar um qualquer momento deita tudo a perder. Ou equipas a que a Lei de Murphy - «qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal, no pior momento possível» - parece não dar descanso. Olha-se para o Sporting e podemos, até, sentir-nos tentados a dizer que é uma dessas equipas a quem o azar parece não querer largar. O problema é que quando o azar se repete de forma sistemática normalmente não é só azar. Ou, dizendo-o melhor, raramente é, mesmo, azar. E no caso do Sporting, percebe-se, não é mesmo azar. Dizê-lo, dizendo que a equipa apresenta melhorias, apontando para a posse de bola, o número de remates ou de cantos ou dizendo, apenas, que «é futebol», como Varandas anda a fazer desde a goleada sofrida na Supertaça disputada com o Benfica, é querer atirar areia para os olhos de quem vê a equipa a jogar.
Não, não é azar. Tem outro nome. O presidente de um clube que se apresenta como candidato ao título e chega à décima jornada a dez pontos do primeiro não pode, pura e simplesmente, encolher os ombros e dizer que «é futebol». Um presidente que já despediu dois treinadores e não vê a equipa melhorar não pode, pura e simplesmente, abanar a cabeça como se as culpas fossem de todos menos sua. Não. Ver o Sporting a jogar - o de Keizer, o de Leonel Pontes e o de Silas - é deprimente. A este leão falta muita coisa, mas falta essencialmente qualidade. E isso não é, convenhamos, azar. Tem outro nome. Que todos sabemos qual é se olharmos para a forma como a SAD leonina (ou quem lá dentro tem essa pasta), mesmo tendo em conta as conhecidas debilidades financeiras, abordou o mercado de verão. Os azares não se preveem. A incompetência, normalmente, cheira-se a léguas. Sejamos sinceros: não se adivinhou, depois daquele 2 de setembro, que seria este o destino do Sporting? Azar? Não. Tem outro nome. Só não vê quem não quer. E Frederico Varandas parece não querer ver, preferindo ficar, talvez, à espera que o vento mude e traga um pouco de sorte. Não vai acontecer. Porque a sorte e o azar não têm nada que ver com o que se passa, hoje, no Sporting. E o vento não mudará, a não ser que alguém perca o medo e sopre com (muita) força.
HÁ árbitros que parecem atrair o azar. Como se, coitados, os jogos que apitam fossem, sempre, os mais complicados da história do futebol mundial. Olha-se para Fábio Veríssimo e somos tentados a pensar que é um desses árbitros, a quem por alguma razão pela qual não têm culpa nenhuma os jogos correm sempre (ou quase sempre...) mal. O problema é que quando o azar se repete de forma sistemática normalmente não é só azar. Ou, dizendo-o melhor, raramente é, mesmo, azar. E no caso de Fábio Veríssimo, percebe-se, não é mesmo azar. Tem outro nome. O que se viu ontem em Tondela é, apenas, mais um episódio de uma carreira que não se percebe como chegou onde chegou. E Fábio Veríssimo não tem azar. Tem, até, muita sorte. Porque há alguém que finge não ver e continua a apostar nele. Simples.
HÁ jogadores que parecem atrair o azar. Ontem André Gomes foi um desses jogadores. E como o azar, às vezes, é só mesmo isso, azar, a única coisa que podemos desejar é que o médio português recupere bem. Não depressa, apenas bem. André Gomes tem apenas 26 anos e, por isso, está mais do que a tempo de voltar a sorrir e a cumprir os desígnios que o seu talento sempre prometeu. É possível que nos próximos dias lhe pareça que o céu lhe caiu em cima da cabeça. Mas o tempo tudo cura. E André Gomes há de voltar em grande. Porque acima de tudo ele merece. Porque no seu caso foi, mesmo, apenas azar.