Prossegue a sociedade 'Razzi'

OPINIÃO20.08.201904:01

1 - Vitória difícil, mas merecida, do Benfica diante do Belenenses SAD, que, na época passada, tirou 5 em 6 pontos possíveis aos campeões nacionais. Com esta vitória, chegou-se à 10ª vitória seguida fora de casa no campeonato (27 golos marcados e 7 sofridos), num percurso até agora imaculado  desde que Bruno Lage passou a liderar a equipa. Um feito tão mais assinalável, quanto, para este percurso imaculado, ganhou em Alvalade, no Dragão, em Guimarães, Braga e Vila do Conde. No sábado e no Jamor, foi um triunfo difícil por várias razões: a primeira, porque o adversário jogou bem dentro das suas naturais possibilidades, tratando-se de uma equipa bem treinada e que sabe o que deve fazer no jogo; a segunda, porque o Benfica desperdiçou algumas boas oportunidades, tendo reduzido o seu grau de eficácia, face aos jogos contra o SCP e Paços de Ferreira; a terceira, porque o relvado de um estádio que se diz nacional é dos mais fracos do nosso campeonato, o que dificulta o andamento da bola que corria aos soluços e que, ainda que prejudicando ambas as equipas, tal foi mais notório no modo como o Benfica joga. Importa ainda sublinhar duas oportunidades flagrantes da equipa azul, ainda que resultantes de infelicidade (Rúben Dias escorregou e Vlachodimos impediu com classe) e de uma oferta  de Nuno Tavares, que quase me fez lembrar o modo como o Belenenses SAD marcou os golos que lhe deram o empate do ano passado, na Luz.

Sublinho aqui o jogão que Florentino Luís fez, com uma capacidade física inexcedível e uma ocupação de espaços notável. E, obviamente, a sociedade Rafa & Pizzi (ou, abreviando, Razzi) que continua a ser decisiva em momentos em que é difícil penetrar na área para o golo. A velocidade e técnica do primeiro e a sagacidade e visão do segundo têm permitido que nos 3 jogos oficiais já disputados (12 golos marcados, 0 sofridos), 7 tenham sido desta dupla, a juntar às assistências de um para o outro, ou para outros colegas facturarem. Eis  uma brilhante razia da sociedade Razzi. Sobre Rafa Silva, há, no entanto, que registar com preocupação um ponto comum às 3 partidas efectuadas. Não chegam os dedos das mãos para contar os raides com que avançou rumo à baliza adversária que, todavia, foram anulados por faltas duras e perigosas sobre o atleta. Este modo de massacrar o jogador (a que uns dóceis comentadores chamam «faltas tácticas inteligentes»!) deve ser severamente punido sob pena de um claro benefício do jogador infractor que, quase sempre, tem levado uma mera repreensão ou, no limite, uma generosa cartolina amarela.

Continua a sentir-se a falta do lesionado Gabriel, um jogador esclarecido e que tão bem faz a síntese entre defender e atacar. Isto apesar da generosidade de Samaris que, todavia, me parece longe da forma que atingiu na fase final da época transacta.

Uma última nota sobre este jogo e relacionada com o golo anulado ao Benfica (que seria o segundo). A anulação, depois de cinco (!) longos minutos de análise e hesitação, foi devida, segundo a sinalética do árbitro, a um fora de jogo no início da jogada. Não pretendo escrever sobre a decisão tomada, mas, mais uma vez, salientar o aspecto tendencialmente negativo de infracções que só uma tecnologia com a precisão de um relógio suíço é capaz de ultrapassar o que com a mente e sentidos humanos jamais seria possível. No caso deste (não) golo, a festa do futebol deu mais uma vez lugar à retroactividade do (não) festejo, ainda por cima, numa empolgante e melhor jogada da partida.

Quem me estiver agora a ler poderá pensar que assim penso porque foi um golo não validado ao meu clube (imagine-se, todavia, o que poderia ser se o resultado então quase no fim fosse ainda de 0-0…). Se uma acção destas beneficiasse o meu clube, não negarei que até me poderia agradar no redemoinho emocional em que vemos os jogos, mas, racionalmente, teria a mesma opinião que sempre tenho exprimido nesta coluna. Agora com esta nova e infalível tecnologia de linhas a três dimensões, vai haver lances de fora-de-jogo esmiuçados até ao centímetro. Terá sido o caso deste golo no Jamor. Só não percebo tanto tempo para decidir, pelo que poderei concluir que nem o VAR, nem o árbitro em campo (que foi ver ao monitor, onde esteve algum tempo) tinham a certeza inabalável de ter sido (ou não) offside. Se se entrega à geometria virtual pura a decisão milimétrica destes lances, não compreendo as dúvidas ou hesitações: ou está ou não está fora-de-jogo, ponto final. Pelo que, a contrario sensu, posso concluir que neste tipo de infracções ainda há espaço para a discricionariedade (ou subjectividade). Ou seja, afinal com tão sublime e infalível tecnologia, ainda não é sempre pão, pão, queijo, queijo… Depende dos gostos. Por outras palavras, se o árbitro tivesse decidido validar o golo, os argumentos visuais teriam sido absolutamente os mesmos. Há (havia?) uma regra de sensatez: a de, em caso de dúvida, nas situações potenciais de fora-de-jogo, beneficiar quem ataca. Ora, parece-me que tal prática desapareceu com o primado totalitarista desta tecnologia.

O VAR tão afoito neste lance estaria, porém, a dormir quando de um penálti claro sobre o inevitável Rafa. Eis outra sociedade a seguir com atenção: Veríssimo & Xistra ou Xistra & Veríssimo…

2 - Aproximam-se os sorteios por potes. Uma lotaria de potes, portanto. Forçando um neologismo de união entre estas duas palavras, uma verdadeira potaria. Para uns - os insaciáveis donos disto tudo - pote quer dizer compoteira, para outros - os apurados no pote 4 para compor o ramalhete -  não passará de uma peniqueira. Por força da eliminação surpreendente do FC Porto face a um quase ignoto clube russo de nome Futbolniy Klub Krasnodar da cidade com o mesmo nome (antes chamada Ekaterinodar), num jogo com direito a transmissão debutante pelo Porto Canal (mas não visto na Rússia), o Benfica foi promovido do pote 3 para o pote 2. Coisa de somenos, pois o que mais interessa é o sorteio dos potes e não tanto os potes do sorteio.

Com o Porto e Sporting assegurados na Liga Europa, bom será que Sp. de Braga e Vitória de Guimarães alcancem também a fase de grupos, o que levaria - ao que creio - à maior representação portuguesa nesta competição e poderia aumentar as possibilidades de melhoria do ranking, pois que vitória na Liga Europa vale, para este efeito, tanto como vitória na Champions (outra música é a do dinheiro encaixado…).

Entrementes, havia sido anunciada, com alguma circunstância, a disposição da direcção da Liga para evitar, tanto quanto possível, a anomalia de haver jogos à segunda-feira, que em nada beneficiam a competição nacional, afastam adeptos e promovem estádios às moscas. Se tivermos em atenção o que aconteceu nas duas primeiras jornadas, custa a compreender que não se tenha concretizado a boa intenção anunciada pela Liga, pois houve jogos neste dia da semana, sem que houvesse motivos imperiosos para tal. Se todas as quatro equipas portuguesas atingirem a fase de grupos, não sei como vai ser, pois os jogos da Liga Europa são sempre à quinta-feira. Será que, em determinadas jornadas, vamos ter a segunda-feira como o dia quase principal dessas rondas?

3 - Lá fora, a coisa promete. Ou será sol de pouca dura? Registe-se a circunstância de, nos campeonatos inglês, alemão, espanhol e francês, o campeão em título já ter perdido jogos ou pontos. Na Itália, ainda estão nos preparativos. O Barcelona estreou-se como o Porto: perdendo fora de casa não em Barcelos, mas em Bilbau. O Chelsea, agora treinado pelo ex-grande jogador F. Lampard, baqueou estrondosamente diante do Man. United. O Man City empatou em casa diante do sortudo Tottenham, tal qual como o heptacampeão Bayern de Munique que se viu em palpos de aranha para empatar no seu terreno diante do Hertha de Berlim. Em França, o actual e virtual campeão PSG já perdeu na primeira deslocação e esta liga tem tido um início desastroso para os treinadores portugueses (Leonardo Jardim, Paulo Sousa e André Villas Boas), que somaram 2 pontos em 18 possíveis.