Prioridades dos presidentes
Nesta semana ficámos a saber o que todos esperavam: os presidentes de Benfica e FC Porto preparam-se para continuar no poder até, pelo menos, 2024. Curioso: Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa têm como grandes bandeiras eleitorais algo que se cola ao respetivo rival - LFV sonha com uma conquista europeia (como conseguiu PC em 1987, 2003, 2004 e 2011), PC quer construir uma grande academia como aquela que existe hoje no Seixal.
Havendo dinheiro, é mais fácil a Pinto da Costa assentar betão do que a Vieira vencer a Champions. Porque para este empreendimento dependem muito mais variáveis e uma que tem feito toda a diferença ao longo dos últimos 16 anos: ao contrário do FC Porto de Pinto da Costa, o Benfica de Vieira não tem uma cultura europeia. Caso contrário Rui Vitória não teria continuado em 2018 depois da pior participação de sempre de um clube português na Liga dos Campeões, com derrotas nos seis jogos da fase de grupos e um score de 1-14 em golos. Tivesse RV saído sob o pretexto (público e assumido) de uma Champions de horror, talvez em 2019 Bruno Lage não arriscasse em colocar segundas linhas frente ao RB Leipzig.
A maior lacuna do vieirismo é a distância entre as promessas de sucesso europeu e a sua concretização. Os números (receitas de €300 milhões) e os discursos (de que o clube é pequeno para a realidade nacional) não batem certo com o desempenho na UEFA. LFV é um dos melhores presidentes de sempre do Benfica pela obra feita num contexto de crise, mas ainda não deu o salto qualitativo que a história do clube reclama. Ao contrário de Pinto da Costa, que primeiro ganhou e deixou as obras para o fim. Talvez seja este o motivo de, apesar de já não ter a energia e fogosidade de outros tempos, continue sem oposição, 37 anos e 14 mandatos depois (com todas as vantagens e desvantagens que o pensamento único acarreta).
Já a prioridade de Frederico Varandas é outra: sobrevivência. No espaço de um ano o jovem presidente do Sporting acumulou tantos erros estratégicos que já se fala em possíveis eleições. Silas não é apenas mais um treinador, é a última boia de salvação. Varandas está condenado a depender e confiar no bom discurso do treinador e na sua atitude «atrevida», porque à volta do líder leonino não parece haver gente que ajude a construir um bote, apenas quem lhe descreva a água.