Princípio e fim
1 Aprendemos com Maquiavel, nas suas Histórias Florentinas - e há tantos séculos… - que o « que tem começo tem fim»! E aqui estamos no princípio da nova época e aqui vibramos com o fim de competições que encerram a época que já passou. O calendário da Liga já o sabemos, já o vamos analisar, já fizemos as nossas contas, já projetámos as nossas viagens mas, aqui, com a consciência que a data definida não será a data concreta do jogo. Desde sexta à noite é a certeza da sucessão de adversários, da ponderação de determinados jogos com as datas dos jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões e, também, da Liga Europa e, até, uma larga vista de olhos pelos jogos dos diretos adversários. São, afinal, as contas antes das contas, o começo antes da bola saltar, o principio antes dos árbitros apitarem para o arranque da época. E, em simultâneo, teremos nas próximas semanas os derradeiros jogos da Taça Africana das Nações e, hoje mesmo, em França, a final do Campeonato do Mundo de futebol feminino e no Brasil a final da Copa América. É o começo e é o fim. Na certeza que o presente «não é um passado em potência, ele é o momento da escola e da ação». E em França é a disputa entre EUA e Holanda e no Brasil o confronto entre a canarinha e o surpreendente Peru. E, aqui, com o VAR, e as suas interferências, a serem objeto de muita polémica principalmente em razão do Argentina-Brasil. Mas o futebol sem um pouco de sal e pimenta não é loucamente apaixonante. E é esta paixão que nos leva a saber a sucessão de jogos da nossa equipa e dos nossos diretos adversários. É mesmo princípio e fim!
2 Vamos ao calendário da Liga. Com a certeza que o Benfica arranca a época oficial com o Sporting - na Supertaça - e termina, em tese - digo em tese já que acredito que nesta época de 19/20 o Benfica vai marcar presença na final da Taça de Portugal - a referida época recebendo na Luz a 17 de Maio de 2020 o mesmo Sporting. Que quinze dias antes visitara o Dragão o que evidencia que poderemos ter um Maio de 2020 bem quente em termos de classificação final da nossa Liga. Mas o que o Benfica sabe é que em Agosto próximo só sai de Lisboa para a Supertaça. Arranca a reconquista do título nacional com o Paços de Ferreira, visita, em principio, o Jamor para defrontar a SAD do Belenenses e quase no final do mês - nas antevésperas do sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões - recebe na sua catedral o Futebol Clube do Porto. E logo a seguir, e antes da primeira pausa para os compromissos da seleção nacional rumo ao singular Europeu de 2020, desloca-se a Braga para defrontar a equipa agora liderada por Ricardo Sá Pinto. Que, aliás, quinze dias antes, na segunda jornada, irá a Alvalade medir forças com o Sporting. O que fica do sorteio é que temos, logo no arranque da Liga, jogos entre os ditos grandes e no seu final confrontos entre os reconhecidos candidatos à vitória final e à conquista dos lugares de acesso às competições europeias de clubes. E com a certeza que para Bruno Lage o sorteio determina, na essência, o próximo adversário interno da sua solidária equipa. E, assim, a devida e cuidada preparação tendo em vista a conquista dos determinantes três pontos. Sendo que o princípio é o jogo e o fim é a conquista. E tendo cada jogador comprometido, como sujeito e não como objeto, com o desígnio que o coletivo, a estrutura, a massa adepta e os milhões de simpatizantes acreditam em cada arranque de época: que uma nova reconquista é possível. Tendo como lema, na linha de Charles Bos, que «a cada instante há que sacrificar o que somos ao que podemos vir a ser». E é este compósito entre o individual, que se pode assumir, e o coletivo , que se deve privilegiar, que marca - sendo uma marca! - a liderança de Bruno Lage. E da sua equipa técnica como bem vimos no momento do agradecimento da conquista do troféu de melhor treinador da Liga 2018/2019!
3 Permitam que, neste domingo em que se disputa a final do Mundial de futebol feminino, lhes dê nota de uma iniciativa que vai marcar, acredito, os próximos arranques de épocas das grandes marcas do futebol mundial. Diria que é um marcante princípio. E em que o nosso Sporting será testemunha efetiva no Yankee Stadium no próximo dia 24 de Julho. Falo do Liverpool, do campeão europeu. Na sua digressão aos EUA, que arranca a 16 de Julho, o Liverpool junta a equipa masculina com a equipa feminina. As jogadoras estarão nas mesmas cidades - como Boston ou Nova Iorque - disputarão jogos com equipas americanas e como disse Jurgen Klopp «agora viajamos como um grande família de futebol». Aprendemos como o nosso imortal Luís de Camões que o mundo é feito de mudanças. Mas este sinal que vem de Liverpool de juntar toda a família e ser, desta forma, uma inequívoca marca de igualdade é um princípio motivador. E acredito que outras grandes marcas do futebol europeu, que estão a entrar com todo o empenho no futebol feminino, não deixarão de acompanhar esta deslocação histórica do Liverpool! É um exemplo neste presente. Mas também é um sinal, e que sinal, para o futuro que já está a chegar. E que importa abraçar!
4 Arrancou ontem em Bruxelas mais uma edição da Volta à França em bicicleta, uma das grandes provas do desporto mundial. Organizada pela primeira vez em 1903 torna-se, logo no arranque, um sucesso popular e leva milhares de pessoas para as bermas das estradas e para os atrativos picos da lindas montanhas do mosaico - e do hexágono - francês. E muito mais tarde alarga-se a outros países. Mas continua a ser uma prova emblemática, sob a liderança do principal jornal desportivo francês, e recordando, como aconteceu ontem, figuras da sua história. Ontem foi o belga Eddy Merckx, um grande senhor do ciclismo. Por mim, e regressando à minha adolescência, não esqueço os ciclistas de plástico, os dados para os pontos, a areia lisa na Figueira da Foz ou as tardes em frente à televisão par acompanhar, e vibrar, com a participação de Joaquim Agostinho no Tour. Eram tardes enternecedoras e que, depois, na Volta a Portugal, nos levavam à Torre para vibrar com uma subida única, paisagens singulares, queijo do outro mundo, pão, presunto e chouriço de chorar por mais e um sentido de comunidade - a tribo do ciclismo ! - que nos faz, agora , já na terceira idade a ter, ano após ano, vontade de regressar à estrada , de Viseu à Torre, de Montalegre à Senhora da Graça, e de vibrar com os heróis da estrada. E reler um livro de referência, de Serge Laget, ‘A saga da Volta à França’! Um livro que já tem quase trinta anos mas que nos ajudou, e ajuda, a conhecer cada mês de Julho em França. Agostinho e Acácio Silva, Coppi e Anquetil, Hinault e Rui Costa, Nélson Oliveira e José Gonçalves, são nomes que estão presentes. Pela história e pelo presente. Os três últimos, aliás, são os portugueses participantes nesta 106ª. edição do Tour de France!