Prazer e dor

OPINIÃO20.09.202003:30

1 - A nossa vida, pessoal e profissional, é construída por momentos de prazer e instantes de dor. Diria que, nestes inéditos tempos de pandemia, há momentos de dor e instantes de prazer. Já que não sabemos quando chega - e se chega… - a vacina , se ela é eficaz e se, entretanto, esta clara segunda vaga que acelera os números dos detetados - força meu, nosso, Bom Amigo Bruno! - e, logo, das largas centenas atingidos por este vírus que, em surdina, se propaga, por vezes sem darmos conta. Como também no desporto, e nas suas diferentes modalidades e clubes, estamos a constatar. Não só no Académico de Viseu  ou no basquetebol do Benfica, no Gil Vicente ou no Sporting e, aqui, e por decisão da DGS, levou ao adiamento do jogo que ontem oporia as duas SAD´s em Alvalade. Já percebemos que vamos viver uma época atípica. Diria bem atípica. Há jogos que serão adiados e há regras de quarentena que terão de ser cumpridas. Mas se na comunidade nacional a regra será a de, no limite das concretas possibilidades, não suscitar um novo confinamento, é importante que nas diferentes e diversas competições desportivas a regra seja a de não suspender o calendário previsto e tudo fazer, em serena e séria articulação entre as entidades de saúde e as estruturas desportivas, para que os jogos e as provas se realizem nas datas previstas. E lendo nós que a FIFA, através da voz do seu Presidente, já duvida que haja Mundial de Clubes em 2020 e assume, até,  que «não exclui o modelo NBA» no futebol mundial. E a sua dor, dá como exemplo, é a Liga italiana, a repetida e categórica vitória da Juventus e interrogando-se: «Que tipo de competição existe quando 90% das equipas querem, apenas, terminar em segundo lugar?» Outras formas de jogar as competições parecem começar a estar… na mesa das reuniões e das discussões da FIFA!

2 - O Benfica na terça-feira, em Salónica, saiu com uma dor profunda. Dor que destruiu o sonho do acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões e perdendo o jogo frente a um PAOK sabiamente orientado por Abel Ferreira. Foi  um imenso rombo financeiro! Que dor, aqui! A diferença entre a Liga dos milhões e a Liga Europa é uma diferença diria que colossal. E à dor desportiva somam-se, também, dores económica e financeira. Quatro dias depois, na passada sexta-feira, em Famalicão, no arranque da Liga NOS - no seu último ano  de patrocínio! -, tivemos o prazer de ver um Benfica dominador e com um apetite goleador que quase nos fez esquecer o desaire grego. O Benfica de Famalicão teve momentos de elevada nota artística - que saudades tínhamos… - e largos instantes de inspiração das novas contratações, como Everton, Luca Waldschmidt, Darwin ou Vertonghen. A exibição em Famalicão mostrou-nos que este renovado Benfica de Jorge Jesus nos pode proporcionar largos e duradouros momentos de prazer. E que os instantes de dor, que os vai haver, serão diminutos. A grande dor foi ficar fora da edição desta época da Liga dos Campeões. O principal prazer será liderar, assumo-o,  a Liga NOS da primeira à última jornada. Sabendo distinguir, nos relvados e fora deles, o principal do acessório, o que é determinante do que é não relevante, a busca comum da vitória e não o egoísmo de uma inesperada derrota. O Benfica constrói-se nos relvados e nos pavilhões, no prazer das conquistas e na dor, fraterna, dos insucessos. Sei bem o que  são esses sentimentos. E esses sentimentos  são  uma das minhas essências, mesmo quando a verdadeira lista que integrei não foi admitida a umas eleições  na Liga de clubes. Aí a dor foi imensa e intensa. Bem solitária como o Luís, o Paulo, a Ana, o Júlio, o João, o Ricardo ou o Francisco  bem se recordam! Sabendo bem o prazer de outros… que andam por aí!

3 - Arrancou este fim de semana o Campeonato de Portugal, diria que a maior prova, com exceção da Taça de Portugal, do todo do futebol português. Será a última edição nestes moldes, já que na próxima época desportiva nasce a Liga 3. Este campeonato , nesta época de mudanças estruturais dos quadros competitivos portugueses, mostra-nos, nas suas oito séries, a nossa realidade como comunidade nacional. E não são necessários nem estudos nem seminários! Este Campeonato é uma competição litoral. A grande maioria dos clubes participantes são originários do Porto, Lisboa, Braga e Aveiro. O interior de Portugal leva-nos a que Portalegre, apesar do dinamismo da renovada liderança da sua Associação, não tenha nenhum clube e que os distritos das associações da Guarda, Viseu, Vila Real, Bragança, Castelo Branco, Santarém,  Beja ou Évora - aqui com Juventude e Lusitano de Évora! - não atinjam, em regra, a meia dúzia de clubes participantes. Em 96 clubes inscritos Porto (15) e Lisboa (13) quase têm trinta por cento, o que mostra a macrocefalia do litoral e confirma que, também no desporto - que não apenas no futebol - o interior merece ajuda, impõe apoio e deve suscitar um programa de especifico desenvolvimento desportivo. E neste campeonato veremos as equipas B do Sporting, Marítimo, Rio Ave , Sporting de Braga e da B- SAD. E inscritas - e repito inscritas… - estão ainda as SAD´s do Aves e do Vitória de Setúbal. No final apenas dois clubes subirão à segunda liga. E com nota de investimentos sérios em alguns deles e a novidade de o Estrela da Amadora, depois da fusão com o Sintra Football, regressar, cheio de esperança, a uma  competição  nacional sénior de futebol. Acredito que poderá ser nesta competição que, com todo o cuidado, algum público, pouco, poderá regressar às bancadas - e ao peão - de muitos complexos desportivos!

4 - Muito público e enorme emoção houve, ontem, na etapa decisiva da Volta à França. Numa luta entre dois eslovenos ganhou Tadej Pogacar, que estava a quase um minuto do até então líder incontestado, Primoz Roglic! Que etapa, que proeza! E a RTP 2, nas vozes emblemáticas do João Pedro Mendonça e do Marco Chagas - parabéns a ambos ! -, proporcionou-nos largos momentos de prazer. Com consciência da sentida dor de Roglic no momento final do contrarrelógio de ontem. E de hoje a uma semana arranca a nossa Volta a Portugal.

5 - O Covid, e a sua dor, pode decidir quem não terá o prazer de competir na Europa. Como não há tempo para reagendar jogos ou se joga com prazer ou não se joga com a dor do vírus e da consequente derrota. Sempre, sempre mesmo, a dor e o prazer. Tal como o prazer que nos proporcionaram os golos de Gonçalo Ramos no seis a zero do Benfica B  frente ao Casa Pia!