Portugal, equipa grande e grande equipa
Há exemplos frequentes, especialmente ao nível das seleções, «de que contar com bons jogadores não é sinónimo de ter uma boa equipa. A Bélgica foi, durante muitos anos, protótipo desse mal (e entretanto regenerou-se...), a Inglaterra andou épocas a fio à procura de uma ideia de jogo que potenciasse os seus melhores valores e, last but not least, a Argentina da era Leo Messi só em raríssimas situações pôde ser considerada uma equipa.
Portugal, em muitos momentos da sua história futebolística, não foi capaz de dar expressão prática ao valor de jogadores de nível internacional - Humberto Coelho, João Alves, Artur Correia ou António Oliveira, por exemplo, nunca disputaram uma fase final - e em múltiplas circunstâncias, já depois de 1996 (ano que marca a chegada regular de Portugal aos grandes eventos, faltando apenas ao Mundial-1998), a ideia de equipa grande andou arredada das exibições.
Aliás, na noite de festa de 10 de julho de 2016, os jogadores lusos cantavam, em pleno Stade de France, «pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal, vamos é levar a taça, para o nosso Portugal...»
No último sábado, no difícil ambiente do Maracanã de Belgrado, a equipa das quinas jogou com a atitude personalizada de uma equipa grande e, a páginas tantas, mostrou atributos de uma grande equipa, capaz de produzir um futebol de fino quilate. Duas desatenções permitiram, é verdade, à Sérvia, encurtar distâncias e nivelar um pouco mais o placard. Mas foi gratificante ver Portugal a sair a jogar de trás, sem que a bola queimasse o pé de nenhum jogador, de Cancelo para Bernardo, deste para Bruno e a seguir para William e Cristiano, como uma máquina afinada, conduzida por artistas que sabem o que podem e o que valem.
A Seleção Nacional está a viver uma crise de abundância, que dá a Fernando Santos - que é um pragmático, acima de tudo - a possibilidade de construir uma equipa diferenciada, capaz de marcar os tempos do jogo, sem ir a reboque de ninguém. Nesse aspeto, Belgrado fica como um marco relevante, como palco de uma das exibições mais personalizadas de Portugal, fora de portas. Campeã da Europa e da Liga das Nações, a Seleção Nacional tem meios mais do que suficientes para defender os títulos. E para preparar o pós-CR7, que irá tardar, mas chegará...