Porque te amamos tanto, Porto!

OPINIÃO15.05.201801:32

1 - Ao ver as imagens da Avenida dos Aliados repleta de povo portista e portuense - repito, portista e portuense - celebrando num genuíno ambiente popular, que jamais partido politico algum conseguirá igualar, a felicidade de um campeonato ganho pelo seu FC Porto, o clube da cidade, tive quase pena de Rui Rio. Se até jogadores estrangeiros, como Casillas, Herrera, Alex Telles, compreenderam na pele e na alma a força quase mística daquele momento, se também eles se sentiram portistas e portuenses, se também eles entenderam o quanto as vitórias do clube se fundem no orgulho e no amor à cidade, como é que alguém que foi seu presidente da Câmara anos a fio se permitiu fomentar o divórcio entre uma e outra entidade, tirando o povo dos Aliados, a alegria da rua, o clube da varanda dos Paços do Concelho? Quando proclamava que, sob o seu mando, jamais a CMP voltaria a prestar vassalagem ao FC Porto, Rio confundia o seu orgulho ilegítimo com o legítimo orgulho que a cidade deveria ter e tinha no clube que a projectou até aos confins do mundo. O FC Porto, que Rio afastou dos Paços do Concelho do Porto, conseguiu consagrar-se, em Viena, em Geselkirchen e em Tóquio, apenas o melhor de todos os clubes de futebol europeus e mundiais. Do Porto até Vanuatu, não há hoje quem desconheça o nome do FC Porto - e, por acréscimo, da cidade que lhe dá nome. Mas Rui Rio, quem o conhece para lá de Vigo?


Ainda por cima, o pretexto que Rui Rio foi buscar para comprar uma guerra com o FC Porto (com o pormenor feio de só ter feito após ganhar a eleição...) foi a construção do Estádio do Dragão e o prejuízo eventualmente causado por um centro comercial edificado no espaço adjacente, e na periferia da cidade, aos comerciantes do centro. O desfecho foi o FC Porto ter de pagar mais um milhão de contos, dinheiro da altura, a título de indemnização por perdas e danos  a uma Associação dos ditos comerciantes, quase inventada para o efeito. E a imprensa lisboeta, que, entusiasmada, apoiou a guerra de Rio contra o FC Porto, esforçando-se por ver ali uma saudável manifestação de independência do poder politico face ao poder futebolístico, ficou toda caladinha enquanto o presidente da Câmara de Lisboa, Santana Lopes, apoiava de todas as formas e feitios, incluindo com dinheiro vivo, a construção dos novos Estádios da Luz e de Alvalade... A mesma imprensa que também nunca se incomodou, e aí com razão, que os presidentes da Câmara de Lisboa recebessem nos Paços do Concelho, Benfica e Sporting, quando vencedores.


Ora, acontece que até nisso Rui Rio foi demagogo: o Estádio do Dragão é dos mais bonitos, ou talvez mesmo o mais bonito, estádio de futebol do mundo. Uma obra que, por si só, orgulha a arquitectura portuguesa e a cidade do Porto e ao pé do qual Rio não deixou obra que se compare - pelo menos, não certamente, aquela caixa de sapatos amolgada, feia por fora e por dentro, que é a Casa da Música. Em vez de se orgulhar com o maravilhoso estádio que recebe em beleza quem entra no Porto pela ponte do Freixo, o então presidente da Câmara resolveu fazer-lhe uma guerra total e, não fosse a paciência e obstinação do clube, e nem teria havido estádio pronto a tempo da inauguração do Euro-2004.
Espero bem que Rui Rio tenha visto as imagens da festa de sábado, nos Aliados. E que, ao vê-las, ele e o seu mentor intelectual de então, José Pacheco Pereira, tenham percebido que o que ele fez não foi roubar a festa dos Aliados ao clube durante anos: foi roubá-la ao povo da cidade. Obrigando o clube a ir festejar os seus triunfos para o Dragão, reduziu os festejos aos portistas; agora, que Rui Moreira devolveu a festa ao lugar que lhe pertence, festejaram os portistas e os portuenses. Mas talvez fosse isso mesmo que Rio queria evitar: uma cidade unida no tributo ao clube que carrega o seu nome e o leva ao mundo inteiro.

2 - O parto do recorde de pontos foi suave e em ritmo de passeio, frente a um Vitória de Guimarães que foi das grandes desilusões deste campeonato. Fechado com um golo solitário de Ivan Marcano - uma despedida em beleza (sétimo golo da época), daquele que, para mim, foi este ano e nos dois anteriores, o melhor jogador do FC Porto. É com infinita pena que o vejo partir, mas isso - as análises individuais, as saídas e as permanências, ficará para escritos futuros, agora que entra a estação da seca.

3 - Apenas abro uma excepção para uma aposta pessoal: aposto que Sérgio Conceição vai ficar. Pelo menos, para cumprir o ano de contrato que ainda tem.

4 - Francamente, acho que aquilo que menos interessa a qualquer portista é que Rui Vitória ou alguém do Benfica nos dê os parabéns ou reconheça o mérito da nossa conquista do campeonato. Nem tal esperamos nem isso nos faz diminuir ou acrescentar no que quer que seja a absoluta convicção de que esse mérito é indiscutível e só por má-fé pode ser contestado. 88 pontos, maior número de vitórias e menor de derrotas, maior número de golos mercados e menor de golos sofridos, 7 pontos de avanço sobre o segundo e 10 sobre o terceiro, duas vitórias, dois empates e zero derrotas nos confrontos directos com os rivais, dizem tudo. E falando apenas do que se jogou dentro das quatro linhas... Rui Vitória pode dizer o que quiser, que nos é indiferente. Só não percebo a justificação: tratámo-lo mal. Quando, como?

5 - Atrás de nós, os seguidores andaram periclitantes. O Braga perdeu definitivamente a hipótese de chegar ao pódio. O Sporting voltou a perder a hipótese do precioso segundo lugar e o Benfica foi igual ao do resto da época: exibição confrangedora, expulsão perdoada a um dos centrais com o resultado empatado e finalmente vitória tangencial graças a um daqueles penalties de bola na mão ou mão na bola, convertido pelo inevitável Jonas - o rei dos marcadores, com muitos penalties a ajudar. É claro que o grande perdedor, e desta vez, sem desculpas, foi o Sporting. Já no domingo passado, no confronto directo com o Benfica, o empate foi lisonjeiro; agora, a derrota foi o resultado adequado para a prestação de uma equipa onde todos estiveram anormalmente desinspirados - a começar por aquele que se proclama líder e que preferiu ficar em Lisboa a acompanhar a vitória garantida do futsal, do que arriscar acompanhar a equipa de futebol no momento decisivo e no mais perigoso da época. Agora, aquele que os seus defensores proclamaram um génio financeiro, apenas baseados em perdões de dívidas bancárias conseguidos por portas travessas e em condições que mereceriam ser apuradas (até porque, no passado, podem ter envolvido créditos que vieram a recair sobre o bolso dos contribuintes), terá ocasião de mostrar o que vale. Sem os 21 milhões da Liga dos Campeões; falhado o pagamento do empréstimo obrigacionista a três anos, vendo-se obrigado a protelá-lo por seis meses; forçado a contrair novo empréstimo para despesas correntes de tesouraria (salários, fornecedores, etc), a juros estratoesféricos e num montante entre 15 a 60 milhões, conforme for sendo necessário; seguramente com pagamentos pendentes das dezenas de milhões investidos em jogadores no início da época (muito mais do que todos os outros 17 clubes da primeira Liga juntos), o Sporting vai viver tempos de verdadeiro aperto. E como o ambiente criado entre Bruno de Carvalho e os principais activos do plantel que queria transaccionar está de cortar à faca, não vai ser nada fácil conseguir os milhões que constantemente se apregoam irem ser obtidos com a venda deste ou daquele. Ou muito me engano, ou vai ser um dos temas escaldantes deste defeso.

6 - Ficou o Vitória de Setúbal, um histórico: ainda bem. Mas já é altura de deixar de viver em sucessivos conflitos e sobressaltos. Desceu o Paços de Ferreira, uma das duas únicas equipas que derrotou o FC Porto no campeonato, através de um festival de anti-jogo que ficou na memória de quem gosta de futebol: de nada lhe serviu, afinal.

7 - A agressão ao adepto portista em Guimarães, pontapeado já no chão por meia dúzia de cobardes e selvagens, não pode ficar impune. O futebol não é para animais, é para pessoas.