Por uma revolução global no futebol português

OPINIÃO12.09.201904:00

Não sou adepto de revoluções violentas, nem sequer de alterações repentinas. Mas destas últimas reconheço a necessidade em tempos de impasse, estagnação e de um estabelecimento do status quo impossível de quebrar de outra maneira. É por isso que defendo uma forma totalmente diferente de encarar o nosso campeonato nacional de futebol, ou a nossa Liga. As mudanças devem ser drásticas em ordem a aumentar a competitividade e o fair-play financeiro e também a dotar Portugal de boas armas e melhores práticas para se preparar para as competições internacionais (sobretudo em clubes, mas também com reflexos óbvios nas seleções).

Já aqui deixei algumas ideias a que regresso. A primeira das quais é a diminuição drástica do número de clubes na Liga, sem diminuição do número de jogos. Esta conjugação aumenta a competitividade e as receitas.  Vejamos de que formas tal é possível:

Neste momento, a Liga tem 18 equipas e 34 jornadas. Assim, cada formação disputa 34 jogos, metade dos quais em sua casa. Uma hipótese seria passar uma Liga Premium para 10 equipas (e uma Liga para outras 10, com a Liga 2 também com 20 equipas, separadas por zonas e a jogar nos mesmos moldes).

Com 10 equipas cada clube teria 18 jogos contra os outros, metade dos quais (nove) em casa. Aqui abrem-se dois modelos, que, aliás, existem noutras paragens. Ou a Liga passa a ter quatro voltas e as equipas fariam 36 partidas, 18 das quais em casa (mais dois jogos do que atualmente, mais um em casa); ou a Liga tem, após as 18 jornadas em que todos jogam contra todos, uma final four na qual cada equipa se encontraria quatro vezes com as outras. As duas primeiras em estádios neutros e as duas últimas nas casas de cada clube. O total seria de 30 jogos (menos quatro do que os atuais). Qual a importância? Bem, haveria seis partidas entre o Benfica e o Porto ou entre o Sporting e o Benfica ou qualquer outros clubes que estivessem na final four (dois na fase regular e mais quatro na final four, para a qual transitariam com os pontos obtidos na fase regular. Além disso, seria possível ver um Sporting-Benfica no Algarve e outro no Minho, por exemplo, um Porto-Sporting em Guimarães e outro em Leiria. Os grandes jogos das maiores equipas percorreriam o país numa fase já bastante decisiva. Por último há a hipótese de a final four ser uma final six, com seis clubes e 15 jogos (um em campo neutro e mais dois em casa de cada equipa envolvida). Nesse caso a Liga ficaria completa com 32 jogos (menos dois do que atualmente).

‘Fair play’

Qualquer dos modelos permite mais competição, mais assistências e mais receitas televisivas. Num haveria quatro jogos considerados difíceis e imprevisíveis, noutro seis e no último cinco. Se as restantes equipas da Liga Premium tivessem sistema semelhante, as lutas por não descer de divisão (bem como com modelo igual, as lutas na Liga 2 para subir) seriam bem mais renhidas. Além da luta pela chegada às fases finais fossem de quatro ou seis equipas.

Equipas e estádios com menos atração do que o Dragão, a Luz e Alvalade (ou mesmo os de Braga e Guimarães) teriam jogos importantes e - cereja no topo do bolo - os direitos televisivos seriam distribuídos de forma equitativa (como já acontece noutras paragens).

Além desta revolução, a Liga e a FPF deveriam acordar que, embora os clubes possam ser SAD e que estas podem ou não ser propriedade dos clubes que lhe estão na origem, a marca imaterial pertence sempre ao clube. Isso acabaria com cenas como a do Belenenses SAD vs. Clube de Futebol Os Belenenses. Seria o clube a estar na I Divisão e a SAD a ter de baixar vários escalões. Por que razão isto é importante? Porque pode dotar os clubes de capital, o modelo competitivo tornar mais atrativo os investimentos e, ao mesmo tempo, desaconselhar ou mesmo impedir que os investidores se apropriem de uma marca que demorou décadas ou mais de um século a construir e que - essa sim, sem dúvida - pertence aos sócios que persistiram no seu apoio (e persistem, como se vê com o verdadeiro Belenenses).

Sporting e profissionalismo

Ficando aqui plasmado o que penso do assunto, aposto que o Sporting será o primeiro clube a ter de ceder na questão da propriedade da SAD. Digo-o com pena, mas acho uma inevitabilidade. Se me perguntarem se prefiro o Sporting 18 anos sem ganhar um campeonato ou o Sporting a ganhar com um bom investidor, confesso que prefiro esta última.

O futebol quando transformou os seus atletas em profissionais dos mais bem remunerados do mundo (quando em equipas boas), tornou-se ele próprio uma atividade profissional com fins lucrativos. Esses fins lucrativos devem ser transparentes e não objeto de suspeitas sobre a origem e destino do dinheiro. Por isso a minha proposta para o aumento de competitividade da Liga (haverá outras melhores) para maior fair-play na distribuição de verbas. Isto é extensivo à UEFA e à FIFA, mas só o podemos reivindicar a sério se começarmos a fazê-lo entre nós.

Por tudo isto, a recente polémica sobre o salário de Varandas e dos outros administradores parece-me pouco importante. Se me perguntarem se num clube com aquele passivo e aqueles capitais negativos defenderia um salário daquele montante, mesmo sabendo que é inferior ao que foi praticado no Sporting e é praticado noutros clubes, direi que não. Seria mais modesto. Mas não é esse o problema. O problema é que clube queremos e como vamos sair deste fosso que cada vez mais parecemos cavar para os nossos rivais. E aí volto à frase que já escrevi: o Sporting será o primeiro clube dos grandes a ter de ceder na propriedade da SAD.

Aliás, a direção do Sporting está, injustamente, neste momento totalmente dependente de resultados. Os próximos - com o Boavista no Bessa, com o PSV, na Holanda e com o Famalicão, dia 22 - parecem-me, neste momento, todos difíceis. Veremos o que vale o novo treinador, os novos jogadores. Mas façamos por vencer e apoiemos a equipa.
Deixemo-nos de divisões e se temos algo a dizer, transformemo-lo em propostas positivas.