Populismos 

OPINIÃO12.09.201904:00

DEVE o presidente de uma SAD ser bem pago ou não? A discussão foi lançada esta semana sobre a proposta de aumento de salário do presidente do Sporting, Frederico Varandas, para 182 mil euros brutos fixos. Ou seja, qualquer coisa como 15.100 euros/mês brutos, cerca de 7.800 euros líquidos. É um valor justo ou injusto? Temo que o populismo tenha entrado de vez nos fóruns de discussão. Porque o futebol é emoção mas a gestão é profissional e como tal deve ser vista de um ponto de vista estritamente empresarial. E assim sendo, não, não é muito, caso contrário estarão os acionistas a promover a mediocridade. Não diria para comparar com o que acontece com as empresas do PSI-20 na Bolsa (onde a disparidade entre os salários mais altos e os mais baixos é das mais altas da Europa) mas não deixa de ser curioso que um administrador no futebol pode ganhar 20 ou 30 vezes menos que um subordinado (ou seja, um jogador, ainda que seja por por eles que as pessoas pagam bilhete ou compram o pacote de TV). Numa empresa ideal que fatura mais de €100 milhões quem dirige merece ser bem pago mas altamente escrutinado - e se não for apto para o cargo, que seja imediatamente substituído. Mas o maior problema de Varandas (ou de qualquer outro no lugar dele) traduz-se neste exemplo: o Benfica pagou €6 milhões por 85 por cento do passe de um jogador para a equipa B (Morato), apenas €1,5 milhões a menos que o reforço mais sonante dos leões para a equipa principal (Vietto).  

Oacórdão do Tribunal da Relação voltou a ilibar a SAD do Benfica no caso e-toupeira. É a situação clássica entre a verdade popular e a verdade jurídica: uma coisa é achar, a outra é provar. E a partir daí o conceito do que é justo varia consoante a cor. O futebol é um campo de desequilíbrios.