Pinto da Costa a jogar por fora
A altura de João Neves tanto pode ser de 165 centímetros, a de Maradona, de 170, a de Messi, de 171, a de Kanté, ou de 172, a de Modric. É só escolher…
NUM tempo em que muitos e bons treinadores procuram jogadores grandes para formarem as suas equipas, a dúvida sobre a altura de João Neves tem tudo para poder ser tema de mais uma daquelas discussões inúteis e ruidosas em que o futebol português é fértil. Entre míseros 163 centímetros e pujantes 174, referidos em sites da especialidade, admite-se que a medida rigorosa resida entre estas duas fronteiras.
Não é um gigante, basta olhar para ele, mas também não é um inapto para a prática de alto nível, e a conversa só fará algum sentido por força da teoria pinheirista que um dia, Paulo Sérgio, então no Sporting, engraçadamente eternizou quando ansiava por um avançado cabeceador e goleador. Ele estava certo, em função de determinado contexto que pedia um jogador com essas características, mas os contextos alteram-se e as ideias também, à velocidade do vento e dos resultados.
O próprio Guardiola, expoente máximo da criação tática, meteu a viola no saco quando se deu conta que o futebol virtuoso e dispendioso do Manchester City não metia medo ao brutamontes Real Madrid. Há um ano, caiu com estrondo no Santiago Bernabéu, ao sofrer três golos nos cinco minutos finais e perceber que a sua invenção de pé para pé, a arte pura que recusava essa mania plebeia de um homem de área, afinal era curta para vencer a Liga dos Campeões. Viu-se humilhado nos primeiros dias de maio de 2022 e uma semana depois anunciou a contratação de Haaland ao Dortmund, sem olhar ao preço. Extravagâncias de treinadores mimados, que recebem aquilo que pedem.
Voltando a João Neves, aplaudo a ousadia de Roger Schmidt em estar-se nas tintas para o tamanho e para a idade do jovem, preferindo colocar ao serviço da equipa o seu bom sentido de passe em qualidade e em confiança, como escreveu em A BOLA o jornalista António Simões, na sua crónica do jogo. Quanto à sua altura é uma irrelevância, porque entre os valores mínimo e o máximo revelados facilmente se chega a uma conclusão intermédia que tanto pode ser de 165 centímetros, a altura de Maradona, de 170, a de Messi, de 171, a de Kanté, ou de 172, a de Modric (fontes Transfermarkt). Portanto, como os homens não se medem aos palmos, João Neves pode ter a perna curta mas tem passe longo e preciso. Com ele, a bola gira depressa e certeira, com toques subtis e desequilibradores, tal como magistralmente fazia Enzo Fernández, um sobredotado que esteve no Benfica, já não está e parece que ainda ninguém reparou nisso.
OBenfica defrontou o Estoril em cenário impressionante construído por mais de 58 mil adeptos, conscientes da importância de uma presença massiva, principalmente a seguir a vários desempenhos que puseram em causa o excelente trabalho até aqui realizado. Ganhar era o mais importante e isso foi conseguido com relativa segurança, embora não fosse possível disfarçar a intranquilidade que ainda perturba o trabalho coletivo. Percebe-se, é normal, mas já se percebe menos e começa ser pouco normal a obstinação de Schmidt no desenho tático bem feito mas que, por força das circunstâncias, talvez não fosse mal pensado introduzir-lhe ligeiros retoques de modo a complicar a vida aos opositores e obrigá-los a trabalhos de casa suplementares.
Alguns jogadores estão em sub-rendimento, mas Schmidt não abdica deles, por ausência de soluções no plantel ou por não ter vontade em perder tempo com experimentações em que não acredita. Vinca a sua autoridade, sim, mas não convence que Rafa jogue sempre atrás do ponta de lança, mesmo que o faça mal, como há semanas se observa, nem que Neres seja utilizado no corredor esquerdo quando rende mais na direita, ou até na nas costas do ponta de lança, digo eu.
Schmidt é um bom treinador, sim, mas enfrenta uma nova realidade na sua carreira, que o deslumbra, como confessou. Também ele está a fazer a sua aprendizagem quando diz que a pressão existe e é para todos. Sendo o momento decisivo da época, «não nos podemos enervar, temos de ficar calmos, concentrados e disciplinados nos momentos difíceis», disse . Palavras bonitas e certas na perspetiva de uma alemão, mas por cá é diferente. Nervos não vão faltar e calma não vai existir, muito menos concentração e disciplina. Sendo o momento decisivo da época, como salientou, quer dizer que chegou a hora da insinuação, do insulto e da intriga. É a má vizinhança da nossa paróquia em todo o seu esplendor. Esta parte ainda ninguém lhe explicou...
POR falar em má vizinhança, Pinto da Costa , o «eterno irónico» como ontem o definiu Gaspar Ramos em declarações à Renascença, foi célere em dar umas ferroadas em Rui Costa. Em respeito pela tradição, com ele a lengalenga é sempre a mesma, lamentou os erros de arbitragem que terão beneficiado o rival direto, no caso o Benfica, mas manteve escondidos debaixo do tapete, como mandam as regras, os que terão favorecido o emblema do dragão. Com a sua fina apetência para a graçola atirou ao ar rebuçados para quem os quiser apanhar.
O presidente portista foi deselegante na forma como se referiu ao presidente do Benfica e Rui Costa, sendo o presidente do maior clube português, deve perceber que a distância é o melhor remédio, sem deixar de estar atento ao que se passa dentro de casa, em especial à sua política de comunicação que tem sido uma lástima. No resto, como afirmou Gaspar Ramos, «não se deve dar importância ao que ele diz»…