Pinho ou espinho…

OPINIÃO01.06.202107:00

Coincidência ou não, desde que foi noticiado o acordo com o Benfica, o avançado, praticamente, saiu de cena, numa altura em que o Marítimo muito precisava dele

PEÇO desculpa, mas continuo sem perceber o que levou o Benfica  a investir em Rodrigo Pinho e mais intrigado fiquei depois de ler a  entrevista a Carlos Pereira,   presidente do Marítimo, publicada em A BOLA, há meia dúzia de dias.
Questionado acerca das perspetivas de sucesso do avançado brasileiro, a resposta não podia ser mais  enigmática: «Se depender dos pés não tenho dúvidas. Sobre o resto é que tenho algumas dúvidas. O grande desafio é saber se tem ou não estofo para jogar no Benfica.»
Fazendo fé em várias notícias,  Jorge Jesus pressionou  para contar  com o jogador no princípio deste ano, mas Luís Filipe Vieira, segundo os mesmos canais, não terá entendido bem, na medida em que poderia fazer o negócio, como fez, sem despesas adicionais, esperando que o jogador ficasse livre.
Nem o presidente encarnado terá feito muita força nesse sentido, nem o líder maritimista estaria interessado em dispensá-lo, por considerar que, face à classificação preocupante da sua equipa, seria precipitado abdicar de Rodrigo Pinho a meio da época.
Hoje, porém, Carlos Pereira considera que foi um erro não o ter deixado sair em janeiro, «não para o Benfica, mas para o estrangeiro», acabando «por perder o jogador e o dinheiro».
Rodrigo Pinho tem 30 anos, mas olha-se para o currículo e nada se enxerga de extraordinário. Assinou, ao que consta,  por cinco anos e vai  ser operado ao joelho esquerdo, ou já foi, até, para limpar a zona afetada.  
Pronto, pelo menos existe um esclarecimento. Coincidência  ou não, a verdade é que, desde que foi noticiado o acordo com o Benfica, o avançado brasileiro, praticamente, saiu de cena, numa altura em que o Marítimo muito precisava dele. Queixava-se de uma dor, talvez   impeditiva de competir, ou  não, e se, calhar, encostado a essa  tal dor, começou a pensar mais no magnânimo contrato que lhe caiu do céu, uma  bela reforma.
Temos de esperar para ver se vai ser o Pinho desejado por Jesus ou se apenas um espinho a juntar à coleção da águia…  Só então se conhecerá  o real significado do «resto» a que o presidente maritimista aludiu.

PEDRO GONÇALVES — O melhor marcador do Campeonato e vencedor do prémio A BOLA de Prata, deu uma interessante entrevista ao jornal A BOLA, publicada na edição de sábado, tradutora de um jovem bom, fiel às suas raízes humildes, mas condenado, arrisco eu, a depressa se tornar um jogador de excelência, de notabilidade sem fronteiras. A sua arte natural, quase mágica, com que coloca a bola dentro das  balizas adversárias  permite arriscar essa conclusão. É uma questão de tempo.
Pedro Gonçalves é o seu nome  de registo e é como ele gosta de  ser tratado, pretensão que A BOLA sempre respeitou. Aceita a  alcunha, mas reserva-a «para os amigos», embora  nem estes  a utilizem fora desse círculo restrito, como  ouvi  a um responsável dos Bombeiros de Vidago que a ele se referiu, com respeito e carinho, como Pedro. Também já conhecemos a história  do pote e do potinho, coisas de miúdos.  
No início da época, abordei este assunto. Pessoalmente, defendo que os jogadores devem ser tratados pelo seu nome verdadeiro ou pelo nome como eles quiserem ser conhecidos, mas há quem pense de maneira diferente. No caso em concreto, ficou claro, dito pelo próprio, que o cidadão Pedro António Moreira Gonçalves, na qualidade de futebolista profissional do Sporting, prefere ser tratado por Pedro Gonçalves. Simplesmente.

R IO AVE — Quem conseguiu passar duas pré-eliminatórias na Liga Europa e  quase eliminou o Milan estaria bem preparado para tornear com destreza  as  ciladas  que a temporada desportiva lhe colocasse no caminho: puro engano.  
Anteontem,  o Rio Ave caiu com estrondo na Liga 2 e provocou dor intensa nos adeptos vila-condenses, depois de uma presença permanente  na competição principal desde a época 2008/2009 e de se ter fixado entre os sétimo e quinto lugares da classificação na última meia dúzia de anos.
O Rio Ave era sinónimo de estabilidade e quero acreditar que vai continuar a ser.
Imagino o desconforto do seu presidente, António Silva Campos, que não conheço pessoalmente, mas que me habituei  a admirar pelo trabalho e pelas referências sempre elogiosas que me foram chegando de diversos quadrantes da família do futebol.
A aposta no treinador Mário Silva parecia fazer todo o sentido, mas correu mal. Depois de um breve hiato na hierarquia técnica, o regresso de Miguel Cardoso igualmente parecia fazer todo o sentido, mas correu mal.  
O jogo com o Boavista, adornado com aquele gesto obsceno, parece ter traçado o destino do Rio Ave. Os limites da decência foram violados e faltou uma atitude firme para fora e, sobretudo, para dentro,  que deveria ter sido tomada em  defesa da honra e do bom nome do clube: das duas uma, ou o treinador  assumia o erro e pedia desculpas  públicas ou, pura e simplesmente, era dispensado, com base em óbvia justa causa.
O desenlace verificou-se a seguir à humilhante derrota em Arouca, a primeira de duas, transformando este play-off numa vergonha para a família vila-condense, mas  li em A BOLA, na edição de anteontem, que a saída promete ser litigiosa. Só faltava…