Pequim e os Jogos do gelo
Apenas com três representantes, Portugal não olha para os Jogos de Inverno. Porém, muitos e importante jogos se jogam nestes Jogos
HÁ catorze anos, no verão de 2008, Pequim recebia os seus primeiros Jogos Olímpicos. A China mostrava-se ao mundo como uma nação moderna e uma potência futurista. Eram os meus quartos Jogos Olímpicos e já tinha bem a noção de que a propalada pureza dos Jogos estava longe de ser uma realidade e que ao espírito olímpico, personificado pelos atletas de todo o mundo, se sobrepunha o poder político e económico e os jogos geoestratégicos das nações mais fortes e poderosas.
Obviamente, nada de significativo mudou nestes últimos catorze anos e por isso os Jogos Olímpicos de Inverno que ontem começaram em Pequim apenas confirmam a utilização do grande espetáculo desportivo no aproveitamento, sem qualquer pudor, dos jogos políticos internacionais.
O boicote diplomático anunciado pela maioria dos países ocidentais, com base em razões de defesa de direitos humanos que não estão a ser assegurados pelo governo de Pequim, está confrontado com uma participação ativa e significativa de muitos chefes de estado e primeiros-ministros, entre os quais, o mais importante, de Vladimir Putin, o presidente russo, mas também do príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e do presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sissi.
O presidente chinês, Xi Jinping, aproveitará a oportunidade para se reunir oficialmente com o presidente russo Vladimir Putin num encontro de duas superpotências que não deixarão de causar inquietação ao presidente americano Joe Biden e a toda a sua administração, sobretudo num momento particularmente sensível de séria ameaça de guerra às portas da Europa, continuando aberta a possibilidade da invasão russa da Ucrânia.
Parece pois estranho que neste quadro de intensa movimentação de estratégia e de alianças políticas, a base em que todos se movimentam tenha por origem o desporto e um dos seus maiores acontecimentos mundiais. Para todos aqueles que ainda veem o desporto de uma forma clássica, diria, mesmo, romântica, a evidência é, ao mesmo tempo, uma inquietação e uma desilusão. Porém, desde o século passado, os Jogos, a par de uma universal demonstração do espetáculo desportivo, têm afirmado cada vez mais a sua politização e a sua natureza de dependência dos mais diversos interesses internacionais, em particular o interesse económico.
Jogos Olímpicos de Inverno na China
Pode isto retirar todo o glamour do espetáculo desportivo e o mérito das atuações dos melhores atletas do mundo? Julgo, sinceramente, que não. Apesar de se constatar que sucessos e insucessos desportivos também contribuem, cada vez de forma mais marcante, para a satisfação ou insatisfação de objetivos políticos.
Por isso, a China, que não tem grande tradição de notoriedade nos Jogos de Inverno, perseguiu, desde há anos, uma política de grande massificação de desportos de neve e importou alguns dos melhores técnicos mundiais. Até agora, a melhor representação chinesa tinha sido um sétimo lugar em Vancouver, há doze anos, com um total de onze medalhas, mas agora, em Pequim, espera-se uma invasão de atletas chineses nos mais diversos pódios, provando, ao mundo, a competência do regime.
Apenas três atletas portuguesas representarão Portugal nestes Jogos. Dois em esqui alpino e um em esqui de fundo. Além deles, apenas estará presente António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, numa missão institucional que, certamente, não enriquecerá o seu vasto currículo.
Esta quase ausência de participação nacional causa desinteresse público pelos Jogos, mas é aconselhável não perder de vista estes perigosos Jogos do gelo.
RUI COSTA E O CAMINHO
A nação benfiquista está em estado de choque. De repente, deu-se conta de que o clube pode estar a caminho de uma longa travessia do deserto. Há, por isso, uma mobilização geral a pedir a intervenção rápida e corajosa de Rui Costa. Uma intervenção que leve à rotura do chamado vieirismo e que reencaminhe o Benfica para um projeto claro, consequente, prometedor. A alternativa é uma antes imprevista crise governativa que poderia levar a eleições antecipadas. Entretanto, Rui Costa diz que sabe qual é o caminho. Sabe?
SEGREGAR NUNCA É SOLUÇÃO
Há um perigo evidente na tendência generalizada de isolamento parlamentar do Chega. Parece-me um risco e uma segregação que acabará por beneficiar o segregado, além de desrespeitar centenas de milhares de eleitores que votaram no partido de Ventura. Além do mais, todos aqueles que defendem e, na minha perspetiva, bem, que se trata de um partido unipessoal, sem programa, nem coesão, entram em contradição consigo próprios quando, na prática, impedem que se exponha aos olhos de todos a frágil identidade desse partido.